Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Os recentes ataques informáticos ao grupo Impresa, à revista Visão, aos Laboratórios Germano de Sousa e, sobretudo, à Vodafone, vieram evidenciar a dependência da tecnologia, nos dias de hoje. É recorrente o clamor contra o enorme poder que as grandes empresas tecnológicas detêm, patenteado, claramente, pelos acontecimentos recentes.
O Facebook, a Amazon e a Google têm sido acusados de serem uma ameaça à liberdade e à democracia e que as operadoras de internet e, ainda mais, as de telecomunicações criaram com os seus clientes e utentes uma dependência crescente tornando-as, cada vez mais, imprescindíveis, ao dia a dia dos cidadãos.
Qualquer uma das multinacionais tecnológicas detém um poder enorme (quiçá exagerado) de influenciar o dia a dia de cada um de nós. Podem, inclusive, condicionar a forma de vida, a maneira de pensar, o modo de julgar, em última análise as escolhas que diária e individualmente fazemos e, até, as opções políticas com que contribuímos para o governo comum. Tal, sobretudo depois da eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos da América, tem vindo a ser exacerbado por vários comentadores e agentes políticos. Seria bom, porém, tentar fazer um juízo justo e ponderado sobre as mais-valias que, indubitavelmente, a tecnologia nos oferece, nos dias que correm e o preço a pagar por elas. E, sobretudo, os que se queixam da exagerada influência que as corporações exercem sobre a opinião dos cidadãos, deveriam deixar de condicionar a análise que cada um deve fazer, em liberdade e sem restrições.
Falando na primeira pessoa, sei bem que as populares aplicações on-line, rastreiam aos meus acessos e navegações na rede, as minhas preferências lúdicas e profissionais, as minhas tele-compras, entre outros dados que, numa análise muito restrita, invadem e diminuem a minha privacidade. Dão-me, em troca, graciosamente, acesso a vários serviços úteis para o meu conforto quotidiano. Para isso disponho-me a ficar exposto à publicidade invasiva e insistente.
A publicidade e o convite ao consumo de comodidades e necessidades, não é de agora. Nem é dos nossos dias a dificuldade em lhe escapar, sobretudo a que nos aparece nas televisões e nos placards da via pública. E dessa, para além da informação específica, útil ou não, nada mais era oferecido como compensação. Pelo contrário o acesso livre e fácil à net é recompensado com a disponibilização graciosa de um serviço de notícias sobre todo o mundo, informações válidas e valiosas (algumas nem tanto, é verdade) sobre várias áreas do conhecimento e do entretenimento e são-me disponibilizados, sem qualquer acréscimo de custo, dicionários e enciclopédias que, no passado, eram caros, mais complicados no uso e necessitavam de atualizações periódicas. Para além disso o uso da tecnologia foi importantíssimo na pandemia para contactar familiares e amigos, bem como para manter a atividade profissional.
Duvido que os pormenores da minha vida encerrem valor parecido, na ótica das gigantes tecnológicas. Soube, recentemente, que um jornal regional digital apregoava a sua independência absoluta do poder local e dos agentes económicos mais poderosos porque a sua popularidade lhe granjeava rendimentos suficientes com a publicidade paga pela Google sem qualquer outra contrapartida.
À escala regional a empresa do Silicon Valey não só não é controladora como, pelo contrário é um agente libertador dos controladores habituais!
José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance), Canto d'Encantos (Contos) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.
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