terça-feira, 1 de março de 2022

TORRE DE MONCORVO DE GENTES COM ALMA DE FERRO

 No âmbito do “Concelho em Destaque”, lançado este ano no Jornal Nordeste, o mês de Fevereiro serviu para ir ao terreno à descoberta de Torre de Moncorvo. Um concelho que damos a conhecer no arranque de Março, já que Fevereiro é um pouco mais pequeno


A Feira Medieval, que volta a acontecer este ano, de 8 a 10 de Abril, o Festival do Solstício, criado em 2015, o Vinho Sabor Douro, em homenagem aos vinhos de excelência da região, e as Festas da Boa Nova, que animam a quadra natalícia, são os eventos âncora deste concelho que carrega uma identidade única, muito além daquilo que se possa escrever.

Donos e senhores da amêndoa

As amendoeiras são das maiores riquezas deste concelho. José Rachado, de 40 anos, reside em Felgar e, hoje em dia, dedica-se exclusivamente à agricultura. Tem 23 hectares de amendoeiras mas, no total, gere 50, entre plantações da mulher e do irmão. O agricultor, que já correu mundo, entregou-se à terra e, apesar de ainda não ter um negócio “rentável”, já que a grande parte são árvores que plantou recentemente e, por isso, ainda não dão amêndoa, está a trabalhar na diferenciação. Ou seja, José Rachado tem as plantações em fase de transição para a agricultura biológica. Já que os californianos conseguem produzir mais e, por isso, a amêndoa é mais barata, acabando por fazer baixar o preço da moncorvense, apostar num fruto biológico parece ser o caminho. 

“Os americanos estão a conseguir produções na ordem dos 2200 a 3000 quilos de miolo por hectare e nós conseguimos apenas cerca de 500 quilos. O mercado está muito influenciado com a entrada desta amêndoa. Claro que há uma nuance, que é a amêndoa biológica, que nós produzimos e os americanos não, e que é paga ao dobro”, assinalou o produtor. José Rachado tem a apanha mecanizada porque é uma forma de tornar o negócio mais lucrativo, quando as árvores estiverem a dar fruto. Mas isto não é assim tão linear. “As árvores começam a produzir em cinco anos, mas, na prática, há problemas com a caça, que atrasam tudo. Muitas vezes temos que estar mais de seis ou sete anos para ver rentabilidade. Este ano deitei abaixo, seguramente, mais de 1500 quilos de amêndoa porque os javalis partiram várias amendoeiras”, assegurou, lamentando que, ainda assim, este nem seja o pior dos problemas. Água precisa-se! “A água é um problema grave. Não temos um bom plano de regadio”, disse o produtor sobre aquela que pensa ser a maior questão a enfrentar. José Rachado considera que os produtores deviam ter mais água para regar e assume que se a tivessem “a produção triplicaria”.

Caminho da amêndoa passa pela diferenciação

Bruno Cordeiro é director da AmêndoaCoop, a Cooperativa Agrícola de Produtores de Amêndoa de Trás- -os-Montes e Alto Douro, composta por 1500 associados de Moncorvo e concelhos limítrofes, tendo sido constituída para valorizar a amêndoa e fazer prosperar a produção. Produção essa que tem vindo a crescer. “São cerca de 6000 hectares entre todos os associados, mas a tendência é aumentar porque todos os anos há agricultores a plantar amendoais”, assegurou o director. Ainda que haja mais plantas e que, por isso, a produção aumente, Bruno Cordeiro confirma as preocupações de José Rachado: “uma das maiores dificuldades é combater a concorrência” pois “os preços são baixos por causa da amêndoa da Califórnia”, onde há produções “muito superiores” por causa do solo, pela quantidade de água que têm para regar e pelo clima. 

