Mussolini quis homenagear os visitantes fazendo uma festa nacional e para isso convidou (convocou) todos os Romanos a participarem na festa e, claro, tudo, tudo foi para a festa. E no Palácio Federici, bloco de habitação social com 650 apartamentos, só ficam 3 pessoas: (metáfora subtil sobre os rejeitados pela sociedade) a porteira que não pode abandonar o seu posto mas que acompanha a festa pelo altifalante que colocaram à entrada do prédio; uma dona de casa que seguindo as regras fascistas e machistas da época fica em casa pois tem de preparar o dia seguinte. É mãe de 6 filhos e o marido já lhe prometeu o sétimo só para lhe por o nome Adolfo; (curiosamente Alessandra Mussolini, neta do “Duce” faz parte do elenco deste filme): e um homem da rádio recentemente demitido por homossexualidade e que prepara o suicídio tentando antecipar-se à polícia que a todo o momento o virá buscar para o enviar para o degredo na Sardenha. Então, a propósito da fuga de um pássaro da gaiola, a dona de casa conhece o homem da rádio. Ela oferece-lhe um café para agradecer a captura. E então, como se de repente tivessem sacudido a pressão que todos os dias os esmaga, ouvindo ao longe o ruído da festa para que não foram convidados, começam a falar deles próprios.
Dos seus anseios, das suas angústias, dos seus temores, das perspectivas que tinham, das esperanças que ainda têm. Bom, coisas que nunca tinham falado a ninguém e que não são boas de contar.
Isto é ficção mas a realidade…bom, na realidade tenho esperança que, na noite do arraial, a Praça da Sé não seja mais a réplica do velho Palácio Federici daquela noite inesquecível onde dois ostracizados lambiam as suas feridas.
Manuel Vaz Pires
in:jornalnordeste.com
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