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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

A propósito da nova fase do Flórida – 2ª PARTE

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

...continuação


De fins de 68 até meados de 70 fui pasteleiro no Flórida.
Em Agosto fui para a tropa e estive lá três anos. Este período é o período em que se acentua o declínio do Flórida. A razão desconheço-a pois estava na tropa. Fazendo um raciocínio lógico não se podem excluir razões sócio-políticas devidas ao desinvestimento do Governo Central nesse período em que a Guerra do Ultramar estava no seu auge e os recursos eram para aí canalizados. Outra razão a ter em conta era a da juventude estar maioritariamente nas fileiras e por último, o Cruzeiro se haver tornado no principal concorrente do Flórida.
O que parecia um bom investimento foi peça fundamental para a descapitalização da firma. A compra, obras e recheio do Cruzeiro e a falta de retorno de caixa complicaram a situação e a tentativa de salvar o Cruzeiro, levou ao fecho do Flórida como Café e foram colocadas máquinas tipo casino no piso do Café. A cozinha fechou e foi-se aguentando a situação até um ponto difícil de ultrapassar airosamente. 
O que acabo de escrever não foi, com certeza, assim tão linear. Como compreenderão a firma tinha recursos abundantes num período não muito distante e o Álvaro era um homem inteligente e bem relacionado. 
Passemos adiante, com o Flórida fechado totalmente, as pessoas lamentavam o facto e era como se houvéssemos perdido uma das jóias da coroa.
A cronologia neste ponto pode não ser absolutamente exacta, nem eu pretendo fazer aqui um relatório minucioso dos acontecimentos, pois em Agosto de 71 casei-me e o copo-de-água foi servido no salão de jogos e ainda havia capacidade hoteleira para fazer um banquete bem confeccionado e com dignidade.
O que eu consigo lembrar é que o Manuel Teixeira saiu para o Restaurante 4 como sócio, e mesmo o Cruzeiro foi perdendo capacidade operativa por falta de “Staff” qualificado, coisa que era imagem cunhada no conceito da clientela.
Não será oportuno falar de mim neste apontamento, mas em Abril de 81 apareço eu para, cheio de espírito de missão tomar em mãos o Mítico Café Flórida e fazê-lo ressurgir da letargia.
Entre Agosto de 81 e Março de 86 estive física e mentalmente ligado ao Flórida, haviam passado sete anos sobre o 25 de Abril e havia uma inquietude misturada com desejo de viver que fez de novo o Flórida ser aquilo para que o Álvaro o havia imaginado. Trabalhámos muito, fizemos coisas bonitas, fizemos amizades e garantimos continuidade às que já possuíamos e estou convicto prestámos um bom serviço à cidade. Recuperámos o Café Flórida retirando-o da morte anunciada e conseguimos passá-lo a quem o teve a trabalhar e aberto por 30 anos ininterruptamente, o meu amigo Senhor Manuel Louçano.
A vida nem sempre nos dá aquilo de que nos achamos merecedores. Nós e também o Senhor Manuel, certamente tivemos maus momentos naquela casa, mas tivemo-los também bons sendo os melhores aqueles em que sentimos que tínhamos servido os clientes e eles ficaram satisfeitos e passaram a palavra.
Após o Senhor Louçano ter passado a casa aos proprietários que a geriram até à passada semana, o Flórida descaracterizou-se. 
Sem ousar questionar os objectivos traçados que desconheço, parece- me que esteve o sapateiro a tentar tocar rabecão. Fica a metáfora pois é patente que o público não foi bem servido, a cidade teve uma das suas salas de visitas a funcionar sem acerto e o “Staff” nem sempre soube ter a deligência e lucidez de estar atento às pessoas, que são sempre mais importantes do que os falsos paradigmas da teoria concebida nas Academias para a gestão de Restaurantes, Cafés e Bares nos quais a limpeza do chão é importante, mas, digo eu, menos do que o cliente que espera para ser servido e vê a azáfama do “Staff" dirigida para os ladrilhos do chão ou para a loiça abandonada numa qualquer mesa e ele continuar esperando até haver resolvido levantar-se e sair.
Também não me parece que um destes estabelecimentos ditos de Hotelaria seja no seu todo ou em parte semelhante a um escritório, uma loja de flores ou coisa que se abre às nove e se fecha às cinco. A energia que se consome à noite pode ser compensada com a frequência que os clientes vão a determinado local sabendo que está aberto para o servir a troco de pagamento adequado e sensato.
Chegado aqui, resta-me ser optimista e acreditar que as pessoas que agora têm a missão de gerirem o Flórida usem toda a sensatez e sageza apropriadas ao desempenho de uma missão nobre num Café de referência no centro da cidade de Bragança. 
Que Deus lhe dê saúde, força, alegria e gentileza para tal missão.
Teremos assim os naturais, forasteiros e outros visitantes a saírem contentes do Café Flórida e de Bragança.

Desejo-o do fundo do meu coração.





Bragança 09/01/2019
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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