Consumir mais ou consumir melhor, eis a questão…?
Os alimentos que comemos, a qualidade da água que bebemos e o ar que respiramos dependem de uma natureza saudável, a contrario sensu, as atividades humanas estão a sobre-explorar os recursos, os ecossistemas e as espécies!
A Agenda 2030 da ONU definiu um conjunto de objetivos para o desenvolvimento sustentável (ODS) e metas que abordam as dimensões social, económica e ambiental e constituem um plano de ação para as pessoas, o planeta e a prosperidade por forma a promover a paz, a sustentabilidade ambiental, a justiça e a igualdade.
Os ecossistemas ou biossistemas são conjuntos de comunidades específicas de seres vivos como plantas, animais e microrganismos que interagem num espaço específico como uma unidade funcional e os seus serviços estão abertos à valoração económica, sociocultural e da conservação da natureza. A Região Norte e sobretudo Trás-os-Montes e Alto Douro são ricas em áreas protegidas com um Parque Nacional (PNPG) e três Parques Naturais (PNM, PNDI e PNA) e a Paisagem Protegida Albufeira do Azibo.
Foi o reconhecimento do valor dos serviços ecossistémicos para a economia e bem-estar e a degradação que tem vindo a acontecer na sua estrutura e funcionalidade, geradora de fenómenos catastróficos, que exigiu a necessidade da sua recuperação. Esta está partilhada entre os Programas para o Ambiente (UNEP) e a Organização para Alimentação e Agricultura (FAO) da ONU e pretende combater a perda de biodiversidade, mitigação e adaptação às alterações climáticas e assegurar o abastecimento, a água e a segurança alimentar.
O clima deixou de ser tão regular como antigamente e lembro …! março, marçagão, manhã de inverno, tarde de verão (provérbio).
O Homem chegou a uma crise ambiental e económica sem precedentes que o obrigou a dar atenção ao conceito de economia circular que já tinha surgido umas décadas atrás e á sua proposta de analisar a dissolução entre crescimento económico e o consumo de recursos, inspirada nos mecanismos dos ecossistemas naturais que fornecem recursos em constante reciclagem e reabsorção.
A União Europeia no seu atual Plano de Ação para a Economia Circular tem como estratégia e objetivo criar uma Europa mais limpa e competitiva em associação com os agentes económicos, consumidores, cidadãos, organizações e sociedade civil.
A aplicação de medidas ao longo de todo o ciclo de vida útil dos produtos tem o objetivo de adequar a economia a um futuro ecológico, reforçar a competitividade, proteger o ambiente e conferir novos direitos aos consumidores. A sua estratégia de crescimento deverá traçar o caminho para uma transição justa e socialmente equitativa com o objetivo de melhorar o bem-estar das pessoas, tornar a Europa até 2050 climaticamente neutra e proteger o nosso habitat natural.
Ora a Economia Circular é vista como um elemento-chave para promover a dissociação entre o crescimento económico e o aumento do consumo de recursos. Neste modelo económico, regenerativo e restaurador, os recursos (materiais, componentes, produtos e serviços) são geridos de modo a preservar o seu valor e utilidade pelo maior período de tempo possível. Desta forma, aumenta-se a produtividade dos recursos, preserva-se o capital natural bem como o capital financeiro das empresas e sociedade civil” (In eco.nomia.pt.2021).
Como sabemos nesta fase da pandemia acentuaram-se desigualdades económicas, sociais e de género que já existiam resultantes da nossa débil economia. A situação passou a ser difícil de gerir porque a Terra está a mudar pela ação da destruição dos ecossistemas e da biodiversidade com fogos, inundações, secas, escassez de água, erosão do solo e extinção de espécies e o aumento do nível do mar.
Os ecossistemas sendo conjuntos de comunidades específicas de seres vivos como plantas, animais e microrganismos-biocenose, interagem num espaço específico-biótopo, como uma unidade funcional e conseguem estabelecer um equilíbrio biológico e ecológico que incluiu o homem. Eles podem ser terrestres, aquáticos, mistos e artificiais.
O capital dos ecossistemas suporta, conjuntamente com os ativos e fluxos abióticos (por exemplo a radiação solar, solo, minério e combustíveis, e as fontes energéticas renováveis ou proteção à radiação), o capital natural do planeta conjugando três grupos de valores, cultural, ecológico e económico (MAC.icnf).
Os Reinos Plantae e Animalia são importantes porque o primeiro engloba os seres vivos pluricelulares e produtores e o segundo os pluricelulares e consumidores como os grupos dos vertebrados e invertebrados. O ecossistema constituído pelo conjunto das relações vitais de interdependência (reguladas pelas condições físico-químicas e biológicas, que os seres vivos estabelecem entre si e o meio) formam as cadeias e níveis tróficos que envolvem as relações alimentares entre produtores, consumidores e decompositores. A cadeia trófica e os seus níveis indicam quem come o quê (um ser vivo alimenta-se daquele que o antecede na cadeia e, por sua vez, é comido por aquele que o sucede). Ora há uma sequência linear da transferência de matéria e energia que se inicia num produtor e finaliza num decompositor.
Em síntese a biodiversidade suporta, nos seus níveis mais complexos de organização, grande diversidade ecossistémica, com estruturas e funções variadas e impulsiona e diversifica diferentes habitats de espécie e seres organizados. Esta está cada vez mais ameaçada pelo Homem, o seu principal desestabilizador, devido à sobre-exploração e utilização menos criteriosa dos recursos.
A diminuição e degradação dos habitats naturais dos animais selvagens conduz a que se criem zoonoses transmissíveis ao ser humano.
A transição para a Economia Circular pode ajudar de facto, mas “exigirá uma mudança profunda no modo como valorizamos os nossos materiais, produtos e serviços”. O seu conceito estratégico “assenta na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia, substituindo o conceito de fim-de-vida da economia linear, por novos fluxos circulares de reutilização, restauração e renovação, num processo integrado”. (eco.nomia.pt. Matos Fernandes. 2020.M.AAC.Gov.pt).
Todos os seres vivos precisam do planeta mais limpo e sustentável porque não podemos mudar para outro nas próximas gerações. A imaginária invasão dos marcianos de H.G.Wells na sua The War of the Worlds, já lá vai e o Perseverance, que agora pisou as poeiras avermelhadas de óxido de ferro em Marte encontrou-o desértico e enigmático tal como as sondas que lá amartaram.
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