sexta-feira, 8 de outubro de 2021

QUE INGRATIDÃO...

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Durante o tempo que fui redator de jornal local, realizei numerosas entrevistas a figuras públicas: industriais, grandes proprietários, políticos, artistas...
Durante a conversa, perguntei, também, a alguns milionários, como conseguiram obter os avultados bens.
Grande parte, informaram-me: que na realidade, o mérito – se havia mérito nisso, – era devido aos avós, que começando do nada, com sacrifícios e privações, acumularam as enormes fortunas.
Mas, ao interrogá-los como começou: a fábrica, a indústria, a casa agrícola, e o nome dos avós, a maioria respondiam-me de olhos vagos:
- "É uma boa pergunta! Sabe? Nunca tive o cuidado de saber. Vou tentar informar-me, para lhe dar os dados que precisa."
Directora de importante instituição, a quem fui recolher elementos para a biografia do tio. Benemérito, que fez fortuna na América, e, como não tivesse descendentes, tudo deixou para criarem a fundação, olhou-me espantada, e apontando com o indicador direito, o solene retrato, ricamente emoldurado, pendente na parede do salão nobre, limitou-se a dizer:
-"Meu tio..."
Nada mais conhecia, que o retrato, mesmo sendo a responsável... Envergonhada, sorrindo, disse-me que ia investigar…
Outra senhora, sobrinha de ricaço, cujo pai herdara do irmão incomensurável fortuna, pouco conhecia desse tio, nem foto tinha. Se quis ilustrar o texto, tive que fotografar a lápide, que estava no cemitério!...
Certa ocasião entrevistei figura conhecida, para publicar curta biografia do pai.
Recebeu-me, amavelmente, no luxuoso gabinete, lamentando não poder ser-me útil, porque do pai, só conhecia o nome e pouco mais...
Argumentou, que em criança, o paizinho, contava curiosas peripécias ocorridas na infância, mas nunca prestara atenção. Não lhe interessavas saber velharias...
Admirava-me, de início, que não soubessem curiosidades dos ascendentes (pais e avós,) mas conclui estupefacto: estavam mais interessados nos bens que herdaram, que lhes permite, viverem folgadamente, que nos pais e avós...
Pura ingratidão!...

Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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