Posto isto, o mercado de Moncorvo tem que se basear no americano e “a amêndoa deles, ainda que tenha menos qualidade, serve para a maioria dos fins que são dados ao fruto, que é para fazer palitos e para farinha”. Para se perceber, mais ou menos, as diferenças, basta dizer que os pequenos produtores moncorvenses têm, em média, dois ou três hectares de plantas, já os americanos chegam a ter mil. Quantidade em larga escala significa também amêndoa “mais certinha, seleccionada e toda do mesmo calibre”. Assim, nada mais resta que jogar com o que os outros não têm. “O quilo da amêndoa convencional está a custar, mais ou menos, 3,5 euros. Já a biológica custa cerca de oito. É uma mais valia”, vincou sobre o tal caminho que “compensa” seguir. Refira-se que, “este ano houve um aumento de certificações” e no concelho “já há metade da produção considerada biológica ou em processo de conversão”. Também a falta de água é apontada como uma grande preocupação pelo director da AmêndoaCoop. Alem da amêndoa americana, “já começa a haver grandes plantações no Alentejo e em Espanha” e vão dar mais fruto porque “eles têm água”. “Nós temos amêndoa biológica mas eles têm água”, lamentou Bruno Cordeiro, que já antevê um “ano muito mau” para a produção, por causa da seca que estamos a atravessar. Neste momento, “o défice hídrico ainda não é exagerado” mas as plantas não tardarão em senti-lo.

Amêndoa que adoça a alma

Em Torre de Moncorvo nasce uma das melhores “guloseimas” do distrito: a amêndoa coberta. Para a cobrideira Dina Morais a confecção é um processo “simples mas lento”. A amêndoa, depois de pelada com água a ferver, é torrada e segue para as bacias de cobre, pousadas sobre um fonte de calor, onde é transformada, durante uma semana, cerca de oito horas por dia, com uma calda de açúcar, que tem que estar em ponto de pérola. As amêndoas são regadas com esta calda e mexidas com as mãos, até que o preparado se agarre na totalidade. Depois, são novamente regadas e mexidas. Quanto mais isto se repete com mais “piquinhos” ficam. Parece simples mas “não é um trabalho qualquer”. E segundo a moncorvense, que há 22 anos tem uma “casa” onde se vende muito do que é a identidade do concelho, “só a cobrideira sabe quando a amêndoa precisa de mais ou de menos calor e de açúcar mais fino ou mais grosso”. Diga-se até mesmo que “uma mulher tem que estar muito atenta porque em dez minutos pode estragar uma bacia de amêndoa que rende mais de 500 euros”. 

Dina Morais é, segundo conta, uma das duas cobrideiras que a fazer amêndoa coberta IGP (Indicação Geográfica Protegida) em Moncorvo, mas há mais quem saiba fazer e, por isso, a tradição não estará comprometida, passará a fazer parte do saber de outras mulheres pelos tempos fora. Ela que o diga. Teve outro trabalho, largos anos. Trabalho esse que acabou e, por isso, restou esta alternativa para governar a vida. “Não é muito fácil isto perder-se, há sempre alguém que faz. Eu abri esta loja e vi que ela não seria nada sem a amêndoa e, por isso, agarrei-me de unhas e dentes e aprendi a fazer”, vincou a cobrideira. Muitas pessoas dizem que a Amêndoa Coberta de Moncorvo, que em 2020 a foi considerada uma das 7 Maravilhas Doces de Portugal, chegou ao concelho pela mão dos judeus, mas não se sabe ao certo. O que se sabe é que “é muito boa” e quem vai a Moncorvo tem que a levar, ou então mais vale nem dizer que lá esteve.

Falta de pastores compromete futuro do Queijo Terrincho

É em Torre de Moncorvo, no Larinho, que se situa a Queitec, que compra o leite das ovelhas churras da Terra Quente, a origem do tão afamado Queijo Terrincho, com Denominação de Origem Protegida. Um queijo que grita identidade por tudo que é lado mas que está seriamente comprometido. “Já pensei muitas vezes que, mais ano menos ano, não vamos ter leite para fazer queijo”, são estas as primeiras palavras do director da Cooperativa de Produtores de Leite de Ovinos da Terra Quente. Bruno Cordeiro lamenta o cenário a que assiste. Diz que faz parte da Queitec desde 2011 e que todos os anos vê “criadores a desistir ou a reduzir ao rebanho”. Ora o queijo está assim comprometido porque “os criadores que ainda resistem estão a ficar cada vez mais velhos e, além de ir desistindo, acabam por morrer”, sendo que o mais preocupante é que “não há ninguém a entrar neste sector”. Aliás, “quem é que se sujeita a andar com animais todos os dias? Ninguém”. E, “não tendo rentabilidade elevada não há quem queira quer nisto”. 

