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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 10 de abril de 2021

O que procurar na Primavera: a alfazema

 O aroma inconfundível das alfazemas já se faz sentir um pouco por todo o lado. E a mim faz-me retroceder à minha infância. Recordo a fragrância dos saquinhos de pano que colocava nas gavetas com flores e raminhos de alfazema, para perfumar e impedir a presença de parasitas indesejados.

Foto: Xemenendura / Wiki Commons

Mas existe uma espécie de que gosto particularmente, a alfazema ou rosmaninho (Lavandula stoechas), também conhecido por lavanda, cabeçuda, rasmano e arçã. Não confundir este rosmaninho com outra espécie que partilha o mesmo nome comum e de que já falámos anteriormente.

A alfazema

A alfazema é um pequeno arbusto perene e aromático da família Lamiaceae, que engloba muitas outras espécies aromáticas bem conhecidas, como a hortelã, o alecrim, o orégão, a sálvia e o tomilho. As espécies que constituem esta família são maioritariamente arbustivas e herbáceas.

As espécies do género Lavandula possuem uma taxonomia complexa. Além desta particularidade, muitos dos taxa identificados com designações científicas diferentes têm o mesmo nome vulgar.

No que respeita à alfazema, trata-se de um arbusto semilenhoso que possui caules direitos, ascendentes ou prostrados, e que pode medir até cerca de 40 cm de altura. As suas folhas são pequenas, inteiras, quase lineares a lanceoladas, tomentosas e de cor verde-acinzentadas.

Por estes dias são já visíveis as primeiras flores desta espécie e a floração mantém-se até ao início do verão. As flores são pequenas, tubulares e labiadas, de cor púrpura-anegrada ou violeta-escura. Surgem entre brácteas quase da mesma cor e agrupadas em inflorescências compactas – espigas, com dois a quatro centímetros de comprimento. No topo dessa inflorescência surgem três longas brácteas petalóides com um a cinco centímetros de comprimento, de cor violeta a lilás. 

O fruto da alfazema é do tipo núcula ou clusa – um tipo de fruto seco, esquizocarpo, semelhante a uma pequena noz, que se divide na maturação, formando quatro frutos parciais. Tem forma elipsóide, é liso e brilhante, não possui pelos e é de cor acastanhada após a maturação.

Atribui-se a origem do nome Lavandula aos Romanos, que pode derivar do latim Lavare que significa “lavar, purificar”, relacionado com o facto de que estas plantas servem para perfumar a água do banho, ou do termo livendulo que significa “lívida ou azulada”. O restritivo específico stoechas provém do termo grego stoichas que significa “alinhado” e que está associado ao arranjo ordenado das flores.

Planta nativa e ornamental

As espécies do género Lavandula estão presentes quase exclusivamente na bacia do Mediterrâneo Ocidental. A Lavandula stoechas é nativa do Sudoeste da Europa e do Norte de África. Em Portugal pode ver-se um pouco por todo o país, sendo mais predominante no Centro e Sul.

Foto: Bj.schoenmakers / Wiki Commons

Surge em zonas de matos e matagais xerófilos, em clareiras e no subcoberto de azinhais, sobreirais, carvalhais e pinhais. Tem preferência por locais expostos e secos, substratos pobres, siliciosos e com pH ácido ou neutro. É tolerante a períodos de seca prolongada e intolerante às geadas.

Em Portugal podem encontrar-se duas subespécies: a Lavandula stoechas subsp. stoechas, espécie mais predominante no Centro e Sul, e que ocorre naturalmente também em Espanha, França, Grécia, Itália, Marrocos, Tunísia, Turquia, Argélia, Líbano. 

A outra é a Lavandula stoechas subsp. luisieri, vulgarmente conhecida como rozeira, e que é uma espécie endémica da Península Ibérica, com uma área de distribuição muito restrita. Em Portugal é menos frequente, podendo encontrar-se mais na faixa litoral e no Centro e Sul.

A alfazema é uma espécie com elevado interesse ornamental, quer pela sua folhagem verde-acinzentada, muito decorativa ao longo de todo o ano, bem como pelas belas flores de cor violeta a lilás que surgem durante a primavera e o verão. 

É muito utilizada em jardins públicos e privados, na composição de maciços, bordaduras, cercas-vivas, como arbustos isolados ou em grupos irregulares, em canteiros de plantas aromáticas, em vasos e em floreiras. Tem a particularidade de envelhecer precocemente se não for alvo de cuidados de manutenção regulares.

