Reli aspetos da obra “Cultura – Tudo o que é preciso saber”, de Dietrich Schwanitz, ensaísta alemão (1940). O título parece-me excessivo, como se fosse possível envolver “tudo sobre cultura”, porque o fenómeno cultural é multivariado, popular ou erudito. Schwanitz faz uma viagem por diversos fenómenos da cultura europeia, por vezes muito documentado, outras com pincelando, outras esquecendo os contributos de portugueses que ousaram conhecer e espalhar culturas pelo Mundo. Não há despeito, mas, geralmente, somos esquecidos pela grandiloquência dos grandes nomes. Esta breve nota vem a propósito do que fora incumbido pelo honroso convite do Sr. Presidente da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo (CMTM), Dr. Nuno Gonçalves: apresentar uma curiosa obra do escritor moncorvense Campos Monteiro – O Médico-peçonha. O Presidente, que detém o pelouro da Cultura, acertou com a Lema d’Origem, editora de Carviçais, a reedição, em português atual, de nove obras deste escritor para serem apresentadas, uma por mês, por um cidadão.
Aprouve-me dedicar algumas horas de leitura a esta obra, que não conhecia. Lera Saúde e Fraternidade, Moeda corrente, Versos fora de moda, Contra a maré, As Duas Paixões de Sabino Arruda, das mais de quarenta que o prolixo escritor produziu. Para melhor o conhecer, folheei a tese de mestrado “Campos Monteiro – Domus meus est orbis meus”, de José Ricardo, documento bibliográfico, a que foi atribuído, merecidamente, o prémio Douro ensaio 2009.
De novo, pus-me a refletir sobre o que é cultura. Ora, cultura é exatamente este ato promovido pela CMTM: reviver memórias, dar-lhes corpo, divulgá-las para conhecimento do escritor.
Campos Monteiro (19876-1933) foi médico (major-médico), monárquico obstinado (foi deputado pelo partido monárquico), escreveu «romances, contos, novelas, crónicas, prefaciou livros, monografias, traduziu obras, anotou e parafraseou os Lusíadas... Os seus escritos jornalísticos são combates político-ideológicos», como refere José Ricardo. Oliveira Marques, historiador, afirmou, segundo o bibliógrafo: «O prestígio de Campos Monteiro levou na época a que fosse considerado porta-estandarte das boas letras portuguesas», acrescentando: «O Abade de Baçal equiparava-o a Camilo Castelo Branco e a Guerra Junqueiro».
O Médico-peçonha é um livro de 1926 contra um médico – um tal Dr. Rita Martins – que escreveu, nessa época, de forma indigna e antiética, “A Água-veneno”, um panfleto dado à estampa contra as águas mineromedicinais. Despeitado, porque deposto de diretor adjunto das termas do Gerês, Rita Martins apelidou de tafonas e impuras, as águas geresianas. Criticou os médicos que prescreviam estas águas, e elencou, falsamente, doentes que terão padecido em vez de curado. Campos Monteiro não perdoou: criticou vigorosamente, numa linguagem cáustica: «O Sr. Rita Martins é um profissional sem dignidade, um charlatão como homem da ciência, um cidadão vingativo», juntando: «Só escrevi este livro, porque ele, Rita Martins, escreveu um que me enojou».
Na verdade, este nosso escritor, conhecedor profundo do panorama sanitário, e fervoroso termalista, rebelou-se sempre contra os costumes decadentes, o oportunismo, a malvadez, a ignorância, a anti-ciência. Vale a pena ler Campos Monteiro. Certamente, a CMTM oferecerá algumas obras às bibliotecas municipais do Distrito.
Aprouve-me dedicar algumas horas de leitura a esta obra, que não conhecia. Lera Saúde e Fraternidade, Moeda corrente, Versos fora de moda, Contra a maré, As Duas Paixões de Sabino Arruda, das mais de quarenta que o prolixo escritor produziu. Para melhor o conhecer, folheei a tese de mestrado “Campos Monteiro – Domus meus est orbis meus”, de José Ricardo, documento bibliográfico, a que foi atribuído, merecidamente, o prémio Douro ensaio 2009.
De novo, pus-me a refletir sobre o que é cultura. Ora, cultura é exatamente este ato promovido pela CMTM: reviver memórias, dar-lhes corpo, divulgá-las para conhecimento do escritor.
Campos Monteiro (19876-1933) foi médico (major-médico), monárquico obstinado (foi deputado pelo partido monárquico), escreveu «romances, contos, novelas, crónicas, prefaciou livros, monografias, traduziu obras, anotou e parafraseou os Lusíadas... Os seus escritos jornalísticos são combates político-ideológicos», como refere José Ricardo. Oliveira Marques, historiador, afirmou, segundo o bibliógrafo: «O prestígio de Campos Monteiro levou na época a que fosse considerado porta-estandarte das boas letras portuguesas», acrescentando: «O Abade de Baçal equiparava-o a Camilo Castelo Branco e a Guerra Junqueiro».
O Médico-peçonha é um livro de 1926 contra um médico – um tal Dr. Rita Martins – que escreveu, nessa época, de forma indigna e antiética, “A Água-veneno”, um panfleto dado à estampa contra as águas mineromedicinais. Despeitado, porque deposto de diretor adjunto das termas do Gerês, Rita Martins apelidou de tafonas e impuras, as águas geresianas. Criticou os médicos que prescreviam estas águas, e elencou, falsamente, doentes que terão padecido em vez de curado. Campos Monteiro não perdoou: criticou vigorosamente, numa linguagem cáustica: «O Sr. Rita Martins é um profissional sem dignidade, um charlatão como homem da ciência, um cidadão vingativo», juntando: «Só escrevi este livro, porque ele, Rita Martins, escreveu um que me enojou».
Na verdade, este nosso escritor, conhecedor profundo do panorama sanitário, e fervoroso termalista, rebelou-se sempre contra os costumes decadentes, o oportunismo, a malvadez, a ignorância, a anti-ciência. Vale a pena ler Campos Monteiro. Certamente, a CMTM oferecerá algumas obras às bibliotecas municipais do Distrito.
Sem comentários:
Enviar um comentário