A cooperativa é composta por 40 associados, na sua maioria de Moncorvo, mas também os há dos concelhos limítrofes. Os criadores entregam diariamente o leite à cooperativa, que anualmente, em média, produz entre 15 a 18 mil queijos, nas versões curado e velho. Diferenças entre eles? São básicas. “É todo feito da mesma maneira. A única coisa que muda é o tempo de cura. A partir dos 90 dias é considerado um Queijo Terrincho Velho. Até lá, é um Queijo Terrincho”, explicou o director da cooperativa, que vincou ainda que é conveniente terem poucos ou nenhuns velhos porque significa que os outros se conseguiram vender. Ainda que o grande problema seja o facto de daqui por uns anos não restarem nem ovelhas nem pastores, por agora o maior lamento é não ter como aumentar à produção do queijo. “Não temos matéria-prima. Talvez haja 150 criadores mas estão espalhados por Macedo de Cavaleiros e por Mirandela e era muito dispendioso fazer as recolhas”, terminou Bruno Cordeiro sobre os queijos que “são vendidos para todo o país” mas que, apesar da qualidade, não os há para exportar.

Peixe que não falte na Foz do Sabor porque ainda há quem queira pescar

É em Torre de Moncorvo que se situa a última aldeia piscatória de Trás-os-Montes, a Foz do Sabor. E é também aqui que se pode visitar uma das praias fluviais mais icónicas da região, que reúne condições únicas para desportos náuticos e lazer. Situa-se precisamente onde o rio Sabor desagua no Douro, permitindo uma paisagem rica. Bem, de volta à pesca... pescadores, por ali, contam-se pelos dedos de uma mão... e podiam ser todos homens, dada a força que é preciso para puxar as redes? Podiam, mas não era a mesma coisa. Maria Gomes, de 61 anos, é do Felgar, vive na Foz do Sabor há quatro décadas, e é a única mulher a pescar. Não percebia nada do assunto mas não tardou em perceber. Foi o marido, que já era e ainda é pescador, que lhe ensinou o que sabe. “Não é preciso tirar curso nenhum. Só não sei nadar mas levo o colete e pronto, está tudo bem”, explicou. Foi na Foz do Sabor, onde se pescam barbos, alburnos, carpas, lúcio-real, gardon e até peixe-gato, que a pescadora criou os filhos e aquele que, quase de certeza, será a garantia que a pesca ali não morre para já. “Tenho um neto que é fascinado por isto. Criei-o desde os nove meses. Acordava-o, de madrugada, e levava-o comigo. Fazia-lhe a caminha na traseira do barco e ele lá ia. Foi criado nisto, está certo que adora a arte”, explicou sobre rapaz, de 21 anos, que agora está na Suíça, onde “podia ganhar bem, mas não quer”.

O jovem, que tem ideias de seguir as pisadas dos avós e se se entregar à pesca tem por certo que no Verão acordará cedo, porque às quatro da manhã, o mais tardar, levantam-se as redes. No Inverno dorme-se mais. “Como está muito frio vamos por volta das oito da manhã, até por causa das geadas”, contou a avó, que, enquanto o neto vem e não vem, ajuda o marido a pescar e a vender o peixe, tanto para cafés/restaurantes como para feiras, em Moncorvo, na Mêda e em Carrazeda de Ansiães.

O peso do ferro

É em Torre de Moncorvo que se situa a maior jazida de ferro do país e a segunda maior de toda a Europa. O minério, que já foi explorado em Moncorvo, noutros tempos, chegou a ser motivo para empregar centenas de pessoas. A exploração, no entanto, foi suspensa em 1983, com a falência da Ferrominas, e agora, ao fim de 38 anos, foi retomada, em Março de 2020, no cabeço da Mua. Apesar das tentativas de contacto, até ao fecho desta edição, a empresa britânica que detém a concessão da exploração, a Aethel Mining, não se mostrou, de todo, disponível para falar. Assim, algumas questões ficam por clarificar, nomeadamente a dinâmica laboral neste momento, quantas toneladas são extraídas por dia e para que fins e até mesmo quantas pessoas ali trabalham. Ainda assim, sabe-se que, segundo algumas notícias de 2020, que a Aethel Mining estimava ali investir 550 milhões de euros, nos próximos 60 anos. 

