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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 11 de julho de 2020

O tempo que afinal não era assim tão mau...

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Quando eu era miúdo ouvia os adultos mais instruídos fazerem a comparação, abstrata, claro, entre o nível de vida de Portugal e o dos outros países do primeiro mundo. Quase sempre o discurso era negativo e nós éramos sempre classificados como dos menos desenvolvidos. Atribuía-se esse atraso ao Regime dito fascista do Estado Novo. Claro que quando uma afirmação é repetidamente feita, a tendência dos indivíduos não especialistas ou versados nestas análises há elevada probabilidade de tornar-se em verdade indesmentível.
Chegados aqui chamo a atenção que a evolução das sociedades europeias e do novo mundo fez-se sempre com recurso a três premissas que foram sempre tidas em conta, mas cujo efeito no bem-estar dos povos foi sempre díspar. A primeira era a ordem que emanando do Rei, era mais ou menos praticada e aceite pelos povos. A segunda eram as riquezas naturais que o solo que ocupavam lhes oferecia, como os minerais e o terreno arável que mais fecundo ou menos fecundo, produzia a alimentação para a população. A terceira era a capacidade de união e prontidão da população, que chamada a defender a Nação, o fazia com mais ou menos ordem e disciplina. Comparando estas três premissas e tendo em conta o efeito que tiveram nos povos europeus é fácil ver que o nosso nível de aproveitamento não sendo o melhor também não era o pior.
Mesmo sem irmos muitíssimo atrás na história é fácil concluir que até ao século XVI os nossos níveis de bem estar eram praticamente iguais aos de outros povos, simplesmente porque a segunda premissa não pesava ainda como pesou a partir daí. Também porque a Nobreza portuguesa após Alcácer Quibir se tornou lentamente numa classe parasita que veio a dar na perda da Independência. Desde a fundação até D. Sebastião com mais honra ou menos honra amealhámos saber, terra e prestígio.
Foi a visão de alguns e a terceira premissa que permitiu este resultado. Após a queda dos Filipes e o advento de D. João IV foi o que se sabe e mesmo que lentamente afundando chegamos ao século XIX e já estava tudo tão corrompido que o Napoleão deu ordens e o Regente e a sua mãe, mais a sua mulher e o séquito de parasitas que os acompanharam, deram às de Vila Diogo e deixaram os seus súbditos sem rei nem roque a contrariarem os loucos generais franceses um dos quais, o primeiro a chegar ao Alto de S. Catarina ficou a ver navios… Estava a chegar o princípio do fim.
Mas a verdade é que sem rei que era o elemento mais importante da primeira premissa e com os ingleses a comandarem, conseguiu-se pôr o Maneta e o Massena a andar para o raio que os partisse a eles mais aos que os antecederam pois que logo na primeira invasão com o Junot a fazer de Ali-Babá levaram no saque mais de metade da riqueza das famílias nobres e da Igreja que desde D. Afonso Henriques andou a amealhar riquezas e a prometer o Céu dos pardais.
Depois calhou-nos o D. Miguel e quando chegaram a Évora Monte e o proscreveram para nunca jamais, o povo acreditou que "agora é que é". Viveu o povo português os anos seguintes do século XIX num clima de opressão com alguns intervalos de liberdade e uma aurora de progresso em todas as facetas da vida que se começava a reconciliar com ele.
Atrasados em relação a outros povos da Europa foi-se recuperando caminho e começou a falar-se de igualdade e progresso. Os fidalgos estavam quase todos falidos e o Rei promovia os novos ricos e os brasileiros de torna viajem a Barões e Viscondes, a troco de fundos que atrasassem a insolvência. Com mais ou menos peripécias a fidalguia aguentou-se até 1910 e após outubro começou a reciclagem dos velhos parasitas e a ascensão dos novos e ilustrados políticos que tomaram conta do aparelho de Estado, mais com vontade de se bem governarem do que de governarem bem.
Aqui faço uma pausa para dizer que as perdas da nobreza e de alguns novos ricos e capitães de indústria, foram aproveitadas pelo povo que começou a ter direito a comer bacalhau com fartura, usar camisa lavada ao domingo para ir à missa e alguns mandarem os filhos à Escola.
Até 1926 também foi difícil a vida do povo português que no entanto, mesmo que devagar, foi tendo liberdade para fazer pela vida e com os avanços da legislação progressista e o seu sentido inato de sobrevivência foi usufruindo de direitos e liberdades até aí impensáveis e que formaram um tecido mais ou menos espesso de pequenos proprietários, alguns na propriedade agrária e outros no comércio e pequena indústria.
