quarta-feira, 29 de julho de 2020

...depois dos meus 13 anos…

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


Hoje vou escrever algo que já tem que ver com uma outra perceção, que eu passei a ter quando após os meus treze anos deixei de ter sobre mim o controlo de minha mãe que passou a ter mais confiança na minha conduta que, não sendo rebelde, era no entanto bastante dada a alguma melancolia. Convém dizer que a adolescência que me foi dado viver foi balizada por conceitos de moral e solidariedade bastante concretos, pois o meio ambiente era a tal propício.
Como comecei a trabalhar ainda não havia completado 11anos é elementar que não tinha muita liberdade de ir para aqui ou ali, pois havia que cumprir com a obrigação diária de entregar a pastelaria, missão que me foi destinada como primeira responsabilidade seguida de outra não menos importante que consistia em limpar tabuleiros e formas, bem assim como forrá-las e preparar uma série de outros afazeres menores. Enquanto eu fazia este serviço e cumpria com a minha obrigação outros meus condiscípulos que não foram como eu trabalhar gastavam o seu tempo nos bancos da Escola Comercial ou no Liceu Nacional. Apreendiam a vida de maneira diversa da minha e constatei que muitos deles não aproveitaram a prenda que lhe ofereceram e não progrediram suficientemente guardando as lições que os fariam mais capazes.
As profissões eram nesse tempo o esteio sobre o qual assentava a educação dos futuros homens. Munidos de capacidade para ler e interpretar e capazes de fazerem uma operação aritmética sem hesitação éramos lançados no mundo do trabalho sem outras armas.
Felizmente que a formação ministrada pelas professoras (es) era de elevada qualidade e basicamente todos saíamos da Escola com entendimento suficiente para analisar o concreto e o abstrato.
Fomos dos primeiros a progredir em termos de profissão e cultura. O binómio conhecimento e teoria foi por nós assimilado e posto a uso de forma simples e proveitosa.
Já disse noutras crónicas que a Fundação Gulbenkian foi uma ajuda essencial na ilustração dos indivíduos da minha geração, que não tiveram a possibilidade de frequentarem a Escola Clássica no tempo devido e próprio para semear a seara da Cultura e que serviu de Escola que nos transmitiu o saber de experiência feito.
Houve sempre uma linha divisória mesmo que impercetível que separa os de formação académica e os auto-didatas. Pelo menos no âmbito formal das possibilidades de emprego limpo ou menos limpo é evidente que os que têm Escola são selecionados para ocuparem lugares de chefia nas muitas vertentes dos Serviços do Estado.
Mas eu deparo-me com situações de falta de competência que são evidentes nos Serviços Camarários e do Governo Central que denunciam que a competência das chefias deixa muito a desejar!
Tomemos como exemplo a forma como é cuidado o património público. A construção de edifícios, ruas, praças ou jardins, lugares de reunião e colocação de mobiliário público, custa muitíssimo ao erário público. É elementar que deve ser conservado. Mas infelizmente não é o que vemos em Bragança.
Ora isto leva-me a pensar que as chefias dos Serviços não são competentes. Dou como exemplo o Parque de Estacionamento na Praça Camões. Continua a pingar abundantemente, está escuro, com falta de luz e o Elevador continua avariado. A zona ajardinada e todo o espaço e edifícios do "Polis " estão num estado deplorável, dada a vandalização a que está exposta e que os responsáveis teimam em não ver. Como exemplo flagrante menciono, a parte elétrica e as próprias luminárias estão todas destruídas, os edifícios onde está instalado o Moinho encontra-se vandalizado coberto de escritos absurdos e sujo como não deveria estar.
A limpeza dos arruamentos é lastimável e é evidente que está fora das preocupações dos Serviços que a tutelam.
Do Rio nem é bom falar e é incompreensível que se tente limpá-lo sem recorrer a métodos mais complexos. É um problema mas eu já atrás falei na Aritmética.
Para fechar quero dizer que deve ser caso único no país a forma como se tenta reparar o piso de madeira que se vai deteriorando com o tempo, chuva, sol e ação do homem. Foram substituídas algumas travessas no passadiço junto ao rio, um pouco à frente do moinho. Nenhuma é sequer semelhante às originais e tem uma travessa que, pasme-se, é muito mais fina e é BRANCA. É de uma falta de gosto que só nós toleramos. Faz rir de caricato. Eu pergunto, se não têm capacidade para manterem a fábrica da Cidade sem cairmos no ridículo porque não fecham os locais à fruição pública? Basta fazerem como fizeram às papeleiras que foram cobertas por sacos pretos do lixo e que nunca mais foram assistidas, encontrando-se todas com os sacos rasgados e com lixo que os peões lá vão colocando.
É em pormenores como os antes descritos que se pode analisar o grau cívico da população e a sensibilidade das Autoridades que tutelam o bom funcionamento dos locais públicos.
Conclui-se que é bom que se fale de progresso e boa gestão, mas que o discurso seja condizente com a ação no terreno.
Quando esta semana vi o anúncio da intenção de começar as obras na Quinta da Braguinha fiquei apreensivo com a quase certeza de aquilo vir a ter o mesmo destino que tem o Polis. Tudo isto para quê? Apenas para dizer que no tempo da minha criação a gestão da Câmara era feita por gente que tinha uma profissão, que sabia raciocinar e que com os poucos recursos que tinha nos apresentava uma cidade mais cuidada, menos negligenciada e mais amada.
O seu Presidente não era Doutor os vereadores eram gente dinâmica e os funcionários tinham quem os dirigisse sendo para eles uma honra o cumprimento do dever que a todos era exigido.
Fico-me por aqui embora haja muitíssimas deficiências a apontar. Seria presunção da minha parte alongar-me nos reparos, pois também os outros cidadãos terão visto e deplorado outras situações dignas de atenção.
Faço votos que os responsáveis façam o que a obrigação lhes exige e apelo para que a limpeza e a reparação de edifícios e lugares sejam elevados ao nível que é exigido nos tempos atuais que são mais favoráveis à crítica construtiva da população em geral e não só pelas elites que ganham bem e fazem pouco!

P.S. Fica por dizer que nada nos move contra individualidade alguma. É uma chamada de atenção a quem de direito, para que seja mais agradável viver aqui. Se andam a chamar gente para fazerem turismo cá dentro e lhes apresentamos o que é facilmente constatável, podemos limpar as mãos à parede. Todos nós, responsáveis e público em geral!





Bragança 25/07/2020
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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