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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 12 de maio de 2020

NÓS JOGAMOS SEMPRE NAS DE PERDER

A nossa gente reconhece bem a situação dos desgraçados que, nas festas e romarias, se iam chegando a uma roda de homens, desenhada numa sombra conveniente, a deslado do baile, mas não muito longe de alguma tasquinha, para tentarem a sorte de multiplicar uma notita por três ou quatro e sentir o alívio de um bolso mais composto, pelo menos nos dias seguintes.
Muitas vezes o resultado da aventura era ficarem lisos, tesinhos como lâmpadas, condenados a voltar, cabisbaixos, para casa, maldizendo a sorte madrasta e resignados à necessidade de redobrar esforços para recuperar o perdido, prometendo não voltar a cair na tentação porque, afinal, os donos do baralho encontravam sempre forma de os levar a apostar nas cartas de perder.
Também o nordeste, nomeadamente o distrito de Bragança, tem sentido algumas vezes a vertigem da esperança que lhe resta para tentar inverter a condição a que se chegou.
Assim se foi consolidando a disponibilidade para seguir conselhos dos que mandam nas capitais, de quem se espera boa fé e atenção para atenuar os efeitos dos riscos que é preciso correr.
As dificuldades para quem decidiu permanecer por cá são conhecidas, inegáveis e até arrasadoras, com as consequências de esvaziamento demográfico e envelhecimento acelerado.  Mesmo assim, aqui e ali, floresceram promessas de futuro menos penoso, talvez relativamente tranquilo, porque pareciam capazes de gerar valor e salários para alguns milhares, mantendo gente de idades promissoras com vontade de continuar nestas terras.
Eis que, entretanto, desaba sobre o mundo a tragédia que sabemos, com consequências dolorosas para todos, mas que poderão ser muito graves para esta região. Os suportes do optimismo estão sob ameaças que não queríamos ver concretizadas: se a indústria de alguma dimensão, ligada aos componentes automóveis, for desactivada será uma verdadeira catástrofe; se o ensino superior, com reconhecidos méritos e impacto económico, especialmente em Bragança e Mirandela, mas também no resto do distrito, vir as dinâmicas de crescimento interrompidas ou, pior ainda, se entrar em perda de alunos nacionais e internacionais, a catástrofe duplica ou triplica e a economia local dificilmente se livrará da asfixia.
Se lhe juntarmos as dificuldades de escoamento de produtos agrícolas e pecuários de qualidade, nomeadamente de carnes certificadas, fumeiros, vinhos, azeites e se o turismo local, cultural e de património não encontrar visitantes, então se assistirá à agonia irreversível.
Essas tinham sido as apostas que déramos como certas. Mas quando se vai ouvindo que há unidades hoteleiras que podem fechar portas, restaurantes de referência que podem seguir o mesmo caminho e mesmo pequenas empresas que animam o quotidiano (cafés, lojas de pronto a vestir, de electrodomésticos e outras a deixarem os seus proprietários a pensar na vida) fica-se com a sensação amarga de que, mais uma vez, teremos apostado nas de perder, embora estivéssemos convencidos de que havia boas hipóteses de ganhar.
Claro que aqui ficou um olhar pessimista e a vida pode surpreender-nos com o seu lado melhor. Que os deuses nos ouçam.

Teófilo Vaz

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