Numa altura em que os investimentos se estimavam em contos e não em euros, em Moncorvo trabalhou Alves Costa. “Ganhei a minha vida em Moncorvo”, salientou o engenheiro que chegou a entregar as indemnizações aos últimos trabalhadores, quando tudo acabou. Segundo contou, a primeira fase do projecto, que arrancou em 1956 e que durou até 1972, chegou a empregar 1800 pessoas, com experiência no assunto e vindas de lugares como a Panasqueira. Depois, nos finais do anos 60 “houve um atraso muito grande no pagamento dos salários” e “a empresa foi comprada pelo empresário António Champalimaud, tendo sido postos em dia os pagamentos”. Foi aqui, neste retomar de projecto, que Alves Costa trabalhou, numa altura em que ali também laboravam 130 pessoas, sendo que mais de cem eram do concelho. Dali, só naquela altura, saíram, pelo menos, 90 mil toneladas para reconstruir o molhe de Sines, que tinha ficado destruído num temporal. Para Sines seguiram também, depois, ainda outras 60 mil toneladas. E para fazer os molhes da Foz do Douro foram, no total, 130 mil. “O que se está a fazer agora já nós fizemos”, terminou, dizendo que espera que a exploração sirva para mais que o fornecimento que, alegadamente, está a ser feito para o porto de Leixões, caso contrário não durará muito mais. 

A herança judaica

Moncorvo tem uma importante tradição judaica desde o século XIV. No século à frente a vila foi até mesmo definida uma das sete sedes de ouvidoria autónoma (regiões com administração judicial e civil) existentes em Portugal, tutelando Trás-os-Montes. Mesmo após a expulsão dos judeus do reino, Moncorvo continuou a fazer notar a sua importância tornando- -se um dos mais importantes centros cripto-judeus do Norte do país. Para celebrar tudo isto, abriram dois espaços, na vila, no ano passado: a casa que a tradição relaciona com a Inquisição e o Centro de Estudos Judaicos, onde há uma série de objectos que representam esta identidade, nomeadamente as lanternas do azeite, usadas aos sábados, o dia por excelência das suas celebrações, o alforges, já que muitos moncorvenses eram mercadores, e a amêndoa coberta, que terá tradição judaica. Neste centro de estudos, situado onde se crê que era a sinagoga, começa também a rota dos judeus, criada há dois anos pela câmara. Terminando depois na casa que a tradição relaciona com a Inquisição, esta passa por vários pontos que se afiguram “relevantes” sob o ponto de vista da história. Segundo Rui Leonardo, arqueólogo da câmara, a Rua dos Sapateiros, que mostra a relação dos judeus com as actividades e ofícios, e a casa onde nasceu Violante Gomes, a mãe de D. António, Prior do Crato, são bons exemplos do que há para descobrir. Dado o peso do tema, a ideia é contar mais sobre as práticas religiosas e tradições, “tudo com base na documentação recolhida nos processos da Inquisição e nas informações que vão sendo passadas de geração em geração”. E história não falta. 

Além da amêndoa coberta, com assinatura dos judeus, em Moncorvo, pensa-se que restem também a alheira e a produção de cera, na aldeia de Felgueiras, onde ainda há um lagar. “Tudo indica que a aldeia seria um sítio por excelência para eles se esconderem. É o que mostra a fisionomia das pessoas, as tradições e orações lá recolhidas, bem como o facto estar isolada num sítio remoto no meio da serra”, vincou Rui Leonardo. Moncorvo “sempre teve uma grande pujança económica, fruto da sua centralidade e do seu controlo da barca do rio Douro para as beiras”. O arqueólogo considera que estes aspectos também tornaram a terra muito importante, a par do contributo, a nível comercial dos judeus, que também foram responsáveis pelo cultivo do cânhamo no Vale da Vilariça. No concelho, onde “aparece muita gente interessada no tema”, porque “há muitos descendentes de judeus espalhados pelo mundo” que “investigaram as suas origens e sabem que têm antepassados em Moncorvo”, há cinco localidades que têm marcas fortes desta presença: Felgueiras, Açoreira, Felgar, Castedo e Vale da Vilariça.

