terça-feira, 24 de maio de 2022

GRANIZO ARRASA PRODUÇÃO DE MAÇÃ EM MUITOS POMARES DE CARRAZEDA DE ANSIÃES

 Não se sabe qual a quantidade de fruto que vai desenvolver-se e o que não vai vingar, mas os produtores esperam que as perdas de rendimento se situem entre 50% a 60%


Depois da forte trovoada queda de granizo no passado dia 14, que afectou pelo menos quatro aldeias do concelho de Carrazeda de Ansiães, que concentram muitos hectares de pomares do concelho: Fontelonga, Selores, Belver e também em Carrazeda. 10 minutos de intempérie provocaram perdas avultadas atingindo cerca de 90% da área. “O granizo caiu com uma intensidade fora do normal no concelho de Carrazeda de Ansiães, tinha o tamanho de azeitonas e algum até maior e com muita velocidade porque vinha acompanhado por vento bastante forte. 

Terá afectado seguramente cerca de 90% da área do concelho e em termos de cultura terá afectado mais de 90% da produção onde caiu”, afirma Luís Vila Real, presidente da Associação dos Fruticultores, Viticultores e Olivicultores do Planalto de Ansiães (AFUVOPA), depois de técnicos da associação terem percorrido os pomares da zona afectada. Os produtores antecipam já prejuízos bastante avultados, visto que a qualidade da maçã, que estava a começar a crescer, ficou comprometida. “As perdas são enormes, há quebras de qualidade, seguramente mais de 50% do rendimento do ano já está comprometido, aquilo que fica é fruta residual para a indústria”, lamenta. A maçã é ainda bastante pequena e estava a começar a crescer, no entanto, “há frutas cortadas e outras com toques muito profundos que tornam a fruta irrecuperável, porque os grandes armazenistas e o consumidor querem fruta de primeira qualidade, o que neste momento já não é possível produzir, com toques de granizo vai ser rejeitado na sua grande maioria”, assegura. 

O destino da fruta será a indústria para transformação, como concentrado de maçã ou farinhas para papas, o que implica “uma perda bastante acentuada do rendimento dos agricultores”, já que o valor comercial é muito mais baixo. Perante a seca e o aumento dos custos de produção este é um cenário que veio ainda tornar a situação ainda mais difícil. “Se pensarmos no aumento do preço das matérias primas, as pessoas contam com as produções para fazer face a essas despesas, quando já estão comprometidas no início da campanha tornam as coisas extremamente difíceis para toda a gente”, afirmou. E os fruticultores estão a ser aconselhados a aplicar tratamentos nas macieiras para atenuar os prejuízos, o que vem aumentar ainda mais os custos. 

Apesar de a grande maioria dos produtores de maçã no concelho ter seguros de colheita, a verdade é que o modelo ficar aquém das necessidades dos agricultores. “Da forma como actualmente o sistema de seguros está desenhado, não está a servir os interesses dos agricultores. O seguro é apenas uma válvula de escape, porque não permite cobrir grande parte dos prejuízos, porque está limitado a cerca de 30 toneladas por hectare e a um preço na ordem dos 25 cêntimos por quilo, o que não vai cobrir nem metade do prejuízo que estamos a equacionar ter. Da maneira que está interessa a todos menos ao agricultor. Tem franquias muito elevadas, o valor mínimo indemnizável só a partir de 20%. Além disso, quando é apurado o valor da indeminização, só é pago 80% desse valor”, sublinha. Apesar de elementos da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte terem também verificado in loco os pomares, não deverá haver apoios do ministério já que não é esse o procedimento habitual quando os produtores têm seguros. Duarte Borges tem pomares de macieiras e cerejeiras na zona da Fontelonga e também foram afectados. “Tive prejuízos nas maçãs e na cereja. A cereja ficou totalmente danificada porque já estava com o calibre bastante grande e ficou pouca, quase nada se pode aproveitar”, afirmou. O produtor explica que desde que tem a exploração há 15 anos apenas num ano registou problemas em relação ao granizo, “mas não com esta severidade”. “É bastante desanimador, estamos já a meio da campanha, com muita despesa feita e que tem sido uma campanha com custos de produção muito elevados e com a incerteza do preço da fruta é bastante desanimador isto acontecer nesta altura”, afirrma.

Aposta na cultura cresceu, mas margens de lucro são reduzidas

O sector enfrenta também dificuldades relacionada com a mão-de-obra que segundo Luís Vila Real é “cara e deixa muito a desejar”. Tendo em conta as dificuldades e o baixo preço pago aos produtores “está comprometida a vida de muita gente”, afirma o presidente do AFUVOPA. “Já o ano anterior, apesar de ter sido um ano de superprodução, foi de pouco rendimento, porque o produto foi pago a preço um muito baixo”. O escoamento é feito pelos grandes armazenistas, que estão ligados às grandes superfícies comerciais e que “fazem um pouco o que bem entendem, porque, embora o produto apareça no consumidor final a preços exorbitantes e este possa pensar que o produtor vai ficar com uma grande maquia do valor, isso não é a realidade”, refere o também produtor de maçã. Houve uma forte aposta na cultura da maçã no concelho entre o ano 2000 a 2015, mas desde aí a produção tem vindo a estabilizar. 

O concelho de Carrazeda de Ansiães tem, actualmente, cerca de 800 hectares de pomares de macieiras instalados, que produzem entre 25 mil e 30 mil toneladas de maçã por ano. Aproximadamente 60% pertencem aos 250 sócios da AFUVOPA.

Jornalista: Olga Telo Cordeiro

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