Jorge Afonso, produtor, desde 2009, no concelho de Miranda do Douro, teve sérios problemas em exportar o que produziu e, por isso, ainda tem muito por vender. "Não tive problemas de venda no mercado nacional, mas não consegui exportar. O nosso plano de crescimento no mercado internacional acabou por não acontecer. Está a ir muito devagarinho. Foi devido à questão da pandemia. Nacionalmente não tive quebras de vendas mas também não tive aumentos".
Ainda assim, o produtor prevê que este ano as vendas corram melhor. "Não engarrafei como devia ter engarrafado, estou ainda a trabalhar com o stock anterior, o que está a atrasar isto um ano a ano e meio. Vou ter problemas de stock se não vender isto rapidamente nos mercados que pretendo. Este ano, vou conseguir escoar mais 30% face ao ano anterior. No melhor dos casos, seria mais 70%. Como a campanha deste ano só vai ter efeito daqui a dois, com certeza que esta questão foi mitigada”.
A Cooperativa Agrícola Ribadouro, sediada em Sendim, no concelho de Miranda do Douro, tem mais de dois mil associados. Destes, são cerca de 800 os que entregam as uvas à entidade para as transformar e comercializar. Paulo Teixeira, responsável geral da cooperativa, assume que este ano está a correr muito melhor em termos de vendas. "2020 foi pior, 2021 já foi uma ano de transição, já não foi tão mau como no ano passado. Este ano não notamos uma quebra nas vendas da cooperativa. Poderá demorar mais que um ano a voltar ao normal. Mesmo em ano de pandemia, há irregularidades nas vendas e não é sempre a linha que se vende no ano seguinte igual ou número superior em quantidade ou valor. O que interessa é que se abrem novas portas e compensam potenciais saídas".
Apesar de a pandemia ter dificultado as vendas, Paulo Teixeira não quis deixar de salutar o trabalho que tem vindo a ser feito, nos últimos anos, em prol da reconversão das vinhas. Um trabalho que permite que tudo seja, hoje em dia, mais mecanizado e, por isso, menos dispendioso. "Foi importante para mecanizar essencialmente a vinha para permitir aos produtores produzir a um custo não tão elevado como era o anterior em que tinha de produzir ainda de uma forma muito rudimentar e muito manual, que exigia muita mão-de-obra. Hoje em dia consegue-se produzir com elevado grau de mecanização. Há falta de mão de obra, sim. Quer qualificada, quer mão de obra disponível para as colheitas".
Quem também lamenta a falta de mão-de-obra é o presidente da Comissão Vitivinícola Regional de Trás-os-Montes. Este problema já é bem anterior aos efeitos da pandemia e, segundo Francisco Pavão, os produtores têm-se valido dos familiares. "É um problema a falta de mão-de-obra até que, por exemplo, a terra quente transmontana, mesmo no planalto, a vindima coincide com a apanha da amêndoa, o que leva a que haja falta de mão-de-obra. Temos tentado trazer mão-de-obra de fora, nesta altura não é fácil. E sobretudo têm aqui uma grande questão, que é a mão de obra familiar que tem vindo a ajudar".
Ainda que vários produtores tenham algum vinho em stock, Francisco Pavão mostra-se satisfeito com o que se pode colher este ano. Prevê-se assim que 2021 seja razoável, em termos de produção e, pelo que as uvas demonstram, que a qualidade do vinho seja de excelência. "Só um ou dois produtores é que começaram já a vindimar, mas espera-se uma produção muito boa, quer em termos de quantidade, é um ano médio mas de qualidade, pois não houve problemas fitossanitários. Foi um ano em que não tivemos muitos problemas climáticos, como geadas ou coisas do género, por isso espera-se um ano bom. Neste momento, temos uvas de boa qualidade que se irão transformar em vinhos de excelente qualidade".
Além de se conquistar terreno na produção, a qualidade dos vinhos transmontanos acompanhou o processo, basta olhar-se para o reconhecimento, tanto nacional como internacional, que estes têm tido.
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