Na Bragança desse tempo albergava no seu bojo várias criaturas cuja caixa «dos pirolitos» rebentava os códigos normativos da civilidade e etiqueta, nunca foi o caso da Dona Alegria, excêntrica sim tal como outra alma fora do senso comum, o "doutor" Gregório apaixonado por ela. O doutor Gregório carregava a fama de enquanto aluno Universidade de Coimbra ter saltitado de curso em curso, sem ter algum. Conheci-o, escorrido de carnes, olhar e modos de mansidão interrompida se um matuto intrometido ousava tocar-lhe na pasta atafulhada de recortes de jornais. A pasta encerrava a ilusão académica da frequência sem retorno social e económico. Estou certo de alguns leitores ainda se recordarem do seu nariz adunco entrapado em virtude de uma chaga purulenta no género do Nariz de Sola título de um livro editado na colecção Miniatura dos Livros do Brasil.
Este par de excêntricos, eivados de ilusão de natureza diferente povoavam o imaginário de boas e más-línguas, os dois seriam namorados porque o Dom Quichote de Carragosa amaria a Dulcineia de Bragança, por isso, mesmo nos dias friorentos empurrados pelos ventos da Sanábria, ele fazia sentinelas ou plantões defronte das janelas que atrás dos vidros se viam vasos e cortinados, estes, de vez em quando afastados por mãos de unhas pintadas de cor escarlate.
Sei, quão vale a rede ilusória de "tapar o sol com uma peneira", capaz de suportar o incomensurável sofrimento da perda de um filho, incomensurável todos os dias, por assim ser, e é, nesta época de espectros e zombies pandémicos, aferro-me à minha ilusão na esperança de conseguir levar a carta a Garcia no enfrentar nova e repelente peste. Que todos os leitores levem a sua carta a bom porto é o meu desejo.
Armando Fernandes
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