Capela de S. Sebastião em Bragança |
O primeiro e último destes quatro pontos parecem-nos especialmente elucidativos e podem ser complementados com os efeitos de certas práticas profissionais. Como exemplo, podemos nomear Pedro Videira, mestre ferrador que exercia o ofício em plena Rua da Amargura, uma vez que a sua recusa em “tirar o banco que tem no fundo da rua”, responsável pelo embaraço do trânsito de gente, obrigou-o a desembolsar 6 000 réis para pagamento de uma multa. Sem preocupações de sermos exaustivos, pretendemos afirmar que um simples percurso urbano podia apresentar dificuldades de vária ordem a quem transitava a pé ou a cavalo. Contudo, na maioria dos arruamentos, o desconforto seria muito maior em dias de chuva, pois os pavimentos de terra batida rapidamente se transformavam em grandes lodaçais. Note-se, no entanto, que um ambiente tão cáustico não coloca Bragança no rol das singularidades urbanas, uma vez que o retrato traduz integralmente o quadro urbano nacional, sem exclusão dos centros em que os requintes e modismos de importação primeiro seduziam os salões e afetavam as atitudes.
Cemitério do Toural em Bragança |
Assim se desenhou uma nova referência espacial que se associava a uma poderosa mudança de mentalidades, visto que os enterros deixariam de se fazer nas igrejas e nos seus adros. Há poucos anos, no âmbito do programa Polis, quando os arruamentos situados no casco antigo da Cidade sofreram uma intervenção profunda, causou grande admiração o aparecimento de ossadas humanas sob o pavimento do trânsito, junto das igrejas. Gerações sucessivas habituaram-se a ver essas igrejas sem adro e por isso nunca refletiram sobre a importância do sagrado e da relação com a morte, usualmente preparada com antecedência, que, sucessivamente, levou muitos dos nossos antepassados a fazerem-se sepultar junto dos santos a que votavam mais devoção. Por isso, terá interesse deixarmos uma nota relativa à existência do adro da Igreja da Misericórdia, um espaço que iria desaparecer em resultado do processo de regularização das ruas da Cidade.
Seria em novembro de 1867, na sequência da reconstrução da calçada da Rua de Santa Clara, que se iriam perfilar certos desentendimentos entre a Câmara e a Santa Casa da Misericórdia, essencialmente por causa do adro da Igreja.
Igreja da Misericórdia em Bragança |
Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa
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