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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Panorama do Santuário da Senhora do Castelo da Adeganha (Torre de Moncorvo)

Depois de termos descrito a espectacular igreja românica da Adeganha, dirigimo-nos ao Santuário da Senhora do Castelo. Percorremos a orla do Planalto da Adeganha em estradão que desengonça a nossa pobre viatura! Dos três “castelos” indicados pelo povo-Castelo dos Mouros, da Junqueira e este, vou ao mais cómodo; mesmo assim, repito, pobre viatura!

O ambiente granítico é agreste com carvalhas, zimbros e carrascos, por  vezes saltita à nossa frente uma perdiz. Local ideal para cobras, salteadores, anacoretas, pensadores e estetas.

A poente, descomunais, thors graníticos, a fragada, segundo as gentes locais, que por vezes permitem divisar, em abrupta quebrada o fértil Vale da Vilariça (**).

O santuário, de poderosa fama milagreira é constituído por uma capela principal, a da Senhora do Castelo e uma menor, a de São João, implantada no outeiro como um ninho de águias; o povo chama-lhe carinhosamente São Joãozinho. Era o padroeiro das maleitas. E não levava caro, bastava o seu chapéuzinho atestado de trigo…

Segundo se diz, a capela foi construída no século XVI e consta ainda que foi templo mourisco antes de ser cristão.

A capela da Nossa Senhora, a maior, fica mais em baixo num vasto terreiro.

É um espaço pejado de histórias (como a das açucenas que mais tarde contarei (se o leitor estiver disposto a ler artigos tão longos) e de vestígios arqueológicos. O local teve ocupação do Calcolítico até à Alta Idade Média, sendo os achados mais significativos da Idade do Ferro; aqui e além ainda se observam vestígios de troços de muralhas.

Em meados do século XVIII, dizia o Padre Luís Cardoso que “no sitio em  que se acha hoje a Senhora do Castelo, houve antigamente uma grande  cidade, da qual ainda se descobrem parte de muros” e ali perto” à  muita pedra que parece ruínas de antiga fortaleza e dizem ser um  castelo de mouros”.

Por aqui andou o Abade de Baçal achando restos arqueológicos, e segundo este “é  muito frequente ao longo da encosta do cabeço de S. João e após as  chuvas de Inverno encontrarem-se fragmentos de barro decorados, pedras  aparelhadas.”

A lenda da Senhora das Açucenas

Uma anciã passa com uma azémola, ligeiro crio diálogo, a princípio suspeitosa, depois  simpática pois não há quem resista à simpatia deste vosso viajante!

Conta-me a lenda (o milagre) associada à (re) construção do santuário.

“Há já muitos, muitos anos, vinha para aqui guardar o rebanho uma  pastorinha das redondezas. Logo que chegava, entrava na capela e  rezava à Senhora do Castelo. Dava dó, a capela! Já chovia no altar. E as raposas acoitavam-se ali de noite. Um dia Nossa Senhora sorriu-lhe.  Ficou a pastorinha muito assustada! Mas logo a Mãe de Deus a sossegou:  “não tenhas medo, minha filha. Gosto muito das tuas visitas. E quero  pedir-te um favor. Diz ás pessoas do Vale e da Fragada que venham  rezar aqui e que me componham a capela”. Perguntou a pastorinha como  acreditariam nela. Mas logo a Senhora a sossegou prometendo um sinal.

Foi-se logo ela dali. E aonde não foi, mandou. No domingo seguinte  muita gente veio cantar e rezar à Senhora do Castelo. Até o Sr. Padre, com a estola e água benta, não fosse o Demónio tecê-las. Lamentavam  todo o estado de abandono em que se encontrava a capela. E logo  fizeram o peditório para a compor quanto antes. De repente gritou a  pastorinha: “Olhem para o monte de São João”. Todos olharam. Até as  ovelhas! Foi tão grande o clamor, que ainda hoje, em certas alturas,  ela ecoa pela Fragada fora. O monte de São João estava todo cobertinho de açucenas! E desde então, até ao dia de hoje, sempre aqui  floresceram em Maio…”1

Poética lenda, com a senhora a porfiar que ali é que deveria ser a verdadeira peregrinação à “Nossa Senhora” e não à Cova da Iria; mas a  romagem, sem as multidões de Fátima, ainda hoje existe, em peregrinação às açucenas e à Senhora. A festa realiza-se no terceiro domingo de Maio.

Quase que esquecia de informar o leitor que a razão da nossa ida ao lugar começou por ser o panorama imponente do local, sobre o tectónico Vale da Vilariça (**), com as quintas da Terrincha, da Silveira a seus pés. Mas a imagem forte que retenho é outra.

Mau grado o meu lado agnóstico, comoveu-me profundamente a  espiritualidade (mais do que a religiosidade) da camponesa com o seu burrico, afastando-se, a descer o íngreme monte; peça bucólica na imensidão tempo e do espaço perdido, recolhe-mos à nossa pequenez  e mergulha nas profundidades do “meu” sagrado. É quase noite e apenas  um borrão de luto se desloca ao longe. Um novo aceno, estamos vivos, eu, a senhora Maria e o burrico. Partamos desprendidos!

Fonte de Informação – “Mensageiro de Bragança” de 25-05-2006, de um  texto retirado do Sr. Padre Joaquim Leite. Maria.

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