Ir para o monte aliviar a alma
É com serenidade, apreensão e sabedoria, mas a cumprir à risca, que os habitantes de algumas aldeias transmontanas estão a viver este momento. A TSF falou com dois presidentes de junta do concelho de Bragança e a maior preocupação do momento tem a ver com a chegada de emigrantes de Espanha e França. Em Rio de Onor, por exemplo, passados mais de 30 anos, o vírus obrigou a fechar a fronteira.
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Mário Gomes é presidente de Junta de Aveleda, Varge, Guadramil e Rio de Onor. É precisamente ali, nesta emblemática aldeia comunitária ao lado de Espanha, que passados 34 anos foram postos blocos de cimento na fronteira. "É com alguma tristeza que eles vêm ali uma barreira com betão armado. Para eles nunca ouve fronteira e inclusivamente a guarda- fiscal levantava-lhe o cadeado para passar o gado e os carros de bois".
O presidente acrescenta que as pessoas estão a cumprir à risca o recomendado e que é mais fácil a quarentena nas aldeias. "É com muita preocupação que estão a cumprir. Estão a ficar em casa e a sair o menos possível. Quando precisam aliviar a alma vão para o monte, passear onde não há ninguém. É com certeza passar este período numa aldeia do que numa cidade onde estamos limitados em quatro paredes".
O presidente salienta também que a junta tem estado disponível para o necessário e que os vendedores ambulantes continuam a ir às aldeias. " Continua a ir o pão e uma pequena mercearia ambulante com o peixe e a carne. Neste momento a junta disponibiliza serviços de bens essenciais e medicamentos a quem não tem retaguarda familiar".
A maior preocupação de Mário Gomes é agora a chegada de emigrantes de Espanha e França...por causa da quarentena...à hora desta conversa estava a ir para a aldeia para falar com um. "Tenho a informação que chegou há dois dias de Paris e vou agora para lá para falar com ele no sentido de lhe dizer que tem que fazer o período de quarentena".
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Também Altino Pires tem essa preocupação. A junta de freguesia que preside tem sete aldeias. Já fecharam todos os centros comunitários e têm cartazes por todas as aldeias com as diversas informações. A questão dos emigrantes está bem presente. " Alertamos bem essa questão para as pessoas que vêm de fora para cumprirem a quarentena para não prejudicar as pessoas. Temos as aldeias que são refúgios mas na realidade temos pessoas muito envelhecidas e essas são as mais vulneráveis e as que temos de proteger em primeiro lugar".
E é ali, nas aldeias, termina Mário Gomes que está gente sábia, serena e motivada. " A sabedoria e a serenidade deste povo ajuda-os a enfrentarem esta adversidade de forma motivadora".
Afonso de Sousa
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