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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 6 de março de 2021

O que procurar no Inverno: a estevinha

 Carine Azevedo apresenta-nos este arbusto de flores vistosas, também chamado de saganho-mouro, sanganho-manso, sargaço-mouro e sargaço-manso.

Foto: H. Zell / Wiki Commons

No meu jardim procuro ter plantas com flor todo o ano. Não tenho relvados, pois a sua manutenção é exigente, dispendiosa e pouco diversificada em biodiversidade. Mas existe um cantinho especial a que tenho dedicado algum tempo nestes últimos dias: o meu jardim de plantas nativas. É ainda jovem e pequenino, em número e tamanho de espécies, mas muitas das espécies que plantei começam agora a florir.

A Estevinha (Cistus salviifolius), também conhecida como saganho-mouro, sanganho-manso, sargaço-mouro e sargaço-manso, foi a que me despertou especial atenção, pela simplicidade e beleza das suas flores.

Foto: Zeynel Cebeci / Wiki Commons

Esta espécie pertence à família Cistaceae, que inclui sete géneros e 175 espécies. O género Cistus compreende pelo menos 18 espécies identificadas, das quais cerca de uma dezena surgem espontaneamente em Portugal e são vulgarmente conhecidas como esteva, estevinha, estevão, sanganho, sargaço, etc. Dessas, três já crescem no meu jardim.

A estevinha

A Estevinha é um pequeno arbusto perene, muito ramificado, que pode formar moitas densas até um metro de altura. Tem uma longevidade de cerca de 15 anos.

As suas folhas são simples, ovadas, mais arredondadas na base e raramente têm mais de dois centímetros de comprimento. Possuem pelos estrelados em ambas as páginas, sendo a página superior rugosa e áspera, e de cor verde-escuro.

A floração ocorre entre março e junho. As flores são organizadas em inflorescências solitárias, cimeiras apicais, ou em conjuntos de duas a três flores, com três a cinco centímetros de diâmetro e com pedúnculos de dois a oito centímetros.

Foto: Peter A. Mansfeld / Wiki Commons

São hermafroditas e a corola é formada por cinco pétalas brancas, ligeiramente amarrotadas. No centro da corola surgem os estames livres e amarelos. O fruto é uma cápsula globosa, com 5 a 7 milímetros de diâmetro, que contém inúmeras sementes também globosas e reticuladas.

A designação científica da estevinha tem origem em algumas características morfológicas. O nome do género Cistus deriva da palavra latina cisthos que por sua vez deriva do grego kísthos que significa “cesta” ou “pequena caixa”, para descrever o tipo de fruto em forma de cápsula, que quando maduro, ao ser aberto, expele as sementes para o exterior. 

Já a designação salviifolius deriva da formação de duas palavras. A primeira, Salvia, associada às plantas do género com o mesmo nome devido às semelhanças das suas folhas, e folium, que significa “folha”. O conjunto das duas palavras significa “com folhas semelhantes às de uma Sálvia”, isto é, com folhas ovais, ásperas e peludas.

Condições naturais de desenvolvimento

A estevinha é uma espécie nativa da região mediterrânica e da Macaronésia. Em Portugal distribui-se um pouco por todo território, sendo mais rara nas terras altas do Norte e Centro. Não há registo da sua presença nas Regiões Autónomas. 

Ecologicamente, esta espécie adapta-se bem a diferentes condições, preferindo locais com exposição solar plena, solos arenosos, ácidos e ligeiramente secos. É uma espécie bastante resistente à seca, à exposição marítima e às geadas intensas. Adaptada a uma vasta gama de temperaturas, pode sobreviver em temperaturas negativas baixas (até aos -12ºC) e a temperaturas elevadas. No entanto, não tolera solos encharcados ou condições de alagamento constante.

É comum encontrar-se esta espécie em bosques perenifólios, no subcoberto de pinhais, em montados, em zonas de matos xerófilos, prados abandonados e margens de caminhos. 

Esta planta, assim como todas as espécies pertencentes à família das Cistaceae, tem muito interesse ornamental. Isto deve-se à sua grande resistência e por ter flores grandes, bonitas e delicadas, que contrastam com o verde-escuro das suas folhas e que podem ser mantidas em vasos ou como arbustos isolados em jardins e noutros espaços verdes. As flores são muito atrativas e muito procuradas pelas abelhas, dando origem a um mel de qualidade.

A estevinha é uma planta aromática, embora o seu aroma seja menos intenso do que o de outras espécies do género. Possui propriedades medicinais antissépticas, anti-inflamatórias e antitússicas. A infusão ou decocção de folhas e raminhos são utilizadas para tratar infecções urinárias, contusões, bronquite, doenças renais.

Colonizadora

A estevinha é uma espécie pioneira e um bom indicador biológico da degradação dos solos. É uma das primeiras plantas que surgem em áreas sujeitas a sobrepastoreio intenso, onde a competição com outras herbáceas e arbustos foi eliminada. É também das primeiras a aparecer após a passagem de um incêndio, pois as altas temperaturas quebram a dormência das suas sementes. 

Está muito associada a locais degradados e de baixa fertilidade e está adaptada a sobreviver em locais contaminados. Também é uma excelente opção para combater a erosão. 

Por tudo isto e associado ao facto de também possuir uma baixa exigência nutricional, esta espécie pode facilmente colonizar áreas degradadas, contribuindo para a recuperação das características dos solos, favorecendo a presença de espécies mais exigentes e contribuindo para a biodiversidade do ecossistema.

A estevinha é mais uma espécie nativa com um papel fundamental no reequilíbrio dos nossos ecossistemas. Procurem-na e encantem-se com a sua beleza natural.

Carine Azevedo

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