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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 10 de março de 2021

O FIM DO MUNDO

 Assim de repente, contei cinco. Vinham a subir umas escadas de cimento quando os comecei a ver. Acho que estavam a sair de um parque de estacionamento subterrâneo. À frente vinha uma mulher loira. Calças de lycra pretas. Um top justo, algures entre o rosa e o vermelho. Por cima, um casaco fino largueirão exatamente da mesma cor, descaído casualmente, a condizer com toda a indumentária, no ombro direito. As sapatilhas de corrida deram mais jeito do que o previsto, uma vez que estavam a tentar escapar de uma invasão de extraterrestres. Uma das mulheres do grupo foi apanhada, entretanto, por entre gritos e correrias. Era uma espécie de polvo, mas biónico, que emitia sons que faziam lembrar morsas. Mas também ela estava impecavelmente vestida. 
Calças de ganga e um blusão de cabedal castanho. O resto não vi muito bem, porque rapidamente foi sugada pelo ser biónico de outro mundo. Nunca entendi muito bem esta fixação dos aliens em matar os terráqueos. A não ser no Marte Ataca!, porque aí é claro que os marcianos têm só um sentido de humor retorcido (talvez não fosse a melhor altura para vos lembrar disto, mas agora já está). Voltando ao que vos estava a contar, os restantes safaram-se. Entraram, por uma unha negra, num prédio. Foram para um apartamento. E lá deu para ver que a loiraça tinha o cabelo imaculado, mesmo tudo indicando que estava a fazer a sua corrida matinal antes, e a maquilhagem incrivelmente no sítio. Isto, sim, era um anúncio para vender cosméticos - aqueles que sobrevivem, até, ao apocalipse. Acho que o final do filme não é muito feliz. Mas também essa não é a questão. 
A questão verdadeira é: estamos prontos para saber o que vestir, quando chegar o fim do mundo? A sério. Quando tivermos que fugir, levar só o indispensável (que é esse belo couro e pouco mais). Saberemos nós estar à altura de todas as películas que vimos, onde toda a gente aparece com aquele look casual-chic-super-confortável-para-lutar-pela-vida? Ou, mesmo que não seja, rapidamente se converte. 
Rasga aqui, corta ali, atira fora os sapatos de festa de salto agulha e calça umas botas da tropa arrancadas a um cadáver, que calha ser o nosso número. E faz envergonhar muitos designers ou costureiras mais habilidosas. Mais do que saber que é preciso assaltar uma farmácia, para roubar antibióticos, ou que a água que fica no autoclismo é boa para beber, é importante pensar na indumentária. É melhor levar um casaquinho para a noite, mesmo se for Agosto? As nossas mães diriam que sim. 
Cabedal é sempre bom, dá um ar de durão, mais uns óculos de sol marotos. Mas, se for Verão, é capaz de fazer transpirar. E a moça desse filme que vi não se safou nada bem, mesmo com a coberta janota. E, se o fim do mundo demorar muito a passar, como vamos fazer com depilações, unhas ou raízes descobertas? Ou barbas e cabelos à náufrago? E onde vamos arranjar espaço para a maquilhagem, cremes e produtos de higiene no meio da mochila ridícula onde só já há latas de comida de gato, frascos de feijão manteiga e meia dúzia de antibióticos fora de prazo? 
Sabem? Acho que não estou preparada, ainda, para o fim do mundo. Mas, se tiver mesmo que ser, pelo menos que não me apanhe com o pijama enfiado.

Tânia Rei

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