domingo, 26 de maio de 2019

O Regimento de Caçadores Pára- quedistas, Sub-unidade B.C.P. 111, 1ª Companhia de Caçadores Pára -quedistas.

Por: António Orlando dos Santos 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
23 de Maio de 1972 dia da Unidade e os preparativos para a festa comemorativa que era levada muito a sério, quanto a garbo e capacidade demonstrativa , Nas várias vertentes que sendo executadas a preceito por tropas de elite e entusiasmavam as pessoas que assistiam às comemorações ao ponto de haver uma disputa salutar entre as várias sub-unidades.

Questão de honra que era levada em conta pelos oficiais, Sargentos e Praças e tinha subjacente uma cultura castrense potenciada pela necessidade de os modernos soldados de elite estarem sempre preparados física e mentalmente para ocuparem o teatro de guerra prontamente e em qualquer que fosse a hora ou o motivo para que fossem convocados.
Foi assim que no dia 22/05/1972, logo que soou o toque de ordem o placard que servia de escaparate às folhas onde estava impressa a Ordem de Serviço, foi literalmente invadido por todos os que haviam sido convocados para participarem nas várias cerimónia e actividades físicas, ou de destreza que serviriam de entretenimento durante o dia seguinte no R C P para garantir que o comando das Tropas Pára-quedistas mandava celebrar a data da fundação da Casa-Mãe que ocupara o espaço e edifícios do antigo Batalhão de Ponteneiros da Escola Prática de Engenharia. 
O motivo desta aglomeração era saber quem no dia seguinte seria ator e não mero espectador na peça que se representaria no palco afamado do que já se designava por Regimento de Caçadores Pára-quedistas. 
A aparição pública das Tropas Pára-quedistas fez-se em 14/08/1955, dia da Infantaria, e tendo como Comandante o Capitão Martins Videira que recebeu o Guião da Unidade das mãos do General Craveiro Lopes. Logo em Janeiro de 1956, passaram de armas e bagagens para Tancos, tendo o Sub-Secretário de Estado da Aeronáutica, Kaulza de Arriaga, inaugurado oficialmente o Batalhão de Caçadores Pára-quedistas em 23 de Maio desse mesmo ano.
Este dia foi seleccionado entre outros de grata memória para a Pátria, por haver sido o dia em que em 1179 o Papa Alexandre III mandou publicar a bula Manifestis Probatum, que pela primeira vez reconheceu o direito a Portugal de ser chamado Reino.
É com este documento que nasce a Nação Portuguesa e é concedido a D.Afonso Henriques o título de Rex portugalensium Escolha Feliz , a desta data, pois as tropas da Boina Verde nasceram para servirem e honrarem a Pátria (o Pára-quedista não sendo diferente nem mais militar do que os outros será sempre o melhor soldado da Pátria). 
Eu nesse dia e por ter outros afazeres mais prementes, pois para além do serviço da guarda ao Regimento que nos estava cometido e desempenhávamos conjuntamente com a C.R. que tinha como actividade principal a utilização de cães de guerra e que com a 1ª de Caçadores formava o Batalhão 11, eu tinha que desempenhar a função de Cabo da Secção de Fardamento da Companhia. Não dei muita importância ao toque de Ordem nem pus empenho em ler a Ordem de Serviço. Vindo da Secretaria do Comando onde havia actualizado algumas fichas de dotação nas cadernetas de alguns elementos, repetidas vezes fui avisado por camaradas que se cruzaram comigo de que andava um 1º Sargento procurando por mim. 
Chegado ao edifício da Companhia sou abordado por um 1º Sargento que me perguntou se eu havia lido a Ordem de Serviço. Perante a minha negativa disse-me que ele me informaria em pormenor do seu conteúdo e das ordens que me competia executar para que o normal funcionamento dos Serviços e Instrução fosse cabalmente desempenhado.
Disse-me que eu fora nomeado para no dia seguinte cumprir serviço como 1º Cabo da Guarda ao Regimento e me era atribuída a tarefa de requisitar no Depósito Regimental de Fardamento, todos os arreios e outros elementos, tais como lenços de pescoço, bandoleiras e cinturões brancos, atacadores também brancos, bandeiras e guiões para as FBP e toda uma parafernália de outros elementos que os homens da Guarda e o Oficial de dia ao Regimento e ele próprio, o Sargento, usariam como elementos de gala no uniforme quando em parada festiva ou desfile no exterior. Fiquei surpreendido mas acatei a informação como uma ordem e preparei-me imediatamente para tratar do assunto. Era para isso que ali me encontrava.
