sábado, 1 de dezembro de 2018

Misericórdia de Mogadouro acompanha cada vez mais casos de demência

Num ano o Projecto de Apoio Domiciliário à Demência duplicou número de doentes que se propôs cuidar. Há mais de 90 novos doentes sinalizados.
Rui Gaudêncio

Um relatório do Projecto de Apoio Domiciliário à Demência (PADD), da responsabilidade da Misericórdia de Mogadouro, revela que em um ano viu duplicar o número de doentes que se propôs a cuidar.

Para a neurologista Purificação Ortiz, com o aumento da esperança média de vida do ser humano os casos de demência também vão aumentando. "Um dos maiores desafios é cuidar deste tipo de doentes quando a patologia se encontra em fase já mais avançada. Esta situação coloca à prova os conhecimentos dos cuidadores com este tipo de doentes a seu cargo", vincou a médica especialista.

Quando há suspeitas da existência de sintomas da doença, como a perda de memória, desorientação ou confusão com as coisas simples do dia, essas pessoas são encaminhadas para esta equipa, que percorre um concelho com 756 quilómetros quadrados e uma população bastante envelhecida.

O PADD envolve as cerca de seis dezenas de utentes que são apoiados por uma equipa multidisciplinar de profissionais de saúde e que vão desde a neurologia, passando pela psicologia clínica ou a enfermagem, entre outros.

Segundo os dados fornecidos no relatório, o PADD tem mais 91 novos doentes sinalizados, aos quais se juntam mais 76 pessoas que são já acompanhadas pela equipa por apresentarem alguns sinais característicos da demência.

A psicóloga clínica Tânia Silva, que integra este projecto, disse que, com o aparecimento da equipa e com as acções de sensibilização que têm sido feitas em todo o concelho, as pessoas mostram-se mais atentas para os sintomas da doença.

"As pessoas, como estão mais informadas, têm a tendência em nos informar com mais antecedência ou a falar do assunto com os médicos de família. Estas atitudes fazem com que os cuidadores tenham acesso mais rápido aos cuidados especializados" enfatizou a técnica.

Esta equipa, que está no terreno há pouco mais de um ano, tem sinalizado mais doentes portadores de demência devido às acções de sensibilização que realizam.

"Esta situação é por nós notada com o passar dos meses, em que vemos uma população muito isolada, não só pelas distâncias, mas igualmente por estarem sós", observou.

Tânia Silva garante que, com a presença no terreno desta equipa multidisciplinar, os idosos não estão isolados, havendo uma sensação de segurança por parte desta faixa etária.

"Não somos um serviço de urgência. Porém, somos muitas vezes solicitados para atender a situações de crise provocadas pela demência", frisou.

A demência é caracterizada por uma perda progressiva e irreversível das funções intelectuais, como alteração de memória, raciocínio e linguagem e perda da capacidade de realizar movimentos e de reconhecer ou identificar objectos.

Segundo os especialistas, a doença ocorre com maior frequência a partir dos 65 anos e é uma das principais causas de incapacidade em idosos.

"O projecto tem a grande finalidade de atrasar o avançar da doença, através de um diagnóstico precoce que permita uma actuação atempada, diminuindo a evolução da doença, permitindo uma melhoria na qualidade de vida aos doentes e dos seus cuidadores adiantado a sua institucionalização", frisou o provedor da Misericórdia de Mogadouro, João Henriques.

O responsável destacou ainda o número de quilómetros percorridos em todo o concelho pela equipa do PADD, que ultrapassa os 14 mil, o que, em seu entender, se pode traduzir numa poupança de recursos, já que os doentes não têm de se deslocar aos hospitais centrais ou regionais para obter ajuda especializada nesta doença.

O Apoio Domiciliário à Demência tem ainda mais um ano pela frente, sendo investidos no projecto cerca de 140 mil euros provenientes do Programa Operacional de Inclusão Social e mais 60 mil euros do município de Mogadouro.

Agência Lusa

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