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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 2 de dezembro de 2018

Adolescência, amizades e livros - 1ª PARTE

Por: António Orlando dos Santos 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Pretendo hoje entrar num assunto que me parece pouco consensual quando o abordo em conversas com os meus amigos de hoje, aqueles com quem passo mais tempo diariamente e as pessoas que sendo amigas e conhecidas não me acompanharam de perto na minha juventude. Posto de outra forma, gente que eu conheço desde sempre e que por diferença de idade, ocupação ou antagonismos de caracteres não seria sensato acompanhar.
Após haver terminado a instrução primária segui directamente para o trabalho, tinha eu nesse tempo dez anos e dez meses, o que era normal nesse tempo e mais, seria aceitável e era a previsão com margem de certeza de 80% de que, do ponto de vista cultural estagnaria ali e preocupar-me-ia com assimilar as técnicas inerentes ao meu ofício e tudo quanto fosse de ordem cultural não iria além do nível básico.
Mas entra aqui um elemento que pouca gente consideraria e que tinha a ver com as companhias que naturalmente eu escolhia ou entre os quais eu era aceite da forma mais natural do mundo.
Bragança foi desde a Baixa Idade Média , começos do Renascimento, cidade de Cultura! Com a vinda dos Jesuítas o ensino passou a ser um facto indesmentível e a partir de meados de oitocentos com a criação dos Liceus em todas as Capitais de Distrito, foi notório e é hoje possível investigar nos arquivos e pela memória das gentes, que nos garantem que a gente da cidade, por influência dos letrados desenvolveu uma capacidade crítica e fluência vocabular que os distinguia dos nativos de outros sítios de igual calibre e situados no interior profundo de Portugal. 
Sendo criança em idade escolar nos anos 50, tive a sorte de ter sido aluno de uma professora que com um punhado de outras mulheres de vocação foram as mais competentes de todas as que leccionaram no Ensino Primário Público durante o século XX.J á tive ocasião de o escrever noutras crónicas e mantenho o que escrevi sem lhe alterar uma vírgula!
Mas todo este arrazoado para quê? Para dar notícia de um certo modo de estar, meu e dos meus contemporâneos que sem que tivessem intenções de fazer carreira académica ou semelhante do modo mais natural do mundo foram colhendo o fruto de um persistente e salutar, aprendizado autodidacta. Gosto também do termo, peripatético pois foi desse modo que todos nós tivemos a oportunidade de ir ajustando o nosso conhecimento de uma certa corrente de cultura que nos foi útil através da vida e nos permitiu compartilhar com todas as classes sociais nos mais diversos ambientes, o nosso modo de ver o mundo e simultaneamente aprender com os que frequentaram os diversos degraus do ensino oficial, que nesse tempo estava reservado apenas aos que provinham de extracção mais desafogada financeiramente! Também devido ao aforro de algumas famílias menos numerosas e a garantia de um salário mensal certo, mais o fruto tangível de courelas herdadas em área de minifúndio foi possível a algumas famílias sem tradição académica mas cujos chefes, leia-se pais , viam a possibilidade de mandar os filhos para a cidade, estudarem para lhes garantir um futuro mais folgado nos serviços do Estado, Banca ou até nas empresas que começavam a ter algum peso económico e alargavam os quadros aos recém licenciados ou os lugares intermédios aos que se quedavam pelo quinto ano do Liceu ou o Curso Geral do Comércio.
Surgia também o tempo de conflito no Ultramar e abria-se assim a carreira militar a um número alargado de homens que seguiriam a carreira, particularmente para os que haviam conseguido finalizar o 7o ano dos Liceus. Atrevo-me a dizer que a maioria que ingressou na Academia Militar o fez por convicção de que o curso superior que teria que frequentar não seria fácil de concluir e na tropa era sabido que as aptidões físicas da maioria que normalmente era iniciada nos trabalhos agrícolas era um trunfo a considerar onde a capacidade de resistência era mais tida em conta que tudo aquilo que lhe era pedido além disso. 
Não pretendo dizer que eu acho que os oficiais formados na Academia tinham menos capacidade que os licenciados. Estive três anos na vida militar e encontrei oficiais bem formados e com visão das coisas civis mais clara que a de muitos manga-de-alpaca, bacharéis ou equiparados. Digo apenas que foi uma abertura que caiu do céu, ou antes, com os idos de Fevereiro na Luanda em 1961.
Pode argumentar-se que as outras classes , como a de sargentos e praças, até beneficiaram da situação e muito mais a classe dos chamados Milicianos. Não é este lugar indicado para fazer análises históricas ou mesmo sociais. Faço apenas referência à envolvente social, que naquele tempo fervilhava e se debatia entre o velho e o novo paradigma.


continua...




08/11/2018
A.O. dos Santos
(Bombadas)

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