A igreja que é basílica e que era para ser catedral

Um dos maiores símbolos de Moncorvo é a Basílica Menor. A sua construção começou na primeira metade do século XVI e só terminou no seguinte. É dedicada a Nossa Senhora da Assunção, a padroeira da vila, e, até há bem pouco tempo, quando ainda era igreja, era tida como uma das maiores do país. O Papa Francisco concedeu o título de Basílica Menor à igreja matriz de Torre de Moncorvo em Janeiro. O decreto da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos reconheceu a importância do templo religioso na acção pastoral, litúrgica e espiritual, bem como o seu valor patrimonial e arquitectónico. D. José Cordeiro, arcebispo de Braga, que foi, nos últimos anos, bispo da Diocese de Bragança-Miranda, dizendo que o título “foi uma bela surpresa”, assumiu que este “é um tributo” a São Bartolomeu dos Mártires, que foi arcebispo de Braga e bispo no que é hoje arcebispado de Moncorvo. “Ele tinha pensado fazer daquela igreja uma catedral e criar, neste território, uma diocese. Eu penso que com este gesto simbólico se concretizou esse sonho”, afirmou. E é verdade. É tão grande justamente por isso mesmo. Queria-se que fosse catedral. 

Ora veja-se. Segundo Nélson Campos, historiador de Moncorvo e membro da Direcção Regional de Cultura do Norte (DRCN), naquela altura, seria preciso constituir uma diocese para o interior transmontano, sendo que já se tinha visto que arquidiocese de Braga servia um território imenso, nomeadamente o nosso. “Naquela altura também se tinha dado a expulsão dos judeus de Espanha. Convertidos em cristãos-novos, queria evangelizar-se mais as pessoas”, confirmou. Ainda assim, apesar da tentativa, sendo que Freixo de Espada à Cinta também deu passos nesse sentido, D. João III decidiu que a diocese seria em Miranda do Douro. Refira-se que, neste momento, num investimento superior a 200 mil euros, a DRCN está ali a realizar obras. Prevê-se reabilitar o edificado, restaurar o espólio artístico, melhorar as condições de acessibilidade e visita e, nesta primeira fase, restaurar as pinturas murais da capela-mor.

Pedem visita...

A Ermida de Nossa Senhora da Teixeira, um antigo eremitério do século XVI, classificada como Imóvel de Interesse Público, é um dos pontos de passagem obrigatória. Tem um exterior muito sóbrio, mas ninguém imagina os frescos que ali estão mais escondidos. São cerca de 40 painéis, cenas que retratam pontos dos evangelhos, desde a anunciação a Nossa Senhora, à última ceia. No fundo, as pessoas não sabiam ler nem escrever e o ermita que a construiu, Jordão do Espirito Santo, que não era dali natural, tentava instruir através da imagem. Diz-se que este terá ido a Roma sete vezes, à capela sistina, e que quis replicar aqui, à micro escala, as pinturas de Miguel Ângelo. Os frescos foram reabilitados recentemente, através do proprietário, da Associação de Defesa do Património, do município, do Estado e da DRCN. 

A não perder são também dois museus: o do Castelo e o do Ferro. O primeiro dá a conhecer as estruturas, materiais e informações sobre o que foi o castelo, recolhidas no âmbito dos trabalhos arqueológicos, entre 1988 e 2018. Estes trabalhos centraram-se nas escavações ao que resta do castelo medieval, um espaço que foi deitado abaixo depois de perder funções militares, no século XIX, segundo Nélson Campos. Já o Museu do Ferro, do qual o historiador é director, destina-se a divulgar o património arqueológico e industrial do território, dos povoados e das comunidades que se formaram nas cercanias da serra do Reboredo e do Vale da Vilariça, com particular destaque para as actividades relacionadas com a exploração do ferro. 

