quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Rota das castanhas | Outono em Portugal

 O Outono chegou, com a sua pátina doirada e tapetes de folhas a cobrirem as ruas. A dias de se comemorar o São Martinho, aqui fica uma rota das castanhas, para um magusto caloroso.


Os castanheiros pintam-se de amarelo e castanho, à medida que o Outono avança, os dias ficam mais curtos e as temperaturas pedem lareira. Portugal prepara-se para o Dia de São Martinho (11 de Novembro), em honra do santo que morreu neste dia.

Diz a lenda que, num dia frio e chuvoso, Martinho seguia a cavalo quando encontrou um mendigo. Vendo-o a tremer, cortou o manto com a espada, cobrindo-o com uma das partes. Mais à frente, encontrou outro pedinte, com quem partilhou a outra metade. Sem nada que o protegesse do frio, o soldado romano continuou viagem, mas, nesse momento, as nuvens negras deram lugar ao sol.

A narrativa explica o fenómeno conhecido como “Verão de São Martinho”. Graças a esta melhoria climatérica, temporária e milagrosa, os magustos multiplicam-se um pouco por todo o país, com fogueiras e castanhas assadas (este ano, a pandemia vai arruinar a tradição, snif, snif).

Na verdade, o São Martinho é festejado um pouco por toda a Europa. Em Portugal, para além do magusto, é tradição beber-se água-pé, jeropiga e provar-se o vinho novo. Como diz o ditado popular, “em dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho”.

Inspirada no tema de Novembro do 8on8 – Festas e Festivais, preparei uma rota das castanhas por terras com tradição. Sabiam que 80% da área ocupada por castanheiros fica na região de Trás-os-Montes?

Concentram-se sobretudo em volta das Denominações de Origem Protegida (DOP), a saber, Castanha DOP da Terra Fria (distrito de Bragança) e Castanha DOP da Padrela (distrito de Vila Real). Para além de serem produzidos na área geográfica, o fruto tem que ser colhido do chão, sem recurso a métodos mecânicos ou outros para forçar a sua queda da árvore.

Preparem o estômago: é tempo de comer castanhas.

Castanhas no distrito de Bragança (DOP Terra Fria)

Em Bragança, não deixe de visitar o Museu da Máscara Ibérica

O castanheiro está muito presente na paisagem transmontana. Sagrada para os celtas, esta árvore nobre inspirou poetas e autores. Por exemplo, tem presença muito forte na obra de Aquilino Ribeiro, enquanto Miguel Torga diz que se trata de uma árvore com a “idade do mundo”, em Novos Contos da Montanha.

No distrito de Bragança, a castanha é rainha em várias festas e feiras, com destaque para Macedo de Cavaleiros, Bragança (por exemplo, aldeia de Terroso), Vinhais e Vimioso. Vinhais organiza há 14 anos a festa Rural Castanea, para celebrar o produto economicamente mais importante do concelho. A edição de 2020 será online, face ao contexto que vivemos.

Leia também Parque Biológico de Vinhais, um retiro no Montesinho

Em Bragança fica a maior empresa de transformação de castanha em Portugal e uma das maiores da Europa (Sortegel) que, para além de possuir quintas próprias, recebe o fruto de mais de um milhar de produtores locais. Outra curiosidade, que só descobri graças a este post, é que Bragança possui uma oficina da castanha, no centro histórico, com mercearia e até um pequeno museu (na próxima visita vou lá conferir).

#dica: uma vez comi um puré de castanhas em Bragança, que era do outro mundo. Normalmente acompanha pratos de carne mas se, como eu, não for carnívoro(a), pergunte se servem assim mesmo. Para saber um pouco mais sobre o castelo de Bragança, espreite Castelos de Portugal, 8 sugestões encantadoras.

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Ruthia Portelinha

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