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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Quarenta e cinco mil milhões

A Europa salvou-se e salvando-se, salvou-nos a nós também. Do enorme desafio que é o relançar a vida económica mundial escachada a meio pela pandemia, irá resultar um mundo em três blocos, havendo enormes riscos de se ficar pelos dois, caso se não atine.

De um lado, a China do dragão fumegante vai impor-se levando a dianteira e tudo de arrasto braço dado com a Rússia cada vez mais czarista sem czar, do outro a periclitante América entregue a um chanfrado que se alimenta do medo, e do outro a Europa com a sua sabedoria de mil anos, mas infelizmente corroída pela desconfiança entre os pares e pelos ódios de estimação que medram há séculos.

Foram necessárias muitas e longas horas de conversações, de arrepelões e de ares contrariados que bastem, mas o momento da mãozada entre os líderes europeus chegou. Entre eles há-os de todos os gostos e feitios, há olhares determinados e até frios, mas tocou-lhes o bom senso e a falta de alternativa.

Não havia outro caminho. Sabiam-no eles e sabemo-lo nós que tememos pelo futuro cada vez mais volátil, incerto e ambíguo. Nada nos deixa descansados apesar de estarmos muito cansados, fartos de ilusões e de sermos enganados por vendedores de bolas de sabão. Esperançados, só nos resta sentir que estamos perante o início de uma nova era desenhada pelas mudanças estruturais que se perspetivam.

Em Portugal, em cada lar, em cada instituição temos de ser responsáveis pois poderemos estar perante a última oportunidade de termos de volta ou mais firmado um modo de vida decente como queremos e como pensamos que merecemos.

Dezoito milhões de euros por dia ao dispor para se investir é muito euro. É para cima de um dinheirão, como diziam os antigos. Noutros tempos, vinha o ouro do Brasil, mas derretemo-lo em vaidades, vinham as especiarias da Índia, mas esfumavam-se que nem manteiga em focinho de cão indo enriquecer os que agora zombam de nós.

Mais recentemente, nos anos oitenta e noventa do século que não parece, mas é o recente passado, também nos chegavam furgonetas carregadas de notas, mas faltou-nos a visão. Os pacóvios tinham arribado há pouco tempo às escarpas do palácio do Poder, e para pacóvio, pacóvio e meio.

Construíram-se autoestradas para se poder mais facilmente levar a família em domingueiros passeios ao centro comercial, ergueram-se vistosos prédios nas periferias enquanto se deixavam os centros das cidades entregues aos fantasmas, abateu-se a enorme frota pesqueira e abandonou-se a agricultura, porque trabalhos manuais fazem calos nas mãos que se querem com ar urbano.

Houve muito dinheiro ao dispor, mas faltou-nos cosmopolitismo. Houve ideias sem ideais vertidas em projetos especializados elaborados aconselhadamente com a mão de quem os ia aprovar e, como não podia deixar de ser, faltou efetiva fiscalização. Alguns foram finos, a outros faltou-lhes o tino.

Por isso falhamos aquela oportunidade. Não soubemos multiplicar, porque quisemos brilhar em reluzidos automóveis que deviam ser tratores. Restou-nos sermos criados de mesa com bom ar para turistas chiques em demanda do nosso agrado pessoal, do nosso vinho e da nossa comida.

Vai cair-nos em cima muito dinheiro, mas também muita responsabilidade perante as gerações vindouras. Não existe retorno ao mundo de há um ano, mas podemos passada a tormenta, ir dar a um mundo melhor mesmo que o ser humano continue no seu pior.

Enquanto políticos, cidadãos, pais, filhos, avós, genros e noras, não teremos desculpa um dia mais tarde. Quarenta e cinco mil milhões, é dinheiro daqui até à lua. Que cada qual fique na sua e pense, pois, é assim que se vence. Ou nos salvamos todos, ou não se salva ninguém. Acredite.

Manuel Igreja

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