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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Passagens de outro tempo que de tão espontâneas se tornaram em clássicas

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

O meu irmão mais velho era um tipo que em tudo que lhe acontecia tentava sempre aproveitar o lado humorístico de situação. Assim as situações mais facetas eram vividas e contadas por ele com uma graça que sempre apreciei e que me leva a partilhar convosco as peripécias inauditas que lhe calhou viver.
No tempo da publicação da lei que proibia aos condutores de qualquer veículo a ingestão de álcool, o que ocasionou que a Guarda Republicana se tivesse deslocado massivamente para a Estrada e mandasse parar a maioria da frota automóvel, com o pretexto de fazer com que a lei fosse dura (dura lex sede lex) primeiro porque o capital de todas as multas aplicadas e pagas iria engrossar o Erário Público e dar solvência ao Governo para pagar a féria aos polícias e guardas-republicanos, segundo porque é logo após a publicação das leis que se deve actuar sobre os cidadãos que ainda não a conhecem e assim mais tenderão a esbarrarem na ratoeira.
Pois bem, levantou-se o homem às 06:30 da matina e foi buscar o pessoal para continuar com uns trabalhos que devia acabar em Grandais. O ponto onde devia apanhar os dois homens era na Avenida João da Cruz e quando saiu do carro verificou que os dois operários estavam dentro de um café. Quando entrou logo um dos operários mandou vir um café e um bagaço para ele. Aceitou e depois de beber o mencionado seguiu para o destino. Chegado e depois de deixar os homens a trabalhar regressava à cidade tendo parado quando o dono da obra o viu e lhe gritou que lhe oferecia um café no Abade.
Após as cortesias da praxe veio mais um café e mais um bagaço. Terminado o segundo "round " entrou no carro e conduziu-o até encontrar uma patrulha da GNR que lhe fez alto. Não fez questão de pensar no que ali encontraria, mas ficou surpreendido quando o guarda lhe ordenou que soprasse no balão.
A tentação de encobrir a ingestão de álcool sucumbiu pois seria impossível fazê-lo e o remédio foi inventar uma mentira. Afinal o "crime" não era assim tão nefando.
Logo que conferiu o aparelho de medição, o guarda com ar de condescendência e de acidez corrosiva diz-lhe: - Ainda não são nove da manhã e já acusa álcool que vai para além do permitido. O meu irmão com a maior calma possível retorquiu: - Não admira tal, pois já rezei duas missas e ainda devo rezar mais uma esta manhã. A competente autoridade ficou siderada. Um pouco incrédulo mas receptivo à desculpa proferida com uma convicção absoluta, o guarda pergunta por sua vez: - O Senhor é Padre? Sim e não me é possível exercer o múnus que me compete sem que beba um pouco de vinho fino, que é o culpado desta infracção, aos olhos da lei, mas de capital importância na conclusão de tal ritual católico.
O guarda rendido ordenou: - Siga e que Deus esteja consigo. Daquela vez safou-se.
De outra vez seguíamos para Guimarães na intenção de assistirmos a um jogo de futebol entre o Sporting e o Vitória quando perto de Vila Real somos surpreendidos por uma patrulha da Guarda Republicana que tinha Sargento e nos fez alto. O Duarte Conés ia connosco e como sempre não deixou a fama na mão de alheios e colaborou num exercício de pura influência por actos próprios de jogos de palavras em que uns usam elementos falaciosos para obter a condescendência da parte mais forte que pode decidir o pleito.
O Sargento abre a porta pelo lado de fora, sobe os degraus e levantando a cabeça conta mencionando os algarismos em tom sonante: - Um, dois, três e continuou assim até atingir o número Dez.No mesmo tom de voz disse: - Seguem dez passageiros e a viatura só pode transportar nove. O meu irmão respondeu em tom de desculpa: - Dez não, nove, que aquele que está ali é um chimpanzé que levamos para o deixarmos no Jardim Zoológico. O Conés automaticamente encolheu os ombros fez um esgar de macaco batendo com as palmas das mãos no chão e levantando as pernas flectidas conseguiu fazer rir a plateia e o próprio Sargento da Guarda. Disse então o Sargento: - Se vocês vão ver o Sporting deviam levar um leão, mas como levam um macaco, tenham cautela não salte para cima da baliza e se torne em décimo segundo jogador, que é contra os regulamentos.
A rir, entregou ao meu irmão os documentos e desejou-nos boa viagem recomendando que se fôssemos interceptados por outra patrulha disséssemos que o Sargento tal já nos tinha feito a inspecção respectiva.
Ganhámos 1-0 golo de Peres e o GDB também ganhou nesse domingo e quando soubemos do resultado do Bragança cantámos o (tudo está no seu lugar, graças a Deus, graças a Deus.
São boas recordações que eu compartilho convosco e que hoje ao recordar-me me transportam para um tempo em que todos estavam presentes e hoje só resto eu para recordar. Eles, os mencionados e os omissos eram gente da minha terra, com quem me fiz homem no tempo certo para o ser.



Bragança 17/ 02/2022
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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