Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
O meu irmão mais velho era um tipo que em tudo que lhe acontecia tentava sempre aproveitar o lado humorístico de situação. Assim as situações mais facetas eram vividas e contadas por ele com uma graça que sempre apreciei e que me leva a partilhar convosco as peripécias inauditas que lhe calhou viver.
No tempo da publicação da lei que proibia aos condutores de qualquer veículo a ingestão de álcool, o que ocasionou que a Guarda Republicana se tivesse deslocado massivamente para a Estrada e mandasse parar a maioria da frota automóvel, com o pretexto de fazer com que a lei fosse dura (dura lex sede lex) primeiro porque o capital de todas as multas aplicadas e pagas iria engrossar o Erário Público e dar solvência ao Governo para pagar a féria aos polícias e guardas-republicanos, segundo porque é logo após a publicação das leis que se deve actuar sobre os cidadãos que ainda não a conhecem e assim mais tenderão a esbarrarem na ratoeira.
Pois bem, levantou-se o homem às 06:30 da matina e foi buscar o pessoal para continuar com uns trabalhos que devia acabar em Grandais. O ponto onde devia apanhar os dois homens era na Avenida João da Cruz e quando saiu do carro verificou que os dois operários estavam dentro de um café. Quando entrou logo um dos operários mandou vir um café e um bagaço para ele. Aceitou e depois de beber o mencionado seguiu para o destino. Chegado e depois de deixar os homens a trabalhar regressava à cidade tendo parado quando o dono da obra o viu e lhe gritou que lhe oferecia um café no Abade.
Após as cortesias da praxe veio mais um café e mais um bagaço. Terminado o segundo "round " entrou no carro e conduziu-o até encontrar uma patrulha da GNR que lhe fez alto. Não fez questão de pensar no que ali encontraria, mas ficou surpreendido quando o guarda lhe ordenou que soprasse no balão.
A tentação de encobrir a ingestão de álcool sucumbiu pois seria impossível fazê-lo e o remédio foi inventar uma mentira. Afinal o "crime" não era assim tão nefando.
Logo que conferiu o aparelho de medição, o guarda com ar de condescendência e de acidez corrosiva diz-lhe: - Ainda não são nove da manhã e já acusa álcool que vai para além do permitido. O meu irmão com a maior calma possível retorquiu: - Não admira tal, pois já rezei duas missas e ainda devo rezar mais uma esta manhã. A competente autoridade ficou siderada. Um pouco incrédulo mas receptivo à desculpa proferida com uma convicção absoluta, o guarda pergunta por sua vez: - O Senhor é Padre? Sim e não me é possível exercer o múnus que me compete sem que beba um pouco de vinho fino, que é o culpado desta infracção, aos olhos da lei, mas de capital importância na conclusão de tal ritual católico.
O guarda rendido ordenou: - Siga e que Deus esteja consigo. Daquela vez safou-se.
De outra vez seguíamos para Guimarães na intenção de assistirmos a um jogo de futebol entre o Sporting e o Vitória quando perto de Vila Real somos surpreendidos por uma patrulha da Guarda Republicana que tinha Sargento e nos fez alto. O Duarte Conés ia connosco e como sempre não deixou a fama na mão de alheios e colaborou num exercício de pura influência por actos próprios de jogos de palavras em que uns usam elementos falaciosos para obter a condescendência da parte mais forte que pode decidir o pleito.
O Sargento abre a porta pelo lado de fora, sobe os degraus e levantando a cabeça conta mencionando os algarismos em tom sonante: - Um, dois, três e continuou assim até atingir o número Dez.No mesmo tom de voz disse: - Seguem dez passageiros e a viatura só pode transportar nove. O meu irmão respondeu em tom de desculpa: - Dez não, nove, que aquele que está ali é um chimpanzé que levamos para o deixarmos no Jardim Zoológico. O Conés automaticamente encolheu os ombros fez um esgar de macaco batendo com as palmas das mãos no chão e levantando as pernas flectidas conseguiu fazer rir a plateia e o próprio Sargento da Guarda. Disse então o Sargento: - Se vocês vão ver o Sporting deviam levar um leão, mas como levam um macaco, tenham cautela não salte para cima da baliza e se torne em décimo segundo jogador, que é contra os regulamentos.
A rir, entregou ao meu irmão os documentos e desejou-nos boa viagem recomendando que se fôssemos interceptados por outra patrulha disséssemos que o Sargento tal já nos tinha feito a inspecção respectiva.
Ganhámos 1-0 golo de Peres e o GDB também ganhou nesse domingo e quando soubemos do resultado do Bragança cantámos o (tudo está no seu lugar, graças a Deus, graças a Deus.
São boas recordações que eu compartilho convosco e que hoje ao recordar-me me transportam para um tempo em que todos estavam presentes e hoje só resto eu para recordar. Eles, os mencionados e os omissos eram gente da minha terra, com quem me fiz homem no tempo certo para o ser.
