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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 22 de junho de 2022

O escritor Campos Monteiro – uma revisitação

Reli aspetos da obra “Cultura – Tudo o que é preciso saber”, de Dietrich Schwanitz, ensaísta alemão (1940). O título parece-me excessivo, como se fosse possível envolver “tudo sobre cultura”, porque o fenómeno cultural é multivariado, popular ou erudito. Schwanitz faz uma viagem por diversos fenómenos da cultura europeia, por vezes muito documentado, outras com pincelando, outras esquecendo os contributos de portugueses que ousaram conhecer e espalhar culturas pelo Mundo. Não há despeito, mas, geralmente, somos esquecidos pela grandiloquência dos grandes nomes. Esta breve nota vem a propósito do que fora incumbido pelo honroso convite do Sr. Presidente da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo (CMTM), Dr. Nuno Gonçalves: apresentar uma curiosa obra do escritor moncorvense Campos Monteiro – O Médico-peçonha. O Presidente, que detém o pelouro da Cultura, acertou com a Lema d’Origem, editora de Carviçais, a reedição, em português atual, de nove obras deste escritor para serem apresentadas, uma por mês, por um cidadão.
Aprouve-me dedicar algumas horas de leitura a esta obra, que não conhecia. Lera Saúde e Fraternidade, Moeda corrente, Versos fora de moda, Contra a maré, As Duas Paixões de Sabino Arruda, das mais de quarenta que o prolixo escritor produziu. Para melhor o conhecer, folheei a tese de mestrado “Campos Monteiro – Domus meus est orbis meus”, de José Ricardo, documento bibliográfico, a que foi atribuído, merecidamente, o prémio Douro ensaio 2009.
De novo, pus-me a refletir sobre o que é cultura. Ora, cultura é exatamente este ato promovido pela CMTM: reviver memórias, dar-lhes corpo, divulgá-las para conhecimento do escritor.
Campos Monteiro (19876-1933) foi médico (major-médico), monárquico obstinado (foi deputado pelo partido monárquico), escreveu «romances, contos, novelas, crónicas, prefaciou livros, monografias, traduziu obras, anotou e parafraseou os Lusíadas... Os seus escritos jornalísticos são combates político-ideológicos», como refere José Ricardo. Oliveira Marques, historiador, afirmou, segundo o bibliógrafo: «O prestígio de Campos Monteiro levou na época a que fosse considerado porta-estandarte das boas letras portuguesas», acrescentando: «O Abade de Baçal equiparava-o a Camilo Castelo Branco e a Guerra Junqueiro».
O Médico-peçonha é um livro de 1926 contra um médico – um tal Dr. Rita Martins – que escreveu, nessa época, de forma indigna e antiética, “A Água-veneno”, um panfleto dado à estampa contra as águas mineromedicinais. Despeitado, porque deposto de diretor adjunto das termas do Gerês, Rita Martins apelidou de tafonas e impuras, as águas geresianas. Criticou os médicos que prescreviam estas águas, e elencou, falsamente, doentes que terão padecido em vez de curado. Campos Monteiro não perdoou: criticou vigorosamente, numa linguagem cáustica: «O Sr. Rita Martins é um profissional sem dignidade, um charlatão como homem da ciência, um cidadão vingativo», juntando: «Só escrevi este livro, porque ele, Rita Martins, escreveu um que me enojou».
Na verdade, este nosso escritor, conhecedor profundo do panorama sanitário, e fervoroso termalista, rebelou-se sempre contra os costumes decadentes, o oportunismo, a malvadez, a ignorância, a anti-ciência. Vale a pena ler Campos Monteiro. Certamente, a CMTM oferecerá algumas obras às bibliotecas municipais do Distrito.

Paulo Cordeiro Salgado

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