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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Falar com amigos

O título da crónica parece ser retirado do livro do Tonecas uma figura desaparecida da cena portuguesa que eu ouvia deleitado num programa do Rádio Clube Português. O Tonecas nesse tempo só falava com amigos, aos inimigos votava desdém e procurava nem lhe pisar a sombra, pisar só lhe pisava os calos ao modo dos dançantes nos bailes de Páscoa ao, propositadamente, encenarem e executarem vibrantes encontrões no rivais da mesma paixão, resvalando para a pancada quando os contentores arrumavam mal o vinho poderoso vindo de uvas da Ermida, Possacos ou São Pedro Velho.
Os vinhos provindos das vinhas destas terras a sul de Vinhais provocavam zunidos nas orelhas, riscos nas comissuras dos lábios e após o jogo dos paus vontade falar alto de forma os inimigos do coração fazerem saltar os botões das camisas domingueiras no auge de despiques ciumentos. Ora, nestes tempos de quarentena o jogo dos paus não passa de duma referência da meninice, tais néctares não transpõem o rio Douro, no que tange a bailes a rapaziada das bandas estilo banda de ouriço, partia-se-lhe a gaita tocavam num guiço, por isso ou em face do exposto e escondido só posso falar com os amigos. O leitor perguntará: como se estamos a viver em prisão domiciliária sem pulseira electrónica? Mais, o leitor acrescentará: a quarentena está Tonecas até porque o jogo em causa morreu de morte matada devido à falta de grandes executantes, o vinho ter uma produção exígua e bailar afastado cumpre a norma do distanciamento social. É verdade. Insisto na intenção de falar sem recurso à máquina de sons de frutos no esmagador ou copiados das canções ortodoxas, fundamentalistas.
O leitor dirá: outra vez a lengalenga a sugerir falas mudas impressas em papel escritas há séculos que só os donos de muito tempo lêem a fim de sustentarem argumentos de exaltação do passado, do amor à leitura e à reflexão. Se o leitor pensou desta forma pensou bem. Nesta crónica apenas refiro dois livros. O primeiro é um monumento literário da civilização ocidental que nesta conturbada época é fecundo lenitivo para entendermos e sabermos repelir os males do Mundo, o segundo testemunho das singularidades humanas de uma cidade atormentada pela peste.
Embora muito citado A Cidade de Deus obra-prima de Santo Agostinho por si só justificava que o Politécnico organizasse um curso de Humanidades pois não há técnica sem ciência e cultura e a obra em causa é referência fundamental da civilização antiga. Os alunos provenientes de dezenas de países ganhavam bons réditos educacionais se lessem e comentassem a referida obra. Todos nós, mesmo os doutorados em ciências naturais e aplicadas ficamos mais fortalecidos se o fizermos. A segunda leitura sugerida é a do Diário da Peste de Londres de Daniel Defoe. O diário foi escrito pelo seu tio.
Armando Fernandes

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