“Eles são tantos que as pessoas já têm medo de sair à rua.” O desabafo, ouvido num café da aldeia do Parâmio, em pleno coração do Parque Natural de Montesinho, esta semana, a propósito de um fenómeno que este ano cresceu exponencialmente.
Dezenas de cidadãos de Leste, maioritariamente oriundos da Bulgária, têm invadido os soutos dos concelhos de Bragança e Vinhais para fazer aquilo que as populações tinham como uma tradição ancestral, a apanha do rebusco. “Nunca se viu nada assim. Já cheguei a contar 70 só numa manhã”, contou ao Mensageiro Humberto, um pastor da aldeia do Zeive. “Já escorracei cinco só hoje. É que há dois anos, quando os comecei a ver por aí, não me importei. No ano passado, também não. Mas não me ficou uma castanha”, explica.
Tradição surgiu para ajudar os mais pobres
“Em tempos, nas aldeias desta região, quando todos acabavam de apanhar as castanhas, as famílias mais ricas permitiam que as mais pobres fossem dar uma volta pelos soutos e apanhar as castanhas que tinham ficado ou que caíram mais tarde. Nunca era muita quantidade e era uma forma de permitir algum alimento aos mais pobres. Também havia quem usasse o rebusco para alimentar os animais ou para cebar os porcos antes da matança”, explicou ao Mensageiro Nuno Diz, presidente da Junta de Freguesia do Parâmio, uma das mais visitadas pelas famílias búlgaras, que se deslocam de Macedo de Cavaleiros ou mesmo de Vila Nova de Foz Côa.
O problema é que este ano a campanha atrasou-se várias semanas e, em dezembro, ainda são vários os produtores que não acabaram de apanhar as suas castanhas. “Levam tudo a eito e não respeitam ninguém”, contava Elisabete Castro, a proprietária do café no Parâmio, onde se vão desfiando as críticas à situação. A GNR tem sido chamada a intervir todos os dias e tem identificado vários indivíduos.
No entanto, só pode agir mediante a apresentação de queixa formal dos proprietários dos soutos que se sintam lesados. De acordo com os dados daquela força de segurança, até 18 de dezembro registaram-se nove ocorrências relacionadas com furtos de castanhas, cinco no concelho de Bragança e quatro no de Vinhais. Em resposta escrita enviada ao Mensageiro, a GNR salienta “que em todas as ocorrências de furto de castanhas em terrenos agrícolas, de que a GNR teve conhecimento, resultaram pessoas detidas ou identificadas”.
“Neste âmbito, e como resultado das diligências efetuadas pela GNR, foram detidos três indivíduos e identificados 35, sendo apreendidos mais de 200 quilos de castanhas e duas viaturas. Desde o dia 29 de outubro que a GNR, em todo o território nacional, está a realizar a segunda fase da operação “Campo Seguro”, a qual se prolongará até ao dia 31 de janeiro de 2019, intensificando o patrulhamento em áreas florestais e explorações agrícolas, com o objetivo de prevenir a criminalidade em geral e os furtos, nomeadamente, o furto de castanha e metais não preciosos em particular, prestando especial atenção a possíveis situações de tráfico de seres humanos”, diz a GNR.
“Em complemento desta operação, o Comando Territorial de Bragança desenvolveu a operação denominada por “Campanha da Castanha 2018”, direcionada especificamente para a prevenção deste tipo de ilícito”, conclui-se. Certo é que “eles não têm vergonha nenhuma”, diz o povo. “São muito, parece uma invasão. Não respeitam ninguém. Se algum proprietário diz que não autoriza que apanhem o rebusco nos seus castanheiros, não fazem caso e ainda o insultam”, conta Elisabete Castro.
António G. Rodrigues
in:mdb.pt
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