Pesca desportiva tem impacto na economia de Torre de Moncorvo

A pesca desportiva é já um factor de atracção turística a Torre de Moncorvo. Todos os fins-de-semana, a Albufeira do Baixo Sabor recebe praticantes de pesca de vários pontos do país, e até do estrangeiro, que se preparam para provas nacionais e internacionais. O impacto no turismo e na economia do concelho é grande. Numa passagem de dois a três dias, um fim-de-semana, por exemplo, a pesca desportiva injecta cerca de 50 mil euros em Torre de Moncorvo. Ganha a hotelaria, a restauração, o comércio, sobretudo ligado ao sector da pesca, os supermercados ou postos de combustível. “Numa prova nacional, por exemplo, temos cerca de 35 barcos, são 70 participantes ao todo. Tentámos fazer as contas para perceber quanto estas pessoas deixam por fim-de-semana numa prova de pesca embarcada e pode chegar aos 50 mil euros”, destacou Francisco Morais, da direcção do Clube de Caça e Pesca de Torre de Moncorvo e director da Norbass. E como para ser bom pescador é preciso treinar, os participantes deslocam-se para Torre de Moncorvo vários vezes antes da prova, acabando por ter também o seu peso na economia local. Há seis anos que Moncorvo recebe provas da Norbass e nacionais. E 2021, os Lagos do Sabor foram palco do Campeonato Nacional de Pesca Embarcada ao Achigã da Bass Nation, que atraiu participantes de várias zonas do país e do estrangeiro, nomeadamente de França, Itália e Espanha. Mas, as grandes competições estão agendadas para o próximo mês de Novembro e Outubro de 2023. 

Nos dias 11, 12 e 13 de Novembro Torre de Moncorvo recebe a primeira edição do Campeonato do Mundo de Pesca em Kayak ao Achigã. É uma prova especial por se tratar de uma estreia. São esperados cerca de 60 participantes dos quatro cantos do mundo. “Já temos dez nações inscritas e cada uma traz mais ou menos 60 participantes. Já estão confirmados participantes do México, África do Sul, Estados Unidos da América, França, Portugal e Itália”, adiantou Francisco Morais. E para termos ideia da dimensão destas provas e da sua importância saiba que “a equipa dos Estados Unidos é profissional e arrasta para as competições as revistas da especialidade, as televisões e vários bloguers”, destacou. Outra grande competição agendada para a Albufeira do Baixo Sabor, é Torre de Moncorvo, é o Campeonato do Mundo de Pesca Embarcada ao Achigã em Outubro de 2023, que também, vai contar com participantes de vários países. E para acolher os grandes eventos é necessário cumprir vários requisitos, para além de os Lagos do Sabor reunirem condições de excelência para a pesca. “Temos que atender a uma série de exigências impostas pela Federação Internacional de pesca, como alojamento, restaurantes, local de entrega de prémios”. 

O apoio do Município de Torre de Moncorvo é “importantíssimo” na promoção das iniciativas e na criação de condições para as receber. “O Município tem sido fantástico. A pesca desportiva é um cartão-de-visita de Moncorvo e o seu principal desporto”, afirmou. E antes das provas mundiais, o concelho do sul do distrito de Bragança recebe o Campeonato Nacional de Pesca Embarcada ao Achigã já nos próximos dias 28 e 29 de Maio.

Susana Madureira

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O presidente

Nome completo: Nuno Jorge Rodrigues Gonçalves
Idade: 50 anos
Tempo de mandato: Outubro de 2013 - terceiro mandato
Profissão: Advogado

Porque é que se candidatou a presidente da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo?

Candidatei-me a Presidente da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, porque senti que tinha um projecto de Politica Positiva para o Concelho. Obviamente que essa candidatura aparece no seguimento de todo o percurso politico que fui fazendo ao longo da minha vida e por sentir necessidade de acabar um projecto iniciado em 2013 e lançar pontes para 2025.

Como é ser presidente da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo?

Ser Presidente da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo é, acima de tudo, um privilegio, por poder presidir um município com tantas potencialidades e com pessoas com uma alma de ferro. No entanto, este é um papel de muita responsabilidade e exigência, devido aos desafios que enfrentamos diariamente.

Quais são os maiores desafios enquanto autarca?

Um dos maiores desafios, é ser autarca no interior do país, onde muitas vezes somos esquecidos e não ouvidos pelo poder central. Outro dos desafios é a dificuldade em combater a desertificação do território. Mesmo com todas as dificuldades é fundamental trabalhar no sentido de melhorar a qualidade de vida dos moncorvenses. Torre de Moncorvo não se define como um município de baixa intensidade, mas sim como um município de alta intensidade, pela capacidade de resiliência da sua população.

Jornalista: Carina Alves

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