quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

O Tempo que o tempo traz

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


Dias passados, quase lânguidos, neste tempo marcado por incertezas e dramas, num quase sufoco de névoas que se adensam mas que insistimos em penetrar. Tempo de estoicismo na disciplina praticada para mantermos alguma sanidade que a nossa mente insiste em preservar.
A natureza das coisas que mutante na sua plasticidade nos presenteia com acontecimentos e projetos em que não nos revemos nem imaginámos jamais. Reconhecemos que a aritmética do 2+2, não é hoje cantarolada, nem sequer considerada e aí temos o resultado que é visível e que urge combater. Diria o meu irmão brasileiro: ma você fugiu do Colégio? Adiante, que atrás vem gente. Estamos entrando no último ano da segunda década do século XXI e será tempo de reflexão. Os seniores não terão já margem para acalentarem ilusões, mas os jovens e a gente de meia idade devem ser incentivados a porfiarem, acreditarem e disponibilizarem-se para contribuírem na construção de uma sociedade mais justa e honesta. Para tal convidemo-los a, estudarem, trabalharem e acima de tudo a serem sensatos e a terem uma visão mais igualitária da sociedade, sem recorrerem ao desinteresse que normalmente inquina a mente dos que por razões de usufruto da diligência dos seus maiores se acantonam no "no fare niente" dos " eleitos que nunca foram a sufrágio.
Vem isto a propósito das declarações do Ministro dos Negócios Estrangeiros, no concernente à capacidade de gestão dos empresários portugueses. Sem pretender ser entendido no assunto e usando apenas o meu senso comum, vou tomar como oportunas as palavras ditas e que tanto escandalizaram os Senhores Capitães de Indústria. Temos os empresários que a sociedade gerou e quer se queira ou não, são todos oriundos da sociedade que gerou também os políticos e os magistrados que são a cúpula do Estado e também das secções intermédias e de base do Estado Português. Tenho grande admiração pelo saber, postura, fluência, capacidade analítica e serenidade do Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros. Sendo assim, pergunto-me, porque escolheu ele este tempo para emitir tais e tão grandes verdades? Ele tinha consciência da resposta "indignada” dos Senhores Capitães de Indústria e também sabia e sabe que a questão é mais profunda do que uma simples dissemelhança de opinião.
Porque não resolveu o Senhor Ministro dar recado a todos os líderes dos vários sectores da Governança incluindo aí a capacidade dos líderes do Comércio e da Indústria Nacional?
A questão é que a governação do Estado não onera o bolso ou o capital das gentes que (des) governam o país. Sairão sem penalização pecuniária pelos erros e desvios e ainda terão garantidas as prebendas que sendo desmesuradas são tidas como coisas de somenos dado o contacto tu cá tu lá com os capitais de cifra alta com que deram rédea ao seu livre arbítrio. 
Por outro lado os Capitães têm os seus capitais em risco, a sua fazenda ameaçada, pela concorrência dos seus pares mais arrojados e pela ameaça constante da Autoridade Tributária e Aduaneira, que qual Santa Inquisição tem poderes ilimitados para desgraçar qualquer comerciante ou industrial metido a cristão-novo de sangue infecto. E é nesta sociedade de hipocrisia e poder quase ilimitado que se traçam os destinos vários em que uns e outros decidem o quinhão, que não as obrigações que lhes pertencem. É também nesta sociedade que proliferam as EDP's que vão vender seis barragens aos "chineses" que foram construídas no chão sagrado do povo transmontano e que nunca deram qualquer benefício palpável aos municípios das áreas onde estão implantadas. 
Há outros casos de favorecimento onerando os encargos do país, tais como CTT, Novo Banco e toda a Banca nacional onde se locupletam os antigos ministros e seus subalternos que foram desmobilados dos serviços que deveriam ser de defesa dos interesses supremos da Pátria. 
Aqui, paro para concluir que é uma questão de cultura ou não cultura dos indivíduos que compõem a elite da nação. Somos assim e não há remédio e nem sequer é coisa inalcançável. Basta que todos, sem pruridos de virgem ofendida, analisemos o que disse o Senhor Ministro e façamos algo para moralizar e agilizar com trabalho braçal e intelectual deste povo que invariavelmente se remete ao langor sedativo que se lhe oferece em dias como o de hoje, 30/12, que se repetem com frequência e nos condicionam como seres que sendo ou usando a lógica em doses diminutas se abandona ao langor do sol glorioso dos dias finais do ano. Mas o sol que temos foi-nos dado pelas forças cósmicas que governam o universo e ainda não há ganância que possa obstar a que ele todos os dias resplandeça por esse céu lindo sob o qual Deus ordenou, fosse nosso.
Creio que o Ministro é homem sereno e de verticalidade indesmentível e ele agora quando achar oportuno explicará aos portugueses qual é o caminho que todos devemos trilhar para alcançarmos o desenvolvimento material e também a lisura na relação que seja o paradigma da maneira de relacionamento nesta nação que tem já idade para ter juízo.
Não adoremos os falsos deuses da soberba, ponhamos os pés em terra e os olhos no que nos rodeia e em vez das mesquinhices e das frases envenenadas dos Senhores Capitães de Indústria, pensemos em tirar proveito deste aviso à navegação que nos fez o Ministro Augusto Santos Silva.
Que o ano que hoje à noite entrará em funções que lhe atribuem as forças cósmicas, seja o primeiro da nossa regeneração como Nação que está aqui à beira mar plantada, há já quase novecentos anos, obra de homens e mulheres que a amaram e no-la legaram, para que a cuidássemos como o não fazemos!

Feliz Ano Novo de 2020.





Gaia, 31/12/2019 
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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