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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 14 de novembro de 2020

O que procurar no Outono: a gilbardeira

 Nem todas as plantas têm o mesmo ritmo de desenvolvimento. Muitas só agora começam a florir, outras a frutificar. A gilbardeira (Ruscus aculeatus) é uma dessas espécies, cujas bagas só agora começam a amadurecer.

Foto: Dominicus Johannes Bergsma

Além de garantir a sobrevivência e sustentabilidade da espécie, as bagas também fornecem alimento às aves numa época do ano em que este é mais escasso. As plantas têm uma “sabedoria interna”, resultado de milhares de anos de evolução, que lhes permite identificar essas mudanças e encontrar estratégias para as suportar, reduzindo o consumo de energia e dessa forma protegendo-se.

É no outono  que a maioria das plantas começa a canalizar o gasto de energia e a reabsorver o máximo possível de nutrientes para suportarem a estação mais fria, com uma baixa atividade metabólica.

Estas mudanças acontecem porque as condições ambientais também mudam. A quantidade de luz que recebem, por exemplo, diminui bastante. O sol nasce mais tarde e as noites chegam mais cedo e são mais longas e fica mais frio.

A gilbardeira

A gilbardeira (Ruscus aculeatus), também conhecida como “falso azevinho”, é a única espécie do género Ruscus nativa em Portugal continental. Da família das Asparagaceae, esta planta apresenta características morfológicas curiosas. Uma delas prende-se com o facto de toda a superfície da planta ser verde e realizar fotossíntese, com exceção das folhas verdadeiras que se desprendem rapidamente da planta ainda jovem.

Este pequeno arbusto perenifólio, cujas folhas verde-escuro se mantêm na planta ao longo de todo o ano, pode atingir 30 a 100 cm de altura. Apresenta um porte compacto e uma forma arredondada e rizomas subterrâneos de onde brotam inúmeros caules verdes, rígidos e sem pelos, densamente providos de ramos. Os ramos da gilbardeira são coriáceos, ou seja, têm uma textura semelhante à casca da castanha. São achatados e semelhantes a folhas e são designados de cladódios. No vértice, cada cladódio contém um acúleo, uma estrutura pontiaguda e dura, semelhante a um espinho. 

Foto: Bernard DUPONT/Wiki Commons

É por causa destas características que tem a designação científica de Ruscus aculeatus. O nome do género Ruscus deriva do latim, que por sua vez deriva do grego – rugchos – que significa “bico” e está associado aos cladódios e ao vértice que é agudo; aculeatus também deriva do latim e significa “um acúleo” (espinho).    

As verdadeiras folhas estão ausentes nas plantas adultas, uma vez que depois de formadas se desprendem rapidamente. Nas plantas jovens, as folhas passam despercebidas, já que são muito pequenas, em forma de escama, com apenas 3 a 4 mm de comprimento.

A gilbardeira floresce no inverno, e as suas flores mantêm-se até ao início da primavera. As flores são pequenas, solitárias, de cor branco-esverdeada, tingidas de violeta e surgem ao centro do cladódio. 

Foto: Luis Fernández García/Wiki Commmons

O fruto de cor vermelho-intenso e brilhante, quando maduro, contrasta com o branco suave das flores. O fruto é uma baga globosa, com 1 a 1,5 cm de diâmetro e contém 1 a 2 sementes amarelas. A sua maturação inicia-se durante o verão e estende-se até ao inverno. Os frutos servem de alimento a alguns animais, sobretudo aves.

A gilbardeira em Portugal

Esta espécie ocorre espontaneamente na parte atlântica da Europa e na região mediterrânica, mas também na Ásia Ocidental e no Norte de África. Em Portugal faz parte da flora silvestre de quase todo o território do continente e do arquipélago dos Açores. 

Com uma elevada plasticidade ecológica, a gilbardeira ocorre em qualquer tipo de solo, de preferência solos profundos e frescos e em locais sombrios. Mais ou menos tolerante à seca, não suporta geadas e temperaturas muito baixas. É comum encontrar-se esta espécie em florestas de sobreiro, de azinheira e de carvalho, podendo também surgir associada a areias do litoral e a zonas de matos xerófitos, locais compostos por plantas que possuem características específicas que lhes permite uma boa adaptação à falta de água (ex. presença de espinhos).

Azevinho falso e azevinho verdadeiro

A gilbardeira ou falso azevinho (Ruscus aculeatus) é muito confundida com o verdadeiro azevinho (Ilex aquifolium). A confusão entre estas duas espécies tem origem no contraste verde dos ramos e folhas com as bagas vermelhas brilhantes que ambas apresentam, mas nem sequer são parentes. As características morfológicas são muito distintas e o falso azevinho pertence à família das Asparagaceae e o verdadeiro azevinho à família Aquifoliaceae.

Verdadeiro azevinho. Foto: Jacinta lluch Valero/Wiki Commons

A gilbardeira é uma planta muito ornamental, pouco exigente e que pode viver cerca 20 anos. Nos jardins surge plantada em sebe ou isolada em canteiros.

Mesmo depois de colhida e seca, mantém um aspecto agradável por muito tempo. Além disso, o contraste verde-escuro dos ramos com as bagas vermelhas cria um efeito ornamental muito característico, sendo muito procurada na época natalícia para pequenas decorações. A sua procura e colheita excessiva na natureza causou um decréscimo das suas populações nativas, o que levou as autoridades europeias a integrá-la na lista de espécies com estatuto de proteção especial – Directiva Habitats 92/43/CEE do Conselho, de 21 de Maio de 1992, relativa à preservação dos habitats naturais e de fauna e da flora selvagens. 

Os seus ramos, por serem muito rígidos e ásperos, são utilizados tradicionalmente para fazer vassouras, vasculhos, que servem para limpar as chaminés. Os ingleses, por exemplo, conhecem-na como butcher’s broom, pois antigamente os seus ramos eram utilizados, nos talhos, para limpar as bancadas de madeira. Em Portugal, também é conhecida de pica-rato, uma vez que a presença de acúleos (espinhos) nos ramos ajuda a afastar os animais.

As suas raízes e rizomas (caules subterrâneos) apresentam propriedades medicinais recentemente descobertas e que têm sido muito aplicadas em fitoterapia (do grego – Phyton – que significa “vegetal” e – therapeíā – “tratamento”, “cuidado”), estudo das plantas medicinais e das suas aplicações no tratamento de doenças.

Carine Azevedo

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