quarta-feira, 29 de julho de 2020

MATUTANO

Por: Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS
São Paulo (Brasil)
(colaborador do Memórias...e outras coisas)


Ah, muié! Nóis tinha tanto amô
E fumo brigá desse jeito!
Acabamo por separá!!!
-O que foi que desandô?
Ela num mi qué mais;
Eu tamén num quero!
Tudo si acabô, sim sinhô
Agora samo moderno
Nóis vai fazê de conta
Que samo gente da cidade
Nóis fiquemo mudo
As criança óia pra nóis
Num intendi nada
Nóis intendi tudo
Nóis que prometemo
Ficá dijunto inté a morte
Si separamo: ela pro sur
E eu pro norte!
As criança fica co´a vó
Nóis acha que assim é mió
Jurei préla que num quero
Vê ela ném prum espêio
Ela disse que eu
“Vô ficá pra escanteio”
Eu disse que ela é gorda
Ela disse que eu sô feio
Eu disse préla sumí
Que o Brasir é grande demais
Ela disse que nem por dinhêro
Si dispunha a vortá atrais
Ela deu um saluço
E eu maomeno tamén
Deitei cabelo na estrada
Ela pegô um trem....
Ma, onti nóis se encontremo
Na igreja de São José
Ela é muié de respeito
Eu sô home de muita fé
Lá nóis se viu e choremo
Na frente do Deus menino
Se beijemo, tocô o sino
Prumeno acho que tocô
Ela tremia até as perna
Fui pra riba dela cum fogo
Fogo que num se acabô
Demo tanto bejo gostoso
Bejo cheio de amô
Ela me deu um abraço
Pertado; quase caí
Nóis falemo das criança:
-Nóis qué elas dijuntinho
Não lá na casa da vó
Mais lá, no nosso ranchinho.
Eu disse préla : o Brasir é grande
Mais, maió é nosso amô
O Brasir póde sê grande
Mais nóis ele num separô
Nóis samo um casár de bobo:
Queremo é casá de novo
Cum fé em Deus e paiz na guia
Vortemo a sê namorado
Aos pé da Virgem Maria
Prometemo a São José
O protetô das famía
-Nóis prefere inté morrê
Do que se apartá um dia.

Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 8 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de quatro outros publicados em antologias junto a outros escritores.

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