terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

A GULBENKIAN E A ÁGUA

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Calouste Sarkis Gulbenkian, refugiado da Segunda Grande Guerra que a ditadura portuguesa de direita acolheu, em Lisboa, fez fortuna a negociar petróleo e interesses petrolíferos tendo deixado à Fundação que criou, ricos ativos nessa indústria. Os rendimentos da atividade industrial em hidrocarbonetos foi, durante seis décadas, uma das principais fontes de receita da Fundação Calouste Gulbenkian. 
Esta dependência dos combustíveis fósseis terminou, recentemente, com a alienação da Partex. Para além de outras atividades e realizações, condicentes com a nova era, mais ecológica da instituição da Avenida de Berna, decidiu apoiar projetos que visem o uso racional da água, o petróleo do século XXI. 
No âmbito do Programa de Desenvolvimento Sustentável lançou duas ações. Uma, de atuação direta, para a realização de um estudo para determinar o valor da água no setor agroalimentar, já realizado, cujas conclusões foram publicadas na obra “O Uso da Água em Portugal – Olhar compreender e atuar com os protagonistas chave” que está disponível para download na página da Fundação e outra, na sequência desta, apoiando projetos que visem este desiderato cujas candidaturas estiveram abertas entre julho e agosto do ano passado. O “Apoio à demonstração na gestão da água de rega” pretende contribuir para o uso mais eficiente de água na agricultura, apoiando entidades com conhecimento e experiência na gestão da água e que se disponham a trabalhar com outros representantes do setor agrícola. A Gulbenkian anunciou, recentemente, a lista dos cinco contemplados. 
O naipe de entidades apoiadas é diverso e abrange, não só um espetro alargado de atividades agrícolas como igualmente uma significativa dispersão geográfica. Associações de produtores e Institutos regionais e nacionais que apoiam a cultura e os produtores e estudam a teoria e a prática da atividade agrícola, sedeados por todo o país, a título individual ou agrupados em áreas de interesse. Igualmente as áreas cobertas vão desde os cereais, as oleaginosas, legumes, até, obviamente à vinha. 
Despertou-me a atenção o projeto GOTA que pretende Gerir, Operacionalizar e Transferir o uso eficiente da Água, na vinha (de onde resulta o feliz acrónimo) na região duriense, com especial enfoque no Alto Douro. Espera-se que os resultados destes projetos possam beneficiar, numa primeira fase, obviamente, os associados das instituições proponentes mas que, igualmente, contemplem ações de divulgação e promoção que façam chegar a todos os interessados, as conclusões e benefícios com eles alcançados. Tal, para além da contribuição indispensável dos beneficiários do apoio concedido, da própria Gulbenkian, a quem interessa a maior divulgação, dispersão e difusão dos resultados, deverá contar com a colaboração ativa das Câmaras Municipais a quem o objeto de estudo e melhoria deva interessar por contribuir para o progresso e desenvolvimento da população concelhia, no interior, que continua a ter uma elevada componente rural. 
É a re-edição, de outra forma e noutros moldes, de um dos mais emblemáticos e bem sucedidos programas da Gulbenkian, como foram as Bibliotecas Itinerantes a que os municípios responderam, adequada e oportunamente, com a instituição das Bibliotecas Municipais.

José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance), Canto d'Encantos (Contos) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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