quinta-feira, 29 de julho de 2021

Parque do Vale do Tua alia natureza ao desenvolvimento económico

 Área protegida abrange cinco concelhos dos distritos de Bragança e Vila Real e destaca-se pelos seus miradouros e trilhos pedestres


Parque Natural Regional do Vale do Tua (PNRVT) foi criado, em 2013, na sequência da construção de uma barragem junto à foz do rio Tua, entre os concelhos de Alijó e de Carrazeda de Ansiães. É o único do país com as suas características, tem gestão local e abrange também os municípios de Murça, Mirandela e Vila Flor.

O técnico do Parque, Ari Neiva, explicou à TSF, esta quarta-feira de manhã, com os pés bem assentes no miradouro do Ujo, em São Mamede de Ribatua (Alijó), que a aposta tem incidido no "ambiente, no turismo sustentável e no desenvolvimento económico e social da região" abrangida. E como é que isto se consegue? "Com uma rede de 12 percursos pedestres homologados que cruzam as aldeias para lhes dar dinamismo e com apostas no astroturismo e na observação de aves".

Por outro lado, o PNRVT está a capacitar empresas e empreendedores dos cinco concelhos para esta nova realidade, através de "formação gratuita", para que "saibam como podem explorar o turismo de natureza". Ao mesmo tempo está a ser desenvolvida uma incubadora de negócios, não só para novos, como para os que já existem e precisem de ser reformulados ou necessitem de aceder a canais de financiamento. "O objetivo é contrariar o despovoamento galopante, que, infelizmente, caracteriza as regiões do interior", sublinha Ari Neiva.

A incubadora de negócios tem sido frequentada por várias pessoas em busca de novas oportunidades, entre as quais Filipa Cerqueira, de 23 anos, e Edgar Santos, de 27. Ela é engenheira de Gestão Industrial e ele é músico. Em comum, o gosto pela terra que os viu nascer, Mirandela, e a intenção de quererem continuar a viver nela. Graças à incubadora envolveram-se no projeto Verde Criativos, que resulta da paixão de ambos pela atividade cultural, que querem desenvolver no vale do Tua, em particular, e em Trás-os-Montes, em geral.

"Queremos pegar nos artistas da nossa região e impulsioná-los, criando iniciativas culturais", nota Filipa, enquanto Edgar admite que esta ideia incubada no PNRVT "permite construir, aos poucos, o sonho de ficar na terra". Acredita que "a maior parte dos jovens não fica no interior por falta de oportunidades, principalmente na área da cultura".

Outro ponto forte do Parque é a rede de percursos pedestres. É um projeto da Portugal NTN que já foi galardoado a nível nacional, conquistando o prémio da Natural.pt Awards, em 2018. Pesou o facto de conciliar a atividade de pedestrianismo com a conservação da natureza de forma sustentável e o contacto com as pessoas que vivem na área protegida. Domingos Pires, da Portugal NTN diz que "foi esta conciliação que permitiu transformar toda a estrutura em produto turístico com capacidade de alavancar a economia local".

O responsável da Portugal NTN salienta ainda que as pessoas estão a procurar cada vez mais "o que é autêntico nestes territórios, a ligação com as gentes e as experiências que aqui se podem ter". Entre elas destaca "poder provar um vinho, um queijo ou um azeite".

Para além disso, ao longo dos percursos há um conjunto de microrreservas de flora autóctone, que não são mais que "áreas com características especiais, quer pela sua biodiversidade, quer pela sua raridade". A sinalética que foi colocada nos trilhos permite "entender melhor as especificidades de cada área, mas também alertar para a importância da sustentabilidade ambiental".

O Parque dispõe de 12 percursos. Todos circulares. O mais pequeno está em Foz-Tua, Carrazeda de Ansiães, com 3,5 quilómetros. O mais longo é o de Vieiro-Freixiel, em Vila Flor, com 22 quilómetros. Os miradouros são 28, entre naturais e construídos, com vistas privilegiadas sobre a paisagem: Carrazeda de Ansiães e Mirandela têm sete cada um. Alijó tem seis, Vila Flor cinco e Murça três.

Em cada um dos cinco concelhos há portas de entrada que convém visitar antes de entrar, para perceber o que se pode conhecer nesta área protegida. A cada porta corresponde um dos cinco sentidos. Quem visita é convidado a usá-los todos, de forma integral, para que absorva todo o parque, parcela a parcela. É possível começar a descoberta aleatoriamente por qualquer um deles e depois avançar para os outros.

Num antigo armazém da estação ferroviária de Foz-Tua (Carrazeda de Ansiães), foi criado o Centro Interpretativo do Vale do Tua onde é possível fazer uma "viagem" pela dimensão cultural e humana dos cinco concelhos, bem como pela história da linha de comboio e da construção da barragem que alterou a fisionomia do vale.

Fotos: Eduardo Pinto

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