segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

AZUL E AMARELO

Por: Maria da Conceição Marques
(colaboradora do "Memórias...e outras coisas...")

Visto a alma de azul e amarelo, decoro-a com humanidade e sensibilidade.
Os meus olhos são imensidão no terror das cidades, onde se acendem fogueiras, uma espécie de lume que me inunda as veias e me diz que entre no coração da gente. A alma dói, o peito sente.
Eu, não sou apenas eu na dor que me rodeia, nas lágrimas que escorrem em rostos desconhecidos, nos estilhaços de balas perdidas, no azul celestial dos olhos de meninos, no esvoaçar descontente nas asas dos passarinhos.
Sinto o estremecer dos prédios derrubados, os braços cansados, de uma luta que não é minha, mas que me aperta o coração. Oiço as sirenes que arrepiam num país que desfalece, numa terra sem chão. Tombam corpos, portas e janelas, nesta onda de terror, onde avança a crueldade, onde desagua o desamor.
Há uma apoteose de luz a encher-me o peito, uma esperança sem cor e sem jeito, que as balas se transformem em rosas amarelas, que apenas se disparem pétalas e amores, que se façam apenas guerras de paixão.
Que reine no mundo harmonia, o respeito pelo próximo, a alegria e a satisfação, na mudez dos violinos,  na paz infinita, no repicar dos sinos, no bater compassado do coração.

Maria da Conceição Marques
, natural e residente em Bragança.
Desde cedo comecei a escrever, mas o lugar de esposa e mãe ocupou a minha vida.
Os meus manuscritos ao longo de muitos anos, foram-se perdendo no tempo, entre várias circunstâncias da vida e algumas mudanças de habitação.

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