Após esta introdução o 1º Sargento Rodrigues, assim se chamava, fez-me de chofre uma pergunta:- Tu és de Bragança? Surpreendido balbuciei, sim, sou. - Eu também, ripostou. Fiquei sem resposta até que nova pergunta me foi dirigida. - Da cidade, mesmo? - Sim, da Sé mais propriamente da Caleja do Forte.- Assobiou como que surpreendido e perguntou se eu o conhecia, tendo eu respondido que o conhecia do Regimento como 1º Sargento mas não de outra forma.
Disse-me que morava junto da Cerâmica do Domingos Lopes e aí eu passando revista às memórias das idas para a Horta do Procópio que o meu pai alugara quando eu era miúdo,disse-lhe: -Aí mora o Joaquim de Aquino conhecido pelo chamiço de Água e Luz. - Ele é meu irmão.
Congratulei-me manifestando a grande amizade que me unia ao Joaquim que havia trabalhado no Tem-tudo e era nesse tempo Cobrador da Câmara na Secção de Águas e Electricidade, daí o chamiço. Voltou o 1o Sargento aos enigmas: - Aviso-te de que deves caprichar pois amanhã para além da responsabilidade normal temos eu e tu, outra acrescida e que é imperativo que os dois consigamos realizar sem falhas e com alto sentido de missão. Amanhã, dia da Unidade, a guarda será da responsabilidade da cidade de Bragança. É proibido falhar e o render da Guarda e a tomada da dita pela nossa equipa será uma prova de competência dos militares Pára-quedistas que procedem dessas paragens. É uma questão de honra! E eu sem entender patavina do discurso argumentei: - Mas nem todos os elementos da guarda são de Bragança: - A guarda tem três elementos distintos que são o oficial de dia, o Sargento da Guarda e o Cabo da Guarda, respondeu com ênfase e continuou em tom seguro que usava para me impressionar A Ordem de Serviço nomeou o nosso Capitão Espírito Santo, o 1º Sargento Rodrigues e o 1º Cabo Santos para o comando da Guarda ao Regimento, no Dia mais importante da Unidade.
Por coincidência, ou não, nasceram todos em Bragança! Cada um de nós fará o melhor para cumprir de maneira adequada e dentro do nível de responsabilidade que a sua classe lhes atribui, a missão designada e nós temos a consciência de que se o fizermos com zelo e responsabilidade estamos angariando prestígio para as Tropas Pára-quedistas e também para a nossa cidade e região. Falei há pouco com o nosso Capitão e ele manifestou-me aquilo que te transmito.
Passados tempos, anos após a disponibilidade, pensei neste diálogo mais serenamente e a conclusão a que cheguei é deveras impressiva e fez-me pensar que o facto de pertencermos a um determinado território, grupo ou família, pode influenciar o nosso modo de vida no respeitante ao cuidado e zelo que pomos nas acções do dia a dia ao ponto de sacrificarmos outras formas mais "convenientes" de vida, para em troca disso, tudo fazermos pela dignificação desse mesmo território, grupo ou família. 
O 1º Sargento Rodrigues, que após a tropa não voltei a encontrar deu-me uma das lições que mais marcaram e influenciaram a minha ideia de pertença ao universo do qual me sinto parte e que compõe o todo. Escusado será dizer que no dia 24 de Maio de 1972 ao entregarmos a Guarda aos que a receberam de nós Eu, o Capitão Espírito Santo e o 1º Sargento Rodrigues, nos felicitámos mutuamente pelo facto de, como se diz em linguagem militar, havermos levado a carta a Garcia. É como quem diz, termos à nossa maneira simples, mas leal e em nosso entender, prestado um bom serviço às Tropas Pára-quedistas e à região de Bragança!
É primariamente por recordar este dia que me deslocarei depois de amanhã a Tancos para assistir às cerimónias do dia da Unidade (R C P) das minhas boas lembranças. Duvido que alguém tenha dado importância ao facto, ou sequer sabido que éramos os três de Bragança, mas o 1o Sargento Rodrigues, com a sua imaginação, surgida da constatação de sermos todos de Bragança, facilmente me motivou para o desempenho de uma missão, em que o zelo posto no seu cumprimento, foi mais evidente do que o posto nas outras dezenas de Cabos da Guarda, por mim cumpridos.
Daí passados que foram 47 anos ainda hoje considerar este dia como especial e de boa recordação.
Em tempos publiquei uma foto que guardo religiosamente , que retrata a Guarda em posição de ombro arma, tirada nesse dia 23 de Maio de 1972.Tentarei passá-la para o topo da publicação de hoje , fazendo assim que quem me lê , veja quem eram e como eram os três bragançanos que há 47 anos, para além de tudo estavam orgulhosos da sua proveniência.





Bragança 21/05/2019
A. O. dos Santos (Bombadas) Ex -1º Cabo-Pára 490/70/ RCP

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