Um cravo vermelho é o símbolo do dia 25 de Abril, data da instauração da democracia após o consulado autoritário e repressivo do regime corporizado na figura de Salazar, o discípulo Caetano não passou de uma caixa de Bric-a-Brac sem coragem para desmantelar o estado policial, esquecendo os ventos da História respeitantes ao colonialismo acabando no exílio no Brasil.
As florações estão no pleno, do simbólico cravo vermelho (os censores mandavam grafar encarnado), ao cravo roxo cantado por Zeca Afonso (também cantou um nosso conterrâneo por razões revolucionárias o Padre Alípio, e outro devido a atitudes denunciantes), pelo meio recordo o amores-perfeitos existentes nos canteiros dos Jardins António José de Almeida e da Avenida João da Cruz, vítimas da galanteria dos namorados ali a passearem lentamente ensimesmados em sonhos ciciados a maior parte deles perdidos ao ritmo dos anos lectivos e das chamadas para a guerra colonial.
As florações pascais salientavam as trémulas e humildes violetas tão enquadradas na semana da Paixão a par das pascoelas que pululavam nas veredas e nos terrenos do estaleiro das Obras Públicas acarinhadas pelo prestável Xaico (Francisco), já as árvores brotavam e brotam exuberantes, viçosas e eclatantes as abastecedoras das abelhas e vespas as quais soltam sons inspiradores de poetas e compositores, os pássaros mais prosaicos preferem banquetearem-se engolindo os insanos insectos ao arrepio das notas musicais do esplendoroso Olivier Messiaen compositor do sagrado dando particular atenção às aves da predilecção de S, Francisco de Assis.
A Bragança de há cinquenta anos não possuía jardins, renques, alegretes e florões como agora, diminuta e circular no espaço e em população, as casas de maiores recursos e dotas de quintais pequenos afloramentos sem recurso a jardineiros (um denodado futebolista do Desportivo usava esse apelido acabando por se radicar na cidade) cuidavam das camélias, das tulipas, dos cravos brancos, das rosas e demais espécies de estirpe fidalga…, as não nobilitadas sardinheiras mostravam-se orgulhosas de si mesmas em latos, panelões velhos e cacharos despidos de utilidade prática nos vãos e parapeitos das janelas de vidraças rachadas como acontecia numa casa da rua Santo Condestável, noutras na Costa Grande e Costa Pequena, Rua da Amargura, travessa da Estacada, Alto do Sapato (a rapaziada nova sabem onde ficam estas ruas e a sua nomenclatura toponímica?) são exemplo disso mesmo, nos interstícios dos paralelos e seixos rolados despontavam flores de múltiplas cores emprestando um cromatismo a vários pontos da velha urbe capaz de seduzir (e seduziu) pintores de obra de várias e esfusiantes tonalidades. Quais? Rebusquem no Museu Abade de Baçal, no Soares dos Reis, no Grão Vasco, na Casa Museu Abel Salazar só para citar os das redondezas.
As rememorações são perigosas em virtude dos esquecimentos, ainda há dias regalei os olhos passando-os por cima de quadros de Sorolla, apesar da benesse, confesso quão bem me faz admirar as flores esquálidas ou carnudas, vivas, sempre a renascer no terrunho natal. E, Bragança florida é ainda mais admirável, o Baudelaire se vivesse e passasse por Bragança escreveria as Flores do Bem.
Armando Fernandes
in:mdb.pt
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