Se todas as pessoas do nosso planeta vivessem como os portugueses, seriam necessários os recursos naturais de mais de duas Terras para sustentar esse modo de vida. Se não fosse o confinamento, essa capacidade já se teria esgotado na última segunda-feira, 25 de Maio, um dia mais cedo do que aconteceu no ano passado.
O alerta foi lançado numa nota divulgada esta semana pela ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, que todos os anos, em parceria com a Global Footprint Network, actualiza os dados que dizem respeito à pegada ecológica de Portugal.
Cogumelos, musgo, floresta. Foto: Andreas/Pixabay |
Os dados são calculados com base no consumo de bens e emissões de carbono. Com a situação actual e a “paragem forçada da actividade económica”, a data em que Portugal entraria em saldo negativo ficou adiada para um pouco mais tarde, o que representa um ganho face a 2019, mas tal não significa que podemos descansar, avisa a ZERO.
Muito pelo contrário: “Esta é mais uma oportunidade de reflexão sobre como podemos contribuir enquanto individuais e sociedade, para uma retoma com uma pegada menor”, uma vez que Portugal é desde há muito tempo “deficitário na sua capacidade para fornecer os recursos naturais necessários às atividades desenvolvidas (produção e consumo)”. Como resultado, “a ‘dívida ambiental’ portuguesa tem vindo a aumentar.”
Quais são as actividades diárias que mais contribuem para a pegada ecológica dos portugueses? O consumo de alimentos, por exemplo, é responsável por praticamente um terço do total (32%). Também muito importantes são as deslocações e a mobilidade em geral, pois representam quase um quinto (18%) dessa responsabilidade.
Foto: al grishin/Pixabay |
1. Reduzir o consumo de proteínas animais: aproximar mais a nossa dieta à roda dos alimentos e tornando-a também mais saudável. “Os dados para Portugal indicam que cada português consome cerca de três vezes a proteína animal que é preconizada na roda dos alimentos, metade dos vegetais, um quarto das leguminosas e dois terços das frutas.”
2. Realizar as deslocações de forma sustentável: não deixar de usar transportes colectivos, usar a bicicleta, andar a pé e reduzir ou eliminar de todo as viagens de avião, recorrendo por exemplo às reuniões por videoconferência.
3. Consumir de forma mais circular: Apostar em “ter menos mas de melhor qualidade”, em vez do tradicional “usar e deitar fora”, “com um forte enfoque na redução, reutilização, troca, compra em segunda mão e reparação.”
Quanto às políticas públicas, que podem ser adoptadas pelo Governo e incentivadas pelas empresas, a ZERO avança com quatro sugestões: apostar numa agricultura que não dê apoios apenas ligados à produção, mas a outros resultados como a produção de alimentos de qualidade ou a preservação dos solos e diminuição da poluição; aproveitar o que se está a fazer no recurso ao teletrabalho para reduzir e substituir as viagens e os eventos presenciais; investir em “modos suaves de transporte”, incentivando por exemplo as bicicletas; criar novas regras para que os produtos vendidos sejam sustentáveis, criando “normas de durabilidade, garantias do direito a reparar e atualizar, de reutilização e reciclabilidade.”
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