A verdade é que desde 1910 o povo foi paulatinamente usufruindo da liberdade das leis mais esclarecidas e de um aparelho de Estado mais tolerante, tendo aproveitado a Escola que se foi implantando em todo o território nacional e cujo ideal que alguns professores e outros homens de bem porfiaram por nos legarem o que no século vinte era indispensável ao progresso dos povos, educação.
Mas os problemas ocasionados pela queda da Monarquia e a Implantação da República foram tantos que não davam espaço para que a nova ordem se estabelecesse pacificamente. O preconceito de alguns e a ganância de outros quase afundou a nau qual Nau Catrineta que andou à deriva tempos de tormenta até que arribou a bom porto, não sem que o gageiro não tivesse merecido a recompensa que o Capitão General lhe prometera.
Os generais estavam fartos de guerras e de aturar civis lunáticos que se suicidavam ou que eram assassinados. Mas o povo já se esquecera da lei das Sesmarias e até dos loucos generais franceses e queria ter a vida mais calma e a mesa mais farta. Queria ler o seu jornal e poder dar aos filhos, pelo menos as letras suficientes para ler e entender o edital que o Regedor pregava na porta da Igreja. Houve uma coisa que o povo ainda não conseguiu extirpar da sua mente invejosa, o complexo de superioridade de alguns que pensam que Deus dá a inteligência conforme o estatuto social em que se nasce e que vale mais parecer que ser. 
É este aparte apenas um elemento de convencimento que tem impedido muita gente de se governar sem inveja dos que ao seu lado se governam também. Julgam que algo deve dar mais direito a uns que aos outros.
Depois deste palavreado todo chegamos ao Estado Novo. É uma descrição que não farei por saber que toda a gente sabe muito de história e que a divisão de opiniões se faz entre os indefectíveis do 24A e os do 25A. 
Eu prefiro estar de fora para evitar (aggiornamenti).
Ora chego aqui e digo que como eu nasci em 1949 só posso falar com conhecimento de causa a partir de 1955/56. Assim eu deparei-me com uma sociedade que se regia pela bitola da máxima de que "O trabalho dignifica o homem". Trabalho não é só partir pedra. É duro e quase sempre mal pago. Mas também não é só ter emprego do Estado, não fazer nada e pensar que merece e tem esse direito a ser bem pago e melhor protegido. No tempo em que me criei todos trabalhavam e mesmo havendo classes sociais todos sabiam que "um doutor não ordenha uma cabra tão bem como um cabreiro".
Depois Portugal não mendigava como hoje mendiga e não falo só em dinheiro, mendigamos até a possibilidade de se realizar uma Final da Champions em tempo de Pandemia. Depois, os ricos dos 24A eram: Industriais, comerciantes, lavradores, produtores de vinhos e gente do topo da Administração como juízes que não eram corruptos, gente que fez fortuna com muito trabalho e que sabia que só com o suor do rosto, metáfora, para todas as profissões, se consegue dormir porque quem trabalha merece o pão que come e a almofada onde põe a cabeça.
Foram estes os valores que recebi dos que conseguiram fazer de mim seu admirador. Homens e mulheres honestos, trabalhadores e pouco politiqueiros....
E assim se vivia nesse tempo em que tirando o lado pidesco do Estado, que foi mal maior, não me parece que o progresso, do qual nos ufanamos e que foi pago integralmente pela União Europeia haja obstado à corrupção que grassou e grassa neste nosso tempo, me faça sentir mais orgulhoso de ser português do que no tempo passado até eu haver completado os meus vinte e cinco anos.
Termino com a última afronta, o Governo Inglês só nos quer lá depois de confirmarem que fizemos a quarentena. Andamos a brincar aos países (zinhos). E não se prevê mudança significativa. Quem nos salvará ? Eu respondo: -O regresso ao trabalho feito com dignidade e pago com justiça. Com o regresso aos princípios da honra e da honestidade e com o direito a recusarmos que o contrário seja aceite como paradigma degradante que nos retira a vontade de sermos comparsas nesta farsa social de desonestos e maldizentes. E os Meritíssimos juízes que cumpram com o seu dever de fazerem a justiça justa sem olhar à condição financeira dos réus que são todos merecedores de julgamentos imparciais e não antecipadamente combinados.




Bragança 08/07/2020
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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