quinta-feira, 14 de abril de 2022

A casa da Mãe

  “Quando se perde a mãe é a última porta que se fecha…
A família se espalha, ela era o último elo que unia nos aniversários, 
Natais e outras festas familiares. 
Uma vez que a matriarca fecha os olhos. Tudo muda. Tudo se perde …
A casa da mãe é o único lugar onde se entra sem pedir licença, 
come-se sem ser convidado e ela tem um amor que nenhum outro 
ser tem…”

Por: Maria dos Reis Gomes
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)

Li recentemente este pensamento, na página de uma amiga e mesmo não sabendo a sua origem tocou-me de uma forma muito particular. E hoje, ao escrever nesta quinta-feira de Páscoa, os rituais da época, na família alargada, inundaram a minha memória. 
A comemoração da Páscoa ia muito para além da produção dos folares num ritual que era pensado atempadamente. Desde pequena que a minha mãe me chamava a colaborar nestas tarefas. A começar pela elaboração da lista dos “ felizes contemplados” com o produto final, à organização das diferentes etapas que se concluíam com a marcação do dia e hora da cozedura dos mesmos, no forno da Srª Antónia na Estacada.
 A escolha primorosa de todos os produtos era exclusiva da minha mãe. Já no dia da confeção era eu que partia os ovos um a um, primeiro para uma tigela… não fosse aparecer um ou outro menos fresco a estragar a quantidade já selecionada. As misturas da farinha do fermento, dos ovos, da manteiga e do azeite, assim como o amassar, era atividade exclusiva da minha mãe. A benzedura também. Depois havia que untar as latas e distribuir os produtos. Etiquetar as formas e ajudar no transporte para o forno no que eu também colaborava.
Todo este ritual está “fotografado” na minha memória e invade-me uma saudade enorme deste tempo, dos cheiros e das pessoas com quem se tagarelava enquanto a cozedura acontecia.
No domingo de Páscoa era “a festa” que incluía o estrear de roupa nova, a missa, os sinos que ecoavam a aleluia, a espera da Cruz, o passeio familiar e a merenda que incluía o “manjar“ preparado e finalmente o “jogo do cântaro”!. 
 Os anos passaram e os tempos mudaram. O conceito de família e o equilíbrio da mesma prende-se mais com razões de trabalho/carreira, oportunidades de vivência num espaço global e/ou opções individuais. 
Por inércia ou incapacidade de conjugar vontades é agora mais difícil fazer acontecer as celebrações que nos faziam tão felizes.
Volto assim à “casa da mãe…” onde se entrava sem pedir licença, onde se comia sem ser convidado, onde se juntava a família alargada e jubilávamos com as crianças que iam aumentando a prole …. 
Um profundo bem haja à minha Mãe e ao meu Pai.

Maria dos Reis Gomes – 14 de Abril de 2022

Maria dos Reis Gomes
, nascida e criada em Bragança.
Estudou na Escola do Magistério Primário em Bragança, no Instituto António Aurélio da Costa Ferreira em Lisboa e na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação no Porto, onde reside.
Sempre focada no ensino e na aprendizagem de crianças com NEE (Necessidades Educativas Específicas) leccionou no CEE (Centro de Educação Especial em Bragança). Já no Porto integrou o Departamento de Educação Especial da DREN trabalhando numa perspetiva de “ escola para todos, com todos na escola). Deu aulas na ESE Jean Piaget e ESE Paula Frassinetti no Porto.
A escola, a educação e a qualidade destas realidades, são os mundos que me fazem gravitar. Acredito que, tal como afirmou Epicteto “ Só a educação liberta”. Os meus escritos procuram reflectir esta ideia filosófica.

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