O Vale da Vilariça tem uma área aproximada de 34.000 hectares, constituindo uma pequena planície aluvionar de 5000 hectares, da ribeira que lhe dá o nome, e que nasce a cerca de 25 kms na Serra de Bornes.
O Vale da Vilariça corresponde a uma mega fractura activa, que atravessa o distrito de Bragança no sentido N/S, provinda da Galiza e que se prolonga pelo distrito da Guarda. Esta falha alargou-se no curso inferior do rio Sabor e na ribeira da Vilariça. É esta grande estrutura que obriga o Douro a dar um meandro caprichoso na Quinta Vale de Meão (a quinta que a uns anos atrás produzia o vinho tinto mais famoso de Portugal (o Barca Velha) (*).
A Rebofa do Vale da Vilariça
Quando o caudal do rio Douro é maior, impede as águas de rio Sabor de desaguar naquele. É o refluxo do rio Sabor que possibilita a sedimentação de nutrientes no fundo do vale tornando-o muito fértil- é a rebofa. A regularização do curso do Douro, primeiro com o rompimento do Cachão da Valeira no final do século XVIII e mais recentemente com a construção de barragens, tem vindo a diminuir a intensidade das rebofas do passado.
O Vale da Vilariça tem grande produtividade agrícola
Durante séculos a cultura do cânhamo dominou o vale da Vilariça, decrescendo a sua importância após meados do século XVIII, com o encerramento da Real Feitoria dos linhos cânhamos e com o desenvolvimento da cultura da seda. A partir daí são as culturas cerealíferas e hortícolas em regime intensivo que ocupam as atenções dos lavradores da veiga.
São famosos, apesar de cada vez mais esquecidos, os melões, «Carrasco» e «Lagarto», variedades regionais oriundas do Vale.
Embora aqui ou ali se vejam alguns tractos de vinha, esta espalha-se mais- tal como as amendoeiras, as oliveiras e as laranjeiras- pelas encostas que ladeiam o vale. A produtividade das terras da Vilariça é notável, permitindo o desafogo financeiro das populações do Concelho de Torre de Moncorvo.
Grande riqueza arqueológica nas escarpas adjacentes ao Vale da Vilariça
As escarpas graníticas vigorosas delimitam o Vale da Vilariça e no seu topo, em cabeços, implantaram-se vários povoados pré-históricos: Baldoeiro (*), Santa Cruz da Derruída, Castelo da Mina, Senhora do Castelo na Adeganha (*), todos eles ricos em vestígios arqueológicos. Destes “castros”, por vezes inacessíveis ao vulgar turista, colhem-se belas visões panorâmicas do vale, com o amplo xadrez geométrico dos seus campos verdejantes.
Mas há um grande senão nesta beleza. Nos dias quentes de Verão o calor húmido torna-se insuportável, e as sombras não abundam. A insalubridade do estio no passado deve ter provocado a demanda das populações destes povoados abandonados; isto também pode explicar que a população de Santa Cruz da Derruída se tenha mudado, e fundado outra localidade, na Idade Média -Torre de Moncorvo – mais defendida das sezões.
Na foz deste vale, defronte ao Monte de Meão, meandra o vasto Douro, num lençol de água que nos faz esquecer da nossa existência e que nos arrasta para uma estranha melancolia; partamos daqui com a certeza que esta depressão, é um oásis de verdura e de fertilidade no ressequido e descarnado Trás-os-Montes. É um dos belos rincões de Portugal.
Original aqui.
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