quarta-feira, 25 de maio de 2022

D. Estefânia: exéquias em Bragança (1859)

A Rainha D. Estefânia (1837-1859), cujo casamento com D. Pedro V se realizara em 18 de maio de 1858, viria a morrer em 17 de julho de 1859. Esta trágica ocorrência levou a manifestações de pesar em todo o País, não deixando Bragança de participar no luto que atingira a Família Real e em particular o monarca, que, em carta de 25 de julho daquele ano, ao seu “querido tio”, príncipe Alberto de Saxe Coburgo e Gotha (1819-1861), escrevia que lutava “constantemente para compreender o pleno significado da minha enorme tragédia”.

D. Estefânia, Rainha de Portugal

Na sessão de 1 de agosto de 1859 da Câmara de Bragança532, devido “à infausta notícia” da morte da Rainha, foi deliberado enviar “uma representação sentimental” a D. Pedro V, e que se fizessem exéquias “que continuam a ter lugar por ocasião do falecimento dos Senhores Reis deste Reino”. Pedia-se “ao seu digno Presidente se encarregasse da direção delas, e que para se levarem a efeito se fizesse orçamento suplementar, e que depois de votado e aprovado pela Câmara conjuntamente com o Conselho Municipal se anunciasse a arrematação da essa”.
O orçamento suplementar para as exéquias da Rainha D. Estefânia foi de 350$000 réis.
Para comunicar a morte de D. Estefânia, foram colocados editais onde se anunciava a morte da Rainha e se decretava luto por seis meses (três meses de rigor e três meses aliviado), dando-se cumprimento ao decreto de 18 de julho de 1859. Cumpridos os preceitos habituais (toque do sino da Câmara durante três dias sucessivos, “com o intervalo do costume”, e tapadas as armas do Município em sinal de luto), as exéquias foram marcadas para o dia 7 de setembro. O local escolhido foi a Igreja de São Francisco, por se considerado o espaço “maior e mais majestoso”.


Segundo o relatório transcrito na ata da sessão de 15 de setembro de 1859, no dia 6 do referido mês, pelas doze horas, tocou o sino da Câmara “em estilo fúnebre”, seguido pelos sinos de todas as igrejas de Bragança. Em seguida principiou a salva de morteiros, “disparando os tiros de quarto em quarto de hora até conclusão das exéquias”. O toque dos sinos repetirá ao “romper da aurora” do dia 7. Neste dia, pelas nove horas da manhã, em frente dos Paços do Concelho, organizou-se um préstito, constituído por diversas personalidades, que, devidamente organizado, se dirigiu dos Paços do Concelho à Igreja de São Francisco.


Na Igreja de São Francisco, armada para a cerimónia, os membros que compunham o cortejo ocuparam os seus lugares, dando-se princípio às exéquias “em tom aparatoso segundo o Rito Romano, que se observou à risca”. O ritual foi dirigido pelo beneficiado da Sé de Bragança, João Evangelista Vergueiro, sendo o ofício entoado por vários sacerdotes – clérigos de ordens sacras e minoristas – e a missa celebrada pelo cónego João José Martins, que faria parte, em 1860, da comissão nomeada para governar a Diocese, sendo acólitos o beneficiado da Sé, Francisco António Martins, e o perfeito do Seminário de São José, padre Manuel Pires. Seguindo o relato, a função teve ainda, para maior grandeza do “ato fúnebre”, um acompanhamento musical dirigido pelos beneficiários da Sé, o mestre da capela e organista, o cónego António da Cruz e Sousa e padre Domingos António de Sá Ferreira, professor de cantochão.

Excerto da ata da Câmara Municipal de Bragança, a deliberar a publicitação da “infausta notícia” da morte de D. Estefânia

Concluída a missa, foi “recitada” a oração fúnebre pelo chantre da Sé, Dr. José Luís Alves Feijó, que, tomando por tema Ezequiel (7-27) – O Rei estará de luto, o príncipe se cobrirá de desolação, as mãos do povo da terra tremerão de pavor –, recordou as virtudes da Rainha “finada”, a sua religiosidade e piedade. Terminada a oração fúnebre, seguiram-se as absolvições oficiadas pelo deão João António Correia de Castro Sepúlveda (1796-1876), pelos cónegos José Joaquim de Morais e Manuel Caetano Barreira, e pelo beneficiário da Sé, Claudino Augusto César Pissarro. Concluíram-se as exéquias com três descargas de fuzilaria dadas pela guarda de honra, e no intervalo das descargas, os músicos dos dois corpos que a constituíam tocaram peças fúnebres “acomodadas às circunstâncias”.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

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