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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 7 de março de 2021

D. PEDRO II E A CIDADE DO PORTO

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Sempre existiu amizade, entre os Imperadores e a população da cidade da Virgem; e desta, pelas terras de Vera Cruz, pois muitos foram os portuenses, que fizeram fortuna no Brasil.
Seu pai, D. Pedro I, chegou mesmo a legar, ao burgo tripeiro, o coração, grato pela forma como sempre foi recebido nessa cidade.
D. Pedro II realizou duas visitas à cidade do Porto.
Na primeira, foi recebido apoteoticamente pelo povo, que com entusiasmo O aplaudiu ao longo do trajecto, entre a estação ferroviária das Devesas, em Gaia, e a cidade do Porto.
Na segunda, o Imperador, viu falecer, no burgo portuense, a Mulher (filha do Rei Francisco I,) o que agravou, ainda mais, a aflitiva angustia em que vivia, pela afronta que lhe fizeram ao destrona-Lo. Ele, que sempre foi correcto, justo, pronto a perdoar a todos mesmo aos antagonistas.
Acerca de D. Pedro II, Ramalho Ortigão, escreveu, em Junho de 1971, nas “Farpas”,Vol. XII:
“O Sr. D. Pedro II cultivou o seu talento: é filólogo, é naturalista, conhece a história, a filosofia, a química, a medicina. De sorte que, quando um grande homem faz um discurso ao imperador, o imperador remunera-o fazendo um discurso ao grande homem”
Existe interessante livrinho, impresso em Coimbra, no ano de 1872, intitulado: “ Viagem dos Imperadores do Brasil em Portugal”, que minuciosamente descreve a primeira estadia do Soberano:
Desembarcou, o Imperador, no dia 1 de Março de 1872, pelas seis e meia da manhã, vindo de comboio, na estação das Devesas (Gaia), sendo recebido pelas autoridades e muito povo. A banda de música do Palácio de Cristal, animou a recepção.
Seguiram os Soberanos, para o Porto, atravessando a bela Ponte Pênsil, que fora engalanada de vistosas bandeiras, assim como todas as artérias, por onde passava o Imperador, com: galhardetes, arcos e bandeiras.
Nesse mesmo dia, visitou, na Igreja da Lapa, o mausoléu, que contem o coração de D. Pedro – Seu Pai.
Deslocou-se depois: à Igreja de S. Francisco, à Igreja da Misericórdia, ao antigo Convento de S. António, em S. Lázaro e à Academia de Belas Artes.
À noite D. Pedro II concedeu, no Hotel do Louvre – que ficava na esquina da Rua do Rosário e a Rua do Triunfo (actual D. Manuel II) – recepção, a numerosos convidados, que durou cerca de duas horas.
Assistiu, de seguida, no teatro Baquet, à comédia de Machado de Assis: “ O Caminho da porta”.
No dia seguinte, o Imperador, aguardava, no hotel, a visita do romancista Camilo Castelo Branco, mas este desculpou-se de não estar presente, invocando motivo de saúde.
Sem vaidade, simples, como sempre foi, D. Pedro II, resolveu deslocar-se à casa do escritor.
Luiz Oliveira Guimarães, em: “ O Espírito e a Graça de Camilo” – Edição Romano Torres – 1952, – conta-nos o curioso encontro:
“ Em 1872, Camilo que morava, então, no Porto, na Rua de S. Lazaro, foi visitado pelo Imperador do Brasil, que o condecorou com a Ordem da Rosa. Na pequena sala do romancista, havia, pendurados na parede, além de vários retratos dos Braganças , o retrato do poeta Béranger. O Imperador detinha-se a examinar a pequena galeria, quando Camilo observou:
“ - Vossa Majestade está a contemplar os retratos dos seus avós…
“-Mal imagina, meu amigo, em que eu estou a reparar! Estou a reparar que Béranger tem expressão muito mais feliz do que os meus antepassados…
“ - E sabe Vossa Majestade porquê?
“ Porque é menos perigoso fazer versos, do que decretos!”
Mais tarde o escritor dedicar-lhe-ia o romance: “ Livro de Consolação”.
A segunda visita e última à cidade, pelo D. Pedro II, foi, como disse, angustiosa e dramática:
D. Pedro II hospedou-se no Hotel do Porto, na Rua de Santa Catarina. A Imperatriz, muito doente, faleceu, a 28 de Dezembro de 1889, dizendo angustiosas palavras de tristeza: “Ó Brasil… minha terra tão linda e não me deixam lá voltar!...”
Era preciso translada-La para o Panteão de S. Vicente (de Fora) em Lisboa. O Imperador não possuía a quantia necessária.
O médico, Mota Maia, condoeu-se da atroz aflição, e foi contar ao Cônsul, o embaraço de sua Majestade. Este, movido de compaixão, lembrou-se do Visconde de Alvares Machado, homem rico, que fizera fortuna no Brasil.
Avisado pelo Cônsul, o Visconde, prontamente emprestou a quantia solicitada – vinte contos fortes.
Deste modo evitou-se o constrangimento de se pedir empréstimo bancário, e que a noticia caísse no domínio publico.
Doente, amargurado, triste, o Imperador (e Família,) partiu para o exílio, onde faleceu, a 5 de Dezembro de 1891 – com 66 anos de idade, – no hotel Berdford, em Paris.
D. Pedro II era um homem culto, inteligente, notável intelectual, admirado e respeitado em todo o mundo.
O prestígio granjeado pelo Imperador, levou o governo republicano de França a realizar as exéquias só prestadas a Chefes de Estado, na igreja Madeleine.
A urna, que continha terra brasileira, terminada a cerimonia, foi transportada, de comboio, para Lisboa, onde foi sepultado no mausoléu Real de São Vicente de Fora, ao lado de Sua Mulher, a Imperatriz Tereza Cristina Maria.
Trinta anos depois da sua morte, era proclamada a lei do banimento, que permitiu, que os restos mortais do Imperador e Sua Mulher – a 8 de Janeiro de 1921, – fossem trasladados para Petrópolis, Brasil.

Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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