quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Notícias de Bragança – da Monarquia à República

Depois de A Pátria Nova, o jornal com mais anos de publicação no período da Primeira República foi o Notícias de Bragança.

Primeira página do Notícias de Bragança, edição de 6.8.1914

Este jornal apresentou-se, desde o seu início em 1912 e até à sua extinção em 1917, como órgão do Partido Democrático, após a divisão do Partido Republicano em três partidos, o Partido Democrático de Afonso Costa, o Partido Evolucionista de António José de Almeida, e o Partido Unionista de Brito Camacho.
Como proprietário e diretor, aparece sempre o nome de Alberto Charula, que já fora diretor do Distrito de Bragança, no tempo da Monarquia, e pertencera ao Partido Regenerador. Como administrador e editor, surge, até 1913, o nome de Carlos Lima e Almeida. A partir de 1914, este é substituído por Francisco António Nogueiro.
A impressão é feita, primeiro, na Tipografia Adriano Rodrigues, e depois na Tipografia Minerva de António de Melo, por sinal, ambas situadas na mesma Rua Direita, o que deixa perceber que a primeira terá mudado de proprietário.
De referir que Francisco Manuel Alves, Abade de Baçal, foi um dos seus colaboradores, com textos da mais diversa natureza histórica.
Analisando os diversos temas tratados nos artigos de fundo da primeira página do Notícias de Bragança podemos concluir que não possui a riqueza e a profundidade de pensamento (não se fala em ortodoxia, de maneira alguma), nem a variedade de colaboradores e de temas que são patentes em A Pátria Nova. Trata-se de um jornal muito mais restrito em termos ideológicos, muito mais preocupado com a carreira política do seu diretor do que com quaisquer outros valores ou interesses.
De facto, lendo o Notícias de Bragança, depressa chegamos à conclusão de que, por mais variados que sejam os temas, visam sempre o mesmo objetivo: defender os pontos de vista do Partido Democrático e, através destes, os interesses de Alberto Charula e dos seus correligionários e amigos, tanto a nível nacional como a nível distrital.
Neste particular capítulo, não deixa de ser curioso o facto de o jornal republicano de Alberto Charula escolher como alvo dos seus ataques outros republicanos que já o eram no tempo da Monarquia, quando Alberto Charula ainda era diretor de um jornal que defendia o Partido Regenerador, ou, melhor dizendo, os seus próprios interesses contra outro correligionário do mesmo partido, Abílio Beça.
Por isso, não é inédita a atitude deste jornal atacar não só os adversários externos, como também os adversários do mesmo credo político. É o que acontece com João de Freitas, fundador de A Pátria Nova, em 1908. Quando o velho Partido Republicano se cindiu em três, em 1911-1912, João de Freitas não alinhou com o partido de Afonso Costa, o partido mais à esquerda dos três partidos republicanos. Com ele alinhou, no entanto, o antigo regenerador da Monarquia.
Na edição de 17 de abril de 1913, os nomes mais importantes da luta republicana contra a Monarquia são alvo dos ataques do jornal de Alberto Charula, ao mesmo tempo que os seus amigos eram defendidos até à exaustão. Mesmo quando são publicados outros textos, pode-se perceber claramente nas entrelinhas a defesa dos pontos de vista de Afonso Costa, como acontece em relação à participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), tema que é tratado em várias edições.

Exemplos de notícias do Notícias de Bragança

Entretanto, António José de Almeida, líder de um partido republicano concorrente, é ridicularizado, mesmo que o pretexto seja um comício seu realizado em Viseu, como se pode ver nesta transcrição de uma citação que o Notícias de Bragança fez de um jornal de Viseu: “A certa altura o conferente disse que era necessário derrubar este Governo, que conservava a Nação na anarquia e na desordem. Então, a maioria da assembleia pateou o fortemente, secundada pelos que não conseguiram entrar. Terminou em banzé a conferência, e à porta, quando o sr. dr. António José de Almeida e a sua comitiva subiam para os automóveis, foram estes cercados por enorme multidão que atroava os ares com vivas ao dr. Afonso Costa, à República, à Pátria e à lei da Separação.”
Em termos informativos, podemos dizer que os critérios do Notícias de Bragança afinam pelo mesmo diapasão de todos os outros da época.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade 
Coordenação: Fernando de Sousa

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