terça-feira, 20 de abril de 2021

A MINHA RICA CASINHA

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Nos tempos da minha juventude, o trabalhador – em geral a família vivia do seu salário, – era mal pago, mesmo assim, muitos possuíam pé-de-meia.
Da magra féria, o obreiro, se era poupado, guardava parte, para o sustento da família, e depositava o restante, receando o desemprego, e na vaga esperança de um dia adquirir casinha.
Preferia aforrar na Caixa Geral de Deposito ou noutra Caixa, que desse juros mais elevados, que os bancos, com a vantagem de aceitarem pequenas quantias.
O desejo de quase todos, principalmente os que pertenciam à classe média (qual a quantia mínima necessita a família, nos nossos dias, para pertencer à dita classe?) era virem a possuir a casa própria. Cantinho que pudessem dizer que era seu.
Pergunto agora: valerá a pena comprar a casinha?
No final do século XX, li num jornal do interior, a história de dois irmãos. Um trabalhador; outro valdevinos, que fazia biscates e vivia à custa do salário da mulher.
O trabalhador, comprou andar e ficou a pagar mensalidades ao banco.
O outro, construiu barraco, nos subúrbios.
O trabalhador, aforrava tudo; nem féria tinha. O valdevinos ausentava-se: no Verão para as morenas areias algarvias, e no Inverno, feriava na Serra da Estrela, ou ia para Serra Nevada.
Um dia, as autoridades, demoliram o barraco, e deram-lhe apartamento confortável, a renda simbólica.
Entretanto o trabalhador, mourejava para pagar sua rica casinha, fazendo grandes sacrifícios, aforrando tudo que podia, para cumprir as mil obrigações.
Perguntava o articulista: valerá a pena comprar casinha? Ter que pagar: impostos, derramas, obras, condomínio, seguros etc.…etc. … Vendo assim as coisas, direi que não…
A vida sempre foi, e será dos espertos, e não de quem trabalha e aforra; e quem governa, parece gostar, por vezes, mais do valdevinos, que do trabalhador honrado e honesto. Quem saberá a razão?

Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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