O chef de cozinha de Bragança Luís Portugal ofereceu hoje ajuda aos agricultores do Vale da Vilariça para escoarem a fruta danificada pelo granizo que o mercado rejeita.
A queda de granizo deixou marcas, no fim de semana, em toneladas de fruta nos pomares de cereja e pêssego desta zona agrícola do distrito de Bragança, que o mercado de fruta fresca não aceita, com prejuízos que pode ascender à ordem dos milhões de euros para os produtores.
"A fruta pode ficar feia, mas, desde que não apodreça, não deixa de ser boa tanto para consumo fresca, como para sumos, compotas e outros usos culinários", defende Luís Portugal, que se disponibiliza a incentivar o consumo nos canais que usa para divulgar as receitas que cria.
O conhecido cozinheiro de Bragança fechou a Tasca do Zé Tuga, distinguida pela Michelin, que tem na zona histórica de Bragança, devido ao plano de contingência da pandemia covid-19 e está confinado em casa desde 15 de março.
Não deixou, contudo, de cozinhar e decidiu "entreter-se e entreter" os que o seguem nas redes sociais, fazendo da confeção das refeições para a família a divulgação da gastronomia e produtos regionais com inovação nas propostas.
Faz uma receita por dia e "cada tem uma media de cerca de 170 mil visualizações" no canal que criou no Youtube e que tem também servido para aproximar produtores dos consumidores, numa altura em que os habituais canais de venda estão fechados devido à pandemia.
Do azeite ao morango ou fumeiro, os produtos que usa são de pequenos produtores que estão a receber encomendas dos seguidores do chef, que se propõe fazer o mesmo com a fruta da Vilariça.
"Eu sou do tempo em que quando ia à aldeia, a tia Ernestina dava-me uma maçã e podia ter bicho, mas tirávamos o bicho e era fruta boa", lembrou, frisando que a fruta da Vilariça, mesmo que esteja marcada pelo granizo, continua a ter valor.
O cozinheiro defende que "o mercado não tem de vender coisas bonitas, tem de vender coisas boas, com qualidade e sabor no prato" e entende que a atual crise é uma boa ocasião para sensibilizar as pessoas e conseguir explicar-lhes que, "por estar marcada, a fruta tem o mesmo sabor".
Luís Portugal diz estar disponível para trabalhar com os produtores da Vilariça, a começar pela compra de fruta para usar e mostrar às pessoas o que podem fazer, assim como apelar para que comprem.
Propõe também que os produtores reúnam condições para fazer chegar a casa dos consumidores, quando houver encomendas, um cabaz que pode incluir outros produtos da zona, além da fruta, já que a Vilariça é também fértil em azeite, hortícolas ou vinho.
Luís Portugal disponibiliza-se a criar receitas para incluir no cabaz como sugestão para o consumidor aproveitar os produtos.
Se as quantidades e fruta disponíveis forem muito grandes, o cozinheiro propõe que se fale com a indústria de transformação, que se pode inspirar até nalgumas receitas que podem vir a surgir e lembra que naquela zona de Trás-os-Montes está sediado um dos principais grupos de bebidas português, a Compal.
O cozinheiro deu ainda conta da proposta a alguns representantes dos agricultores, que mostraram recetividade para analisar a situação quando se aproximar a colheita.
A fruta está agora em desenvolvimento e dentro de algumas semanas a cereja já terá atingido a maturação, seguindo-se, mais tarde, o pêssego.
Os prejuízos causados pelo granizo no Vale da Vilariça, em Trás-os-Montes ascendem a cerca de 1,5 milhões de euros apenas na cultura de pêssego, mas outras foram afetadas, segundo cálculos feitos pelos produtores.
A Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte enviou técnicos ao terreno para fazerem um levantamento dos danos causados por trovoadas acompanhadas de granizo, durante o fim de semana.
A cultura de pêssego é a mais significativa no vale e a mais afetada com cerca de 120 hectares de pomares próximos da perda total da produção, como afirmou à Lusa Fernando Brás, presidente da Associação de Regantes do Vale da Vilariça.
Segundo o dirigente, há também, pelo menos 30 hectares de cereja com prejuízos, de acordo com o levantamento feito com a direção regional.
Fernando Brás indicou que ocorreram também prejuízos em vinhas e em plantações hortícolas, cujo levantamento ainda está a ser feito.
Segundo dados avançados pelo presidente da associação, nos 120 hectares de pêssego afetados a produção média é de 4.800 toneladas de fruto, o que equivale a cerca de 1,5 milhões de euros para os produtores.
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