Associações do mundo lusófono, professores e figuras de relevo da comunidade portuguesa em França preparam-se para lançar uma campanha nacional para promover a aprendizagem da língua portuguesa e, assim, contrariar os preconceitos contra a língua de Camões.
"A língua portuguesa sofre de uma péssima imagem junto dos franceses, e um dos eixos da campanha que vamos promover é mudar essa imagem e fazer do português uma língua atrativa também para os franceses. O português ainda é visto como uma língua de imigração (para os franceses) e não tem o prestígio de uma língua estrangeira como, por exemplo, o chinês", afirmou Anna Martins, presidente da associação Cap Magellan, em declarações à agência Lusa.
A Cap Magellan coordenou este fim de semana na Maison du Portugal, na Cidade Internacional Universitária de Paris, a segunda edição dos Estados Gerais da Lusodescedência. Esta iniciativa reuniu mais de 120 pessoas entre portugueses, cabo-verdianos, brasileiros e angolanos para encontrar estratégias de promoção do ensino do português em França e lançar uma campanha nacional para incentivar a aprendizagem desta língua.
Apesar da língua portuguesa ainda ser considerada como uma língua de imigração, a perceção tem vindo a mudar nos últimos anos. "Do ponto de vista político até nem houve grande evolução, mas nas mentalidades francesas vi as coisas a mudarem aos poucos e tenho visto ainda mais nos últimos anos com o acréscimo do turismo francês em Portugal", afirmou Paul Branquinho, professor de português na escola básica e no liceu de l'Ivroise, em Brest.
Se, por um lado, este professor tem mais alunos luso-descendentes ou do mundo lusófono até ao 9º ano, esta mudança de atitude em relação ao português já é mais visível no liceu. "É nesse público que observamos os efeitos da divulgação da cultura lusófona através de manifestações como o desporto, da canção - e aqui também falo de canções brasileiras que fazem sucesso em França - e ainda com o facto de o português ser uma instituição no nosso estabelecimento", acrescentou Paul Branquinho.
Segundo este professor, falta agora ao português "um lóbi organizado" para promover o seu ensino, contando que na sua região há já "uma estratégia de propaganda" que tem funcionado com a promoção de viagens de estudo anuais a Portugal e da divulgação da cultura portuguesa.
João Gil, coordenador da iniciativa Portugal Maior que vai realizar um inventário dos músicos profissionais portugueses e dos grupos musicais com atividade regular no estrangeiro junto das comunidades portuguesas, esteve presente neste encontro em Paris e considera que a articulação entre Portugal e as associações é a chave do sucesso da língua portuguesa.
"Estamos em contacto, articulando tudo o que é organismo público e não público de forma a comunicar a nossa identidade portuguesa, seja através da língua, seja através da música e até como já acontece com o futebol. Claro que a música é um fator de união brutal e vamos aproveitá-la para darmos um passo em frente no enorme divórcio que tem acontecido entre as partes que compõem Portugal", afirmou o músico.
Este encontro em Paris serviu também para traçar um plano de ação que deverá estar implementado em setembro de 2019, a tempo do regresso às aulas. Desde aprender a como abrir uma turma de português, discutiu-se também como comunicar a campanha do ensino desta língua, definiu-se um calendário e pensou-se como financiar uma campanha desta amplitude, sendo que uma das ideias possíveis será recorrer ao 'crowd funding', muito utilizado por diversas iniciativas cívicas em França.
Agência Lusa
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