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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 23 de junho de 2019

Judeus, cristãos-novos e a gente que lhes sucedeu e não entendem bem porquê

Por: António Orlando dos Santos 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..."
Realizou-se em Bragança, entre 19 e 22 de Junho um encontro de gente que por esse mundo fora se interessa por questões respeitantes ao judaísmo e à história que levou a Igreja e os poderes temporais, a tão ferozmente terem perseguido o povo eleito.
No Nordeste português e muito particularmente na chamada Terra Fria viveram e labutaram muitos milhares de descendentes dos hebreus da diáspora que a crer nos dados históricos chegaram aqui, deportados pelos romanos no tempo em que Roma era potência administrativa da chamada hoje, Palestina, onde se situavam os territórios que eles designavam por Philistina-Judaea,  desde o tempo de Adriano.
Dizem os historiadores que foram duzentas as famílias deportadas e que foram a semente que frutificou nesta Península Ibérica à qual os Judeus chamaram Sefardi. Daí o termo Sefarditas que serve hoje para distinguir os judeus que se constituíram num grupo distinto em oposição ao outro grande grupo da diáspora que é designado por Ashkenazi, do hebraico medieval e que na nossa língua se torna em Asquenazitas. Provenientes da que hoje designamos por Terra Santa e cumprida que foi a vontade de J--é de os dispersar pelos quatro cantos da Terra, o grupo que rumou a Sefardi é hoje a grande referência dos que são o fruto da sua multiplicação, mesmo que uma grande parte deles, não saiba desta realidade ou por falta de interesse por estes assuntos nada queira saber, pois que o tempo e a própria ideia de pertença se modificou e o paradigma é agora fundamentado apenas nos interesses venais e de desfrute imediato, havendo mesmo assim quem continue por força da herança genética e forças outras que latentes influenciam os indivíduos a procurar as suas raízes.
Não sei nem é minha intenção abordar esta questão, outrossim , tentar dar a minha opinião atual sobre este tema que tanta gente mobiliza, implicando um movimento intelectual e cívico que começa a dar frutos e é assaz benéfico para Bragança e toda a Região Interior de Portugal.
Não vou aqui perorar sobre as questões transcendentais deste tema, que as há, mas apenas dar a quem me lê um pouco de luz, sobre o que me apaixona desde os meus tempos de rapaz, em que uma vez mais, parado diante da montra da Livraria do Senhor Mário Péricles, dei com os olhos num livro de António José Saraiva, com o título, A Inquisição Portuguesa. 
Fiquei curioso pois a palavra Inquisição me era desconhecida mas a capa remetia para questões religiosas e nesse tempo eu tentava definir se, EU, devia ser um crente "normal", ou tentar através dum conhecimento dos factos históricos, alterar, mesmo que levemente a minha qualidade de Católico, nos moldes simples em que havia sido instruído e que me apresentavam a religião como algo imutável, na senda da ideia transmitida de que tudo o que me levantasse dúvida era um Mistério que definitivamente eu jamais teria capacidade de analisar, muito menos de concluir qualquer juízo final de minha conta e risco.
Quando reiniciei a marcha em direcção ao Zé Machado, tinha decidido que logo que conseguisse poupar o necessário compraria o livro e ver-se-ia se tirava algum ensinamento. Assim fiz e no final do mês quando o Zé Poças me pagou o salário, dei uns passos em direcção à Livraria e a Teresinha foi ao escaparate e entregou-me a obra de António José Saraiva. Após a leitura repetida, fiquei a saber de algo que definitivamente até aquele tempo eu não ouvira ou lera referência alguma. O mundo continuou a girar e uns tempos depois, espontaneamente e sem que eu suspeitasse do que seria feito o meu destino comecei a namorar com a minha mulher e há a partir deste tempo como que um descobrir de algo que sem ser coisa de grande monta me colocou dentro de uma realidade que me era marginal mas que me fascinou pelo seu carácter quase obscuro, que intuí de rivalidade só possível quando a ignorância campeia por omissão de esclarecimento que os conhecedores das coisas públicas sonegam vá-se lá saber porquê.
E com o passar do tempo uma simples brincadeira de um amigo da minha gente, deu azo a que se abrisse a janela que fechada esconde o privado do público e o desvenda quando se abre sem medos dos olhares e nos apresenta uma realidade tão igual à nossa, que por preconceitos e atavismos fabulámos até ao irreal.