No tempo da publicação da lei que proibia aos condutores de qualquer veículo a ingestão de álcool, o que ocasionou que a Guarda Republicana se tivesse deslocado massivamente para a Estrada e mandasse parar a maioria da frota automóvel, com o pretexto de fazer com que a lei fosse dura (dura lex sede lex) primeiro porque o capital de todas as multas aplicadas e pagas iria engrossar o Erário Público e dar solvência ao Governo para pagar a féria aos polícias e guardas-republicanos, segundo porque é logo após a publicação das leis que se deve actuar sobre os cidadãos que ainda não a conhecem e assim mais tenderão a esbarrarem na ratoeira.
Pois bem, levantou-se o homem às 06:30 da matina e foi buscar o pessoal para continuar com uns trabalhos que devia acabar em Grandais. O ponto onde devia apanhar os dois homens era na Avenida João da Cruz e quando saiu do carro verificou que os dois operários estavam dentro de um café. Quando entrou logo um dos operários mandou vir um café e um bagaço para ele. Aceitou e depois de beber o mencionado seguiu para o destino. Chegado e depois de deixar os homens a trabalhar regressava à cidade tendo parado quando o dono da obra o viu e lhe gritou que lhe oferecia um café no Abade.
Após as cortesias da praxe veio mais um café e mais um bagaço. Terminado o segundo "round " entrou no carro e conduziu-o até encontrar uma patrulha da GNR que lhe fez alto. Não fez questão de pensar no que ali encontraria, mas ficou surpreendido quando o guarda lhe ordenou que soprasse no balão.
A tentação de encobrir a ingestão de álcool sucumbiu pois seria impossível fazê-lo e o remédio foi inventar uma mentira. Afinal o "crime" não era assim tão nefando.
Logo que conferiu o aparelho de medição, o guarda com ar de condescendência e de acidez corrosiva diz-lhe: - Ainda não são nove da manhã e já acusa álcool que vai para além do permitido. O meu irmão com a maior calma possível retorquiu: - Não admira tal, pois já rezei duas missas e ainda devo rezar mais uma esta manhã. A competente autoridade ficou siderada. Um pouco incrédulo mas receptivo à desculpa proferida com uma convicção absoluta, o guarda pergunta por sua vez: - O Senhor é Padre? Sim e não me é possível exercer o múnus que me compete sem que beba um pouco de vinho fino, que é o culpado desta infracção, aos olhos da lei, mas de capital importância na conclusão de tal ritual católico.
O guarda rendido ordenou: - Siga e que Deus esteja consigo. Daquela vez safou-se.
De outra vez seguíamos para Guimarães na intenção de assistirmos a um jogo de futebol entre o Sporting e o Vitória quando perto de Vila Real somos surpreendidos por uma patrulha da Guarda Republicana que tinha Sargento e nos fez alto. O Duarte Conés ia connosco e como sempre não deixou a fama na mão de alheios e colaborou num exercício de pura influência por actos próprios de jogos de palavras em que uns usam elementos falaciosos para obter a condescendência da parte mais forte que pode decidir o pleito.
O Sargento abre a porta pelo lado de fora, sobe os degraus e levantando a cabeça conta mencionando os algarismos em tom sonante: - Um, dois, três e continuou assim até atingir o número Dez.No mesmo tom de voz disse: - Seguem dez passageiros e a viatura só pode transportar nove. O meu irmão respondeu em tom de desculpa: - Dez não, nove, que aquele que está ali é um chimpanzé que levamos para o deixarmos no Jardim Zoológico. O Conés automaticamente encolheu os ombros fez um esgar de macaco batendo com as palmas das mãos no chão e levantando as pernas flectidas conseguiu fazer rir a plateia e o próprio Sargento da Guarda. Disse então o Sargento: - Se vocês vão ver o Sporting deviam levar um leão, mas como levam um macaco, tenham cautela não salte para cima da baliza e se torne em décimo segundo jogador, que é contra os regulamentos.
A rir, entregou ao meu irmão os documentos e desejou-nos boa viagem recomendando que se fôssemos interceptados por outra patrulha disséssemos que o Sargento tal já nos tinha feito a inspecção respectiva.
Ganhámos 1-0 golo de Peres e o GDB também ganhou nesse domingo e quando soubemos do resultado do Bragança cantámos o (tudo está no seu lugar, graças a Deus, graças a Deus.
São boas recordações que eu compartilho convosco e que hoje ao recordar-me me transportam para um tempo em que todos estavam presentes e hoje só resto eu para recordar. Eles, os mencionados e os omissos eram gente da minha terra, com quem me fiz homem no tempo certo para o ser.
Bragança 17/ 02/2022
A. O. dos Santos
(Bombadas)
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