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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 21 de maio de 2021

A VELHA E AS PEDRINHAS DO BAÚ

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Havia há muito e muitos anos, viúva que vivia sozinha com a filha. Um dia, esta, estando em idade de se casar, matrimoniou-se.
A mulher vendo a filha sem casa própria, e o genro sem grandes posses, assentou auxiliá-los.
Chamou a filha, á parte, e disse-lhe:
- Eu sei que quem casa, quer casa. Tenho dinheiro arrecadado. Sou velha e poucos anos de vida irei ter. Fala ao teu marido e compra uma casinha.
A filha, metida num fole, foi logo contar a oferta materna, ao homem.
Este, radiante, agradeceu a rara generosidade, e convidou-a para viver com eles, já que tinha doado tudo quanto tinha.
Ao verificarem a quantia recebida acharam que podiam comprar não uma casinha, mas uma quintinha, e construíram cómoda moradia. Reservaram, porém, quarto para a velha.
Decorridos poucos anos, a sogra parecia rejuvenescer. Cansados de a terem em sua companhia, pensaram mete-la num asilo.
Certa noite, estavam a conversar na possibilidade, quando a velha passou no corredor. Coseu-se com a porta e ouviu a intenção dos filhos.
Foi para o quarto, e pensou na má sorte de ter doado tudo em vida.
Cogitando muito, lembrou-se deste estratagema:
Após o jantar, recolhia-se no quarto, abria a arca, e começava a contar pedrinhas: “ Aqui estão dois mil, mais cinco, perfaz sete mil” e assim por diante.
A filha estranhando o recolher antes do serão, foi escutar à porta, para se inteirar o que a mãe estava a fazer.
Ouviu que esta contava “dinheiro”…
Foi entusiasmada dizer ao marido. Ambos se convenceram que a velha tinha no baú enorme fortuna.
Receosos que entregasse tudo a Casa de Caridade ou à Igreja, pensaram que melhor era aturarem a velhinha, até morrer.
Decorrido alguns anos, veio a falecer. Depois de se terem ausentado, os que a vieram velar, os filhos foram muito lampeiros destrancar a arca, cuja chave andava sempre recatada com  a velha.
Ao abrirem a caixa, encontraram-na cheia de pedrinhas. Por cima havia subscrito. Abriram-no sofregamente, pensando conter o extrato bancário.
Dizia o bilhetinho:
“ Não tenho dinheiro, mas deixo-vos conselho que será muito útil:
Não distribuam, pelos vossos filhos, os bens, antes de falecerem: é que uma vez recebidos, esquecem a sorte que tiveram.”
Muitas vezes ouvi, a idosos da família, contar a velha e relha historieta – julgo de inspiração popular, – da velha e as pedrinhas no baú. Contareco que ilustra bem,  a ingratidão do ser humano.

Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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