sábado, 1 de agosto de 2020

SERÁ QUE O FRANCISCANO TINHA RAZÃO?

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


Quando estive em Roma, conheci sacerdote, que estava hospedado no Convento anexo à Basílica de Santo António, na via Mariana.
Conversei, demoradamente, vários dias, com ele, durante as refeições, que tomamos em comum. Era frade, de origem germânica, mas vivia no Brasil – exprimia-se em português, corretíssimo, – e encontrava-se a passar, em serviço, alguns dias, em Roma.
Entre as longas e instrutivas conversas, que tivemos, veio à baila, a razão da rápida expansão, das Igrejas Evangélicas, mormente seitas, que nessa época, proliferavam, assustadoramente, por todo o território brasileiro.
Admirei-me da difusão, tanto mais, que em Portugal, havia, apenas as Igrejas Evangélicas tradicionais, saídas da Reforma ou reformadas anos depois.
Respondeu-me, que a seu parecer, a divulgação, foi em parte, facilitada pelo clero católico, porque fecharam-se com Cristo, no templo, e na sacristia. Pregavam mal, quando pregavam.
Como mostrasse interesse no tema, explicou:
- “Nós, sacerdotes católicos, temos formação superior. Exprimimo-nos com termos inacessíveis para grande franja de fiéis. Depois estamos imbuídos de tradições… Raramente “damos” (ou dávamos,): Cristo. O Cristo do Novo Testamento tal qual Ele ensinou.
_” Os evangélicos, na maior parte, são pastores sem formação académica. Exprimem-se com vocabulário popular, ilustrando com imagens acessíveis e de fácil compreensão.”
Fiquei a pensar no que ouvi, tanto mais, que Frei António, dissera-me, ao apresentá-lo, que era religioso experiente e sabedor.
Ao ler Frei Luís de Sousa, a:“Vida de Dom Frei Bartolomeu dos Mártires” (vol. I -pág. 87/88- Ed. Sá da Costa - 1946,) deparei com a opinião do Santo Arcebispo sobre formas de pregar:
“ O estilo de pregar era mui diferente do que usava na corte (o intento sempre nele foi o mesmo) deixou flores de retórica explicações agudas e conceitos elevados que servem lá para orelhas delicadas e entendimentos mimosos para as penetrar e fazer efeito a doutrina medicinal a modo de bom guisado, e entregou-se a todos termos chãos e doutrina clara que servisse para todos; porque esta cumpria à maior parte dos ouvintes”
Como se vê, o clero brasileiro, não soube, nessa ocasião, “descer” ao nível do povo simples, como fez o nosso Bartolomeu dos Mártires, quando saiu da Corte.
Bem disse, Vieira, no Sermão da Sexagésima, pregado em 1655: “É possível que somos portugueses e havemos de ouvir um pregador em português, e não havemos de entender o que diz?”
No parecer desse franciscano, que encontrei em Roma – já passaram algumas décadas, – um dos motivos da expansão das seitas, no Brasil, foi porque o estilo – dos católicos, – empregado, nas homilias, não era apenas “escuro”, era “negro”, com o Padre António Vieira, dizia dos pregadores, que usavam, no seu tempo, o estilo “culto”.
Será que o franciscano tinha razão?

Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

1 comentário:

  1. Caro Humberto,
    O Franciscano tinha razão.
    Há pouquíssimo tempo (janeiro de 2020),faleceu uma pessoa da família, que ficou internada no hospital por quatro meses,
    até que Deus a levou... O Hospital chama-se H. Nossa Senhora de Fátima,em Osasco-SP-Brasil.Por quase quarenta dias,
    eu passei o dia com ela no quarto do hospital,como acompanhante/cuidador. Há uma igreja, imensa,bonita,a matriz de Osasco,
    igreja de Santo Antônio.Pois bem;Devido às constantes crises da enferma,por duas vezes, num dos intervalos para "procedimentos",
    aproveitei a oportunidade para ir à igreja e rezar. Uma vez lá, quis procurar um padre uma oração à querida Tita,a enferma.
    Da primeira vez, o padre só apareceu no hospital, que dista não mais de duzentos metros da igreja,dois dias depois;fez a benção
    dos óleos e rezamos juntos. Na última vez que fui à igreja,procurar um padre para nova benção, deixei o recado (nas duas
    oportunidades não havia, segundo a secretaria da igreja, nenhum padre disponível,embora o seminário, onde ficavam hospedados,
    era uma extensão da igreja matriz,ao pé e ao lado, por isso,seria impossível não haver nenhum padre no seminário..
    Voltei ao hospital;era 13:00 horas! Às 14:00 horas,a Tita veio a óbito....

    Aqui em São Paulo,os pastores evangélicos visitam regularmente hospitais,e visitam todos os pacientes internados que possam
    receber visitas.Durante tantos dias que ali fiquei, pelo menos umas seis ou sete vezes, fomos visitados pelos pastores evangélicos,
    de pouca cultura e muito civismo, ainda que subliminarmente seja uma forma de evangelização.

    Tenho conhecimento de uma senhora que tinha um filho com HIV em casa.Vendo o filho definhar-se,foi algumas vezes à igreja mais
    próxima,à procura de um a palavra reconfortante. Pediu ao vigário que fizesse uma visita à sua casa,para abençoar o filho, em estado
    terminal: nunca compareceram! Depois, quase ao final da pobre vida do rapaz,ela procurou uma igreja evangélica: Por uma semana
    inteira,todos os dias,eles visitavam o filho enfermo e traziam "a palavra",como eles a definem....

    Que você acha? Para mim,o franciscano estava certo; aliás,certíssimo!
    Mesmo durante a pandemia, , com exceção do Papa Francisco,nenhum padre ou cardeal ou bispo da Igreja Católica Romana veio a
    público para uma mensagem confortadora ou uma oração, para diminuir os sofrimentos das famílias enlutadas pelo Covid-19 e para
    encorajar aqueles que,contaminados, precisam de energia extra para suportar os sintomas decorrentes da doença causada pelo C-19.


    Um abraço brasuca,

    Antônio Carlos Affonso dos Santos - ACAS

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