A verdade é que havia começado a minha descoberta de um grupo que em tudo era igual aos que fora e dentro de suas casas eram iguaizinhos aos "Outros" que se consideravam gente e a quem a vox populi apelidava, de "Diferentes".
Haviam passado trezentos anos desde que o Papa Paulo III assinou o documento que serviu de legitimação ao Terror. Não ultrapasso este ponto histórico, primeiro, por ser quase ignorante de tais assuntos, segundo, porque quero apenas analisar mesmo que pela rama, o que me foi dado presenciar destes dias, que, estou seguro, serão no futuro, relembrados como de fundação de uma outra forma fraternal de ver e julgar a religião seguida pelo povo e pelos descendentes de Abraão, Isaac e Jacob, que Moisés com o espírito do Senhor legou "prontinha e Direita" aos Hebreus e ao Mundo. Com o contributo de muita gente de saber e com outra muita interessada e curiosa de saber como foi e como é, realizou-se em Bragança um encontro onde se revelaram factos e nomes de gente humilde e outra de alta linhagem que viveu nestas paragens, caminhou nestes caminhos e sentiu os frios e calores desta "Região Bragançana" que serviu de Pátria a uma miríade de pessoas que a serviram e amaram e cujos descendentes, hoje tentam com a Fé no seu D--s reerguer à consideração da gente que não conheceu a sua grandeza ante os homens e a sua humildade perante o Senhor. Mesmo com todas as iniquidade impostas por ordem do Rei e do Papa, são ainda e agora gente que ama esta terra e sempre que pode a honra.
Por alguma razão é aqui que se concretizam estes encontros entre gente de muitas procedências que partilha o seu saber ou tão só a sua curiosidade. Quero dizer com toda a sinceridade da qual seja capaz "Muito Obrigado" à Câmara Municipal e muito especialmente ao Dr.Hernâni Dias, seu presidente, bem como a todos os que com o seu esforço e dedicação deram o seu melhor para conseguirem dignificar a cidade e região. Aos estudiosos que trouxeram as suas descobertas ou o apuramento de outros pormenores ao que era parcialmente conhecido, salientando o trabalho da Dra Marisa Pignatelli tanto pelo que nos oferece no seu recém publicado livro, Judeus e Cristãos-Novos de Bragança e na Mostra de Fotos, Objectos e Textos que estarão por período alargado expostos ao público no Museu Abade de Baçal. 
Menciono nominalmente apenas esta Senhora por ter sido a única que me foi dado conhecer fora dos eventos, já que aqui faço um reparo à forma como se iniciam os atos públicos nestes e noutros lugares de estilo, pois são absorvidos pelos que avidamente ocupam os lugares da frente e ouvem sem impedimento o que os oradores transmitem. Como não há microfone que amplifique a voz de quem fala só é dado conhecer os pormenores aos que fazendo um quarto de círculo em frente à tribuna, impedem literalmente de os outros entenderem as palavras que são proferidas a meia voz e informalmente. Não que eu ligue muito a discursos de ocasião, mas nesse evento fiquei apenas a saber que estavam presentes a autora e o Snr Presidente da Câmara, não imaginando que estivesse ali o Snr Embaixador de Israel e outras Personalidades que com a sua presença honraram o ato e a cidade. 
Repete-se depois na visita guiada pela autora ao fornecer informação apenas a um grupo de notáveis enquanto a restante assistência se desenrasca por ela própria. Sei que é antipatia que me será assacada, este comentário, que dirijo à estrutura organizativa e não aos mencionados nominalmente. 
Apenas, não há bela sem senão. Creio estar-se a criar uma rotina de óptima inspiração, esta de juntar todo este interesse que o segredo que durante séculos encobriu o judaísmo praticado em Trás-os-Montes pelos que nunca se recusaram a prestar culto a J--é mesmo correndo o risco de virem a sofrer tormentos inenarráveis e até a suma impiedade de uma morte na fogueira, desperta hoje na mente do Homem Novo.
Este evento confirma que há capacidade para este desempenho e muito mais, assim os interessados e simpatizantes o continuem a desejar e apoiar. Não deixarei também de dirigir à Hotelaria de Bragança os meus sinceros Parabéns pelo desempenho e pela simpatia com que receberam e alimentaram esta gente que vinha ávida de coisas boas.

Obrigado. 

Um simpatizante da causa e brigantino de gema.





Bragança , 23 de Junho de 2019
A. O. dos Santos
(Bombadas)




(Documentos retirados de Ephemera, Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira).



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