Por: Maria dos Reis Gomes
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)
Falar sobre o Centro de Educação Especial de Bragança é falar sobre um Centro emblemático por diversas razões que tentarei articular.
Terminado o curso de especialização de professores de crianças inadaptadas, no Instituto António Aurélio da Costa Ferreira em Lisboa comecei a trabalhar no CEE no ano da sua inauguração em Vale D´Álvaro - Bragança - que aconteceu no ano letivo de 1972/73.
Foi um turbilhão de emoções a abertura de uma Instituição ainda por “decorar” para receber o público alvo que eram os alunos com NEE (Necessidades Educativas Específicas). À época não era a designação usada, mas assumo-a desde já porque a considero a mais inclusiva de todas as classificações atribuídas a esta população em particular.
Nesta abertura de instalações todos fazíamos de tudo um pouco, a começar pela diretora (Dr.ª Helena Serra) que era a primeira a pegar numa cadeira ou outro objecto, quando era necessário colocá-lo no lugar. Hoje, passados mais de 40 anos, considero que esta prática reforçou os laços numa equipa que se estava a construir. Era heterogénea na sua composição e eficaz na consecução do produto final.
As instalações eram agradáveis e o seu funcionamento foi modelo a expandir. Foram recebidas várias direções de outros estabelecimentos do país e estagiários de outros centros.
Todo o pessoal que integrava as equipas de trabalho recebeu formação contínua nas suas respetivas áreas e sempre em Pedagogia. Havia representantes de todos os sectores nas reuniões semanais de análise de procedimentos, desde a secretaria, enfermagem, cozinha, lavandaria, educadoras de estabelecimento, mestres, professores, psicólogo e terapeuta. Trabalhava-se de forma dedicada para responder à população que nos era entregue para cuidar durante o seu desenvolvimento, entre os 6 e até aos 18 anos de idade.
É essencial reconhecer a direção exemplar do estabelecimento na pessoa da Dr.ª Helena Serra que revelava uma aptidão invulgar para dirigir e um conhecimento alargado na área da educação especial.
Tinha muito a dizer sobre o tanto que aprendi com as pessoas com quem ali trabalhei, mas corro o risco de me esquecer de alguém. Opto tão só por homenagear as pessoas que sei que já partiram. A nossa querida Salomé tão dedicada. A Inês Nogueiro, uma mulher que eu sempre vi com um enorme coração. A Teresa Vara Pires que tanta falta me continua a fazer pelo carinho e proximidade das nossas famílias e pela verticalidade das suas posições.
Reinava um espírito de união e muita responsabilidade.
Estávamos interessados em que a cidade acreditasse no trabalho que ali se desenvolvia e por isso as portas foram sempre abertas ao público em geral e aos familiares dos utentes e de todos os que ali trabalhavam.
Foi-se muito mais além, quando a pequena piscina que fazia parte deste complexo, foi aberta às crianças inscritas no (FAOJ – Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis) e que aqui aprenderam a nadar.
Organizámos um Jardim de Infância para os filhos dos funcionários que ali trabalhavam. O transporte na carrinha da Instituição era-lhes garantido. O meu filho também frequentou este espaço e adorou. A educadora Teresa que os acompanhou era fantástica. Observadora, calma empática com todas as crianças. Obrigada Teresa.
Imagens de uma festa no CEE. Início dos anos 70. Há muita gente conhecida... |
Jardim de Infância dos filhos dos funcionários do CEE de Bragança - Início dos anos 70... |
As instalações e as equipas que trabalham hoje neste Centro têm que se reinventar sistematicamente para atender às complexidades das populações que são admitidas a partir dos 18 anos e revelam necessidades de diferentes etiologias.
Setembro de 2021
Estudou na Escola do Magistério Primário em Bragança, no Instituto António Aurélio da Costa Ferreira em Lisboa e na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação no Porto, onde reside.
Sempre focada no ensino e na aprendizagem de crianças com NEE (Necessidades Educativas Específicas) leccionou no CEE (Centro de Educação Especial em Bragança). Já no Porto integrou o Departamento de Educação Especial da DREN trabalhando numa perspetiva de “ escola para todos, com todos na escola). Deu aulas na ESE Jean Piaget e ESE Paula Frassinetti no Porto.
A escola, a educação e a qualidade destas realidades, são os mundos que me fazem gravitar. Acredito que, tal como afirmou Epicteto “ Só a educação liberta”. Os meus escritos procuram reflectir esta ideia filosófica.
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