O fadista Paulo Bragança criou uma edição apenas digital e livre do 'White Rabbit', de Jefferson Airplane, como forma de dizer que está vivo, que o artista não pára de criar e de ser, quer se veja, quer não.
E não tem sido 'visto', Paulo Bragança...Mas diz 'oiçam', ainda que somente desta maneira, em época de Natal.
Da sua ausência, do silêncio sobre si e deste 'White Rabbit', diz o próprio:
"Era o 1.º Natal do ano zero da era de Sanpantímpia-demia, uma Santa híbrida adequada a estes liquefeitos dias de todos os corridos a passos per diem!
Caminho amparado pelo inteirinho céu de Lisboa por tecto, de estrelas farto e longe, por paredes todas as casas e “as pedras pequeninas“ - qual poema de Ary na Rua da Saudade quando a noite é uma rosa negra florescida à Portuguesa - a cama do leito em que me deito.
E caminho sem destino, em desatino.
E penso ao ritmo dos passos em bater de quartzo daquele que se traz do Verso Uno.
Que batesse ao menos e o ritmo aquecia o frio. Um sopro de colar vidro me chegava do bater dos passos, do silêncio lindo da casa que era toda minha, só minha: Lisboa inteira.
Não tinha nela, Lisboa casada mulher do Homem de mim por casa, escritório, atelier ou estúdio em jeito de Studio que mais chique é que melhor conta seja pela experiência da aparência, benquerença quanto baste que nunca nunca é ou será demais!
E penso: Natal por onde andarás tu?
Do Natal se nasce e é por se nascer que é Natal sempre, sempre que nasce um Ser do deveras Ser!
E penso: sem haveres ou teres eu ser sou um Ser! Lei imutável no núcleo atómico. À flor epiderme é um ai que lhe como o vento tudo levou e lhe deu teres de ouros, mirras e birras e bizarrias de epidemias de muito correr para sempre ter e haver.
E penso: tenho na cabeça uma oficina: de ferramentas para maleitas do Ser, brinquedos de conta a fazer, tabuinhas, Xizes actos de Matriz do que um dia era havido e sido e nada quis ter querido…
Caminho pela imensa casa vazia e a minha cabeça é uma oficina e eu dela artesão de peças feitas pelo régio coração.
Das estrelas lá do Alto lindo silêncio procurei pela que guia pois perder-me não podia: como? Como um dia em mim, a mais ou a menos nascer haveria?
Perder-me não podia e na minha cabeça tenho uma oficina. Dela sou o ofício do mister que me faz ser um Ser!
E caminhando se morre e nasce a cada dia e sou o Artesão do ser em construção do eu, Humano.
Perfeito quer dizer: a ser feito, para se fazer. É pois movimento, moção natural, ou seja perfectível, factor de soma onde nada está a mais ou a menos, não é por bem nem por mal que um dar sentido que é Sagrado, não conhece tal.
O Homem, Humano a ser não é Artista. É a obra de Arte.
Dessoutra, vai espampanante, inchada, triunfante e é um mal sem cura, apesar do penso rápido que tapa mas a ferida perdura. Causa que pela qual tudo se fina:
Morte por enfarte de tanta arte!
A negação de tudo deve ser exagerada até ao extremo do Abismo, para que assim se volte ao Princípio Natural das coisas, ao qual devemos puro resígnio. Não aceitação ou respeito mas puro e simples resígnio! Imutável!
É o que nos resta indelével no nosso sub-sangue!
Haja pois Natal em cada Ser que a todo os tempos que há no Tempo de cada dia e das crianças, crias em ânsias se façam e cresçam Seres Humanos, plenos de Ser. Nada está no Homem que não seja próprio do Homem, do Ser Humano.
Libertai a cabeça!
Que os despojos do software Vida - jogo compacto e formatado fast-usa-pronto a viver - recarregável em qualquer lugar sob a sua sombra, pim pim catrapim, é engolir e já: - Estou sim! , não tenham Terra que os redimam.
Os porcos, não são porcos, porque são porcos!
Os Deuses, não são Deuses, porque são Deuses!
O Homem não é Homem, porque é um a-ser Humano!
Seja Natal na criança que lá está, escondida a salvo da Inquisição democrática, em todos e cada um do Ser que em um de cada de nós É!" Paulo Bragança
Portal do Fado
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