Planta aromática e medicinal

Além do interesse ornamental, esta espécie tem muitas outras aplicações. É valorizada como espécie melífera pela sua grande produção de néctar, e é usada como erva aromática e condimentar, em particular em carnes e azeitonas. 

As flores e as folhas também são utilizadas para aromatizar licores, chás e vinagres, e podem ser adicionadas ao açúcar para lhe conferir um aroma doce requintado. As folhas, flores e raminhos são usados em infusões e para aromatizar saladas e pratos guisados, doces de fruta e gelatinas.

As flores, folhas e raminhos secos são utilizadas em pot-pourri, ou acondicionadas em sacos de pano para colocar nos cómodos e nos armários, para aromatizar a casa, e servem também como repelente de insetos. Os raminhos mais finos e secos podem ser queimados como incenso.

A alfazema também é usada em fitoterapia, sendo reconhecida como anticatarral e mucolítico e pelas suas propriedades antidepressivas, sedativas, calmantes, relaxantes, antissépticas (no tratamento de feridas), anti-inflamatórias, etc. 

Na aromaterapia, o óleo essencial deste género (Lavandula sp.) é a base de muitos produtos e tratamentos, pelas suas qualidades tranquilizantes e por promover estados mais serenos.

Na medicina tradicional, este óleo essencial é usado sob a forma de infusões no combate a constipações, tosse, digestões difíceis, urticária, dores de cabeça, no tratamento do acne, nas picadas de insetos, queimaduras, problemas de coração e dores menstruais. Também é utilizado na preparação de xaropes em misturas com outras plantas e mel para aliviar outros problemas de saúde.

Do ponto de vista ecológico, é uma planta importante, contribuindo para o incremento da biodiversidade, servindo de alimento e abrigo a muitos animais da fauna silvestre. Além disso, esta planta tem uma alta tolerância a incêndios, sendo uma das primeiras a reaparecer em áreas devastadas pelo fogo.

Um aroma com história

Na história da Lavandula sp. há lendas que remontam ao Jardim do Éden e ao Antigo Egito. De acordo com inúmeros registos históricos, este género terá sido encontrado pela primeira vez em Naarda, uma cidade síria perto do rio Eufrates, e terá sido batizado como “nardus” – nardo. 

A Bíblia e os textos apócrifos referem-se ao nardo (associando-o ao género Lavandula) no “lava-pés” feito por Maria Madalena a Jesus Cristo. Também existem inscrições de que Cleópatra utilizou óleo de nardo para seduzir Júlio César e Marco António. 

Foto: Gianni Careddu

A sua fama, devido às inúmeras aplicações e benefícios, espalhou-se rapidamente pela Europa, e foi a principal precursora do desenvolvimento e da expansão da perfumaria e da cosmética. 

Hoje em dia o óleo essencial de alfazema é usado no fabrico de sabonetes, sabões e loções para banhos. Das folhas e das flores podem ser obtidos perfumes, pois a sua essência contém inúmeras substâncias que lhe conferem um aroma agradável e característico, floral e a terra.

Já todos sentimos estes aromas na água-de-colónia, no sabonete, no pot-pourri e até nos detergentes e nas flores do jardim, mas agora o desafio será procurar estas plantas na natureza e admirar a sua beleza natural. Sem as colher nem cortar, preservando-as.

Dicionário informal do mundo vegetal:

Taxon (no plural taxa) – nível taxonómico de um sistema de classificação científica de seres vivos (Ex: Família, Género, Espécie, Subespécie).
Ascendente – caule que se desenvolve na posição horizontal ou quase, mas que tende a verticalizar.  
Prostrado – caule estendido sobre o solo.
Linear – folha estreita e comprida (comprimento é 6 a 12 vezes mais do que a largura), com margens quase paralelas.
Lanceolada – folha com limbo que apresenta a forma de lança.
Limbo – parte larga de uma folha normal.
Tomentosa – folha coberta de pelos moles e muito finos que formam uma camada mais ou menos densa que a reveste.
Tubular – corola que possui um tubo muito alongado.
Labiada – corola irregular, dividida em duas partes, a imitar dois lábios.
Bráctea – folha modificada, localizada na base da flor que a protege enquanto está fechada.
Petalóide – semelhante a pétala pela cor e consistência.
Esquizocarpo – fruto seco que na maturação se divide em frutos parciais.

Carine Azevedo

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