Nesse sentido, foi criado, o ano passado, um grupo operacional constituído pela APPITAD – Associação dos Produtores em Proteção Integrada de Trás-Os-Montes e Alto Douro – a UTAD, o IPB e outros parceiros que está a trabalhar no sentido de elaborar uma manual de boas práticas em olivais de sequeiro, predominante nesta região transmontana.
Ontem, foram avançados alguns dos resultados do primeiro ano de investigações, durante um seminário no âmbito da programação do Festival de Sabores do Azeite Novo que decorre em Mirandela.
Hoje em dia parece não haver qualquer dúvida que os tempos estão a mudar e as alterações climáticas estão visíveis até na olivicultura, diz Francisco Pavão, o presidente da APPITAD:
“Estamos a 29 de janeiro e as primeiras geadas começaram no início do mês. Tivemos um mês de novembro bastante quente e, logo ai, já notamos que o frio vem muito mais tarde e há muita pouca água.
Isto tem vindo a mudar e os agricultores cada vez mais antecipam a colheria, temos maturações mais precoces e isso tem muito a ver com as alterações climáticas, é claramente notório. Basta correr aqui a região e ver que em alguns sítios onde há 50 anos só haviam castanheiros há agora oliveiras.”
Perante esta realidade, a APPITAD decidiu reunir um conjunto de parceiros com o intuito de criar um grupo operacional para conseguir encontrar formas de ultrapassar os problemas causados pelas alterações climáticas, para que seja salvaguardada a produção e a qualidade do azeite:
“A APPITAD congregou as necessidades dos seus sócios e procurou parceiros, neste caso a UTAD e o IPB, e juntamente com os centros de gestão do Vale do Tua e com o Vimiosense, desenvolvemos este trabalho de modo a conseguir apoiar os olivicultores desta região nos efeitos das alterações climáticas que são uma realidade neste território e, como tal, temos de estar atentos e encontrar formas para mitigar esses efeitos sob a produção e a qualidade do azeite. No fim, iremos lançar um manual de boas práticas do olival de sequeiro, fazendo várias sessões de apresentação e sensibilização dos agricultores para esta região.”
Depois de um ano de trabalho, o grupo operacional está focado na gestão do solo e na recomendação de podas e produtos mais ajustadas à realidade atual, como avança Manuel Ângelo Rodrigues, do Centro de Investigação de Montanha do IPB:
“Estamos com o problema de ter pouca chuva no verão, o que significa que, em teoria, em vez de melhorar a performance, vamos perder produtividade. Isso significa que temos de ser cada vez mais eficientes no que fazemos no olival de sequeiro, e se não for para ganhar, que seja, pelo menos, para não perder competitividade e produtividade.
Estamos a centrar o nosso foco na gestão do solo, utilizando novos produtos, os condicionadores, aplicando técnicas corretas de mobilização e fertilização tradicionais, recomendando podas ajustadas à realidade atual e utilizando produtos mais ajustados. Ou seja, estamos a tentar olhar para o olival de sequeiro e conseguir um pacote de recomendações cuja eficácia esteja já cientificamente provada, para que os agricultores as possam aplicar, tirando dai as mais-valias transformadas em produtividade, em azeite e qualidade.”
E este é um trabalho que merece rasgados elogios da Diretora Regional de Agricultura e Pescas do Norte, Carla Alves:
“É bom vermos o conhecimento de quem trabalhou a ser transferido para os produtores, para que eles possam fazer face a estas questões que todos os dias nos são colocadas e que têm a ver com as alterações climáticas.
Estou certa de que isto trará melhores resultados para a produção porque certamente que vão beber o conhecimento que precisam para a sua atividade.”
Este pacote de recomendações para as boas práticas em olival de sequeiro, por forma a mitigar o impacto das alterações climáticas, deve estar pronto em 2021.
INFORMAÇÃO CIR (Terra Quente FM)
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