Mais de duas centenas de mascarados dos rituais do solstício de inverno, oriundos de Portugal e Espanha, prometem espalhar a "confusão" pelas ruas de Mogadouro no dia 28, no âmbito de um encontro anual destas figuras.
"Tudo começa com um desfile, que vai percorrer as principais ruas da vila até chegar ao centro histórico de Mogadouro, local onde todos os grupos se juntam, causando o alvoroço típico destes mascarados solsticiais. Este ano contamos com mais de 200 mascarados vindos de Espanha e Portugal", disse hoje à Lusa a vereadora da Cultura da câmara de Mogadouro, Virgínia Vieira.
Após algumas horas de desfile, as tropelias e o desgaste do percurso obrigam a uma paragem na sede da Confraria das Casulas e do Butelo, para reconfortar o estômago e afastar o frio, com uma "sopa da pedra" que é servida a todos os que participais no desfile, tornando-se "num momento de convívio".
O cortejo vai andado até chegar ao largo da Misericórdia, onde todos os mascarados mostram os seus "trejeitos" - que vão desde o tradicional "chocalhar" das mulheres ou as "tisnadelas" das raparigas mais incautas -, o que atrai pessoas às ruas.
"Ao longo dos últimos seis anos temos apostado neste desfile, que nem sempre é fácil de levar para a rua, contudo, o balanço é positivo", afiançou a autarca.
Até a momento estão confirmados duas dezenas de grupos de mascarados vindos da Galiza, Astúrias, Castela e Leão, do lado espanhol. Já do lado português, são esperados os mascarados do Nordeste Transmontano, Douro e Beira Litoral.
Os investigadores deste tipo de tradições são "unânimes" ao afirmar que o concelho de Mogadouro "é rico" nestes rituais associados ao solstício de inverno, tais como o "ancestral e enigmático" Chocalheiro de Bemposta, os Velhos de Bruçó, o Chocalheiro de Vale de Porco, o Careto e a Velha em Valverde, Farândulo de Tó ou a Mascarinha e o Mascarão de Vilarinho dos Galegos.
"Nos últimos anos temos assistido ao recuperar de velhas tradições que envolvem os mascarados, que estavam perdidas e que, com os testemunhos de alguns populares mais idosos, foi possível recuperar. Estas tradições foram-se perdendo devidos ao esvaziamento demográfico do território", vincou o investigador Antero Neto.
Este investigador é responsável, em pareceria com as respetivas populações, pela recuperação de antigos rituais no concelho de Mogadouro.
Este encontro desperta o interesse dos fotógrafos, jornalistas, investigadores ou simples curiosos, vindos de todo o lado, para conhecer estas enigmáticas figuras espalhadas um pouco por todo o Nordeste Transmontano, onde nesta época do Natal aos Reis se “vive autêntico alvoroço solsticial", que é provocado por Chocalheiros, Velhos, Sécias, Farandulos e outras figuras "mais espampanantes e misteriosas".
Para o historiador António Rodrigues Mourinho, tudo isto está ligado à cultura pagã e não se reconhece a sua origem, sendo classificados como "rituais de passagem e fertilidade".
Por seu lado, Helder Ferreira, impulsionador do Festival Internacional da Máscara Ibérica, indica que nos últimos anos estes mascarados solsticiais ganharam "uma maior visibilidade e reconhecimento" e a comprovar está a classificação atribuída pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) aos Caretos de Podence, no concelho de Macedo de Cavaleiros, como Património Imaterial